Na manhã da última segunda-feira, dia 6, o deputado federal e pré-candidato à Prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL), esteve no Círculo de Trabalhadores de Vila Prudente e concedeu entrevista à Folha. Ele esteva acompanhado da deputada federal Juliana Cardoso (PT) e da pré-candidata à vereadora Vanilda Anunciação (PT). Foram recebidos pelo presidente do Círculo e da Folha, Newton Zadra, e demais diretores da entidade.
Com a capital paulista vivendo o mais longo apagão energético da sua história e dezenas de árvores caídas pelas ruas, Boulos afirmou que “é uma vergonha que a maior cidade do Brasil, a mais rica da América Latina, fique mais de quatro dias sem energia. Não tem justificativa”. O problema ainda se estendeu por mais dois dias. “A primeira coisa é a responsabilidade da Enel, que reduziu em 36% o número de funcionários, além do fechamento dos escritórios regionais, e isso piora o atendimento. Também não fez os investimentos adequados, então cabe cobrar a ARSESP (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), que não fiscalizou a Enel. Existe ainda a responsabilidade do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que não cumpriu a meta de enterrar 65km de fios por ano. Mesmo com 35 bilhões em caixa, o prefeito também não manteve o serviço de poda de árvores em dia”, lista. “Vamos para cima de todos, precisamos saber quem vai pagar pelo prejuízo da população”.
O deputado federal defende ainda outro debate urgente sobre o ocorrido nos últimos dias. “Esse tipo de situação, de eventos climáticos extremos, será cada vez mais frequente e precisamos estar preparados. Fui relator de um projeto na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara, para criar um plano para as cidades brasileiras se adaptarem a fenômenos como esse”.
O programa de recapeamento da Prefeitura foi outro tema abordado. “Quando o prefeito finalmente resolveu tocar obra em São Paulo, está fazendo de forma mal feita e com suspeita. Refizeram vias que estavam com asfalto bom, como a Anhaia Mello, aqui na região. No meu bairro, em Campo Limpo, aconteceu a mesma coisa. As grandes avenidas ganharam recapeamento e as ruas do miolo estão com buracos fazendo aniversário. E o Tribunal de Contas do Município já emitiu um alerta de superfaturamento de quase 10% no valor do asfalto”, completa Boulos.
Sobre um dos problemas que mais aflige os paulistanos atualmente, a verticalização desenfreada, o deputado foi categórico: “o prefeito vendeu São Paulo para as grandes construtoras”. “Isso não está acontecendo somente aqui na região da Vila Prudente e da Mooca, acontece no Centro Expandido inteiro e em boa parte da cidade”, acusa. “O Fernando Haddad (PT), durante sua gestão na Prefeitura, aprovou um Plano Diretor para estimular a construção de prédios nas regiões de metrô e dos grandes corredores viários, com redução de vagas de garagem, justamente para estimular o transporte público e reduzir os congestionamentos. Mas, na recente revisão do Plano Diretor, a Prefeitura piorou a proposta, liberando mais vagas de garagem e aumentando o perímetro para construções de prédios, na maioria de alto padrão”, explica. “Ninguém é contra a construção civil, mas precisa ter planejamento. No terreno onde estavam quatro casas, com oito carros em média, estão erguendo torres de 20 andares, que vão somar mais de 80 veículos. Mas, a rua continua a mesma”, conclui. “Isso é insano. Eu tenho duas filhas e não é essa cidade que eu quero para elas”.
Habitação e saúde
Durante a visita, também foi apresentado ao deputado federal que apesar de a Vila Prudente ser uma região consolidada em termos urbanos, ainda enfrenta o desafio das favelas, incluindo a primeira de São Paulo, que seguem à espera de projetos de urbanização. Boulos denunciou que, até o momento da entrevista, a atual gestão municipal não aderiu ao programa Periferia Viva, criado pelo Governo Federal. “O governo Lula abriu um edital de R$ 4 bilhões para as prefeituras inscreverem projetos. O prefeito não inscreveu nenhum. Não vai gastar um real, é recurso federal para urbanizar e regularizar. Na semana passada, me reuni com mais de 120 lideranças de várias comunidades de São Paulo, também estive com o secretário Nacional de Periferias, e enviamos uma lista ao Ricardo Nunes, mas segue o silêncio dele”.
Também foi abordado o grave problema de saúde pública na região acarretado pelo fechamento do pronto-socorro do Hospital Estadual de Vila Alpina para o atendimento direto da população. A medida foi implantada durante a pandemia e não foi revista até o momento, sobrecarregando as unidades municipais de saúde. “Tenho me reunido com os principais especialistas em saúde, incluindo três ex-secretários municipais, para mapear os vazios assistenciais da cidade: de urgência e emergência, de atenção primária e de serviços de média e alta complexidade. Vendo esse mapa, estou convencido que a Vila Prudente precisa de uma UPA com urgência”, afirmou. “Vocês que são aqui da região sabem mais do que eu: a UPA Mooca está saturada. Foi irresponsável o que o ex-governador João Doria fez, de fechar o pronto-socorro de Vila Alpina sem dar uma alternativa à população”, afirma. “Quando um hospital geral fecha as portas do pronto-socorro é porque precisa focar nos atendimentos eletivos de maior complexidade. Até aí está correto, mas não pode fazer isso sem dar outra opção. Fechar o pronto-socorro depois que tem uma UPA do lado, estará melhorando todos os atendimentos, mas antes disso é irresponsável e queremos rever isso”, afirmou.
Sobre a necessidade de um possível relacionamento com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso seja eleito prefeito, Boulos afirmou que buscará todas as parcerias possíveis para a cidade. “Quando a gente senta em uma cadeira, não representa só os seus pensamentos, as suas ideias. Quem não entendeu isso, que estava na presidência da República, se deu mal e o país também pagou o preço. Então, a atuação deve ser sempre republicana. Se eu for prefeito, vou buscar parcerias com o Governo do Estado e o Governo Federal, independente de quem esteja sentado nas respectivas cadeiras”, declarou. (Kátia Leite/André Kuchar)