Apagão dos semáforos e falta de agentes

Após o vendaval da sexta-feira, dia 3, outro grave problema foram os semáforos apagados em diversas ruas e avenidas. A Folha recebeu muitas reclamações da falta de apoio da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para auxiliar na travessia dos principais cruzamentos da avenida Anhaia Mello, o principal corredor viário da região.

O entroncamento da Anhaia Mello com a rua Ibitirama (foto) foi um dos pontos com equipamentos inoperantes e sem a presença de agentes de campo da CET ou cones para canalizar o fluxo de veículos. Também houve queixas do perigo de travessia nos cruzamentos da Anhaia Mello com a avenida Paes de Barros e com as ruas Dianópolis e Américo Vespucci.

“CET sumiu durante esse período”, afirma Marcio Gelencsir. “Na sexta-feira, às 22h, atravessei a Paes de Barros com a Anhaia Mello sozinha e na escuridão. Pior cruzamento da região”, reclama Vera Figueiredo. “No domingo à noite passei um aperto daqueles para cruzar a Anhaia Mello, vindo da Paes de Barros. Tudo desligado e sem ninguém para auxiliar o trânsito”, conta Adriana Netto.

Questionada pela Folha, a CET respondeu que “mobilizou agentes a partir do final da tarde da sexta-feira”. Afirmou ainda que as equipes realizaram rondas pela região da avenida Anhaia Mello “para manter as condições de fluidez e segurança”. Sobre os pontos perigosos de travessia da avenida, citou apenas que “os agentes permaneceram operacionalizando o cruzamento com a rua Dianópolis durante o período necessário”. (Kátia Leite)

 

Entrevista: Boulos aborda problemas que afligem a região

Na manhã da última segunda-feira, dia 6, o deputado federal e pré-candidato à Prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL), esteve no Círculo de Trabalhadores de Vila Prudente e concedeu entrevista à Folha. Ele esteva acompanhado da deputada federal Juliana Cardoso (PT) e da pré-candidata à vereadora Vanilda Anunciação (PT). Foram recebidos pelo presidente do Círculo e da Folha, Newton Zadra, e demais diretores da entidade.

Com a capital paulista vivendo o mais longo apagão energético da sua história e dezenas de árvores caídas pelas ruas, Boulos afirmou que “é uma vergonha que a maior cidade do Brasil, a mais rica da América Latina, fique mais de quatro dias sem energia. Não tem justificativa”. O problema ainda se estendeu por mais dois dias. “A primeira coisa é a responsabilidade da Enel, que reduziu em 36% o número de funcionários, além do fechamento dos escritórios regionais, e isso piora o atendimento. Também não fez os investimentos adequados, então cabe cobrar a ARSESP (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), que não fiscalizou a Enel. Existe ainda a responsabilidade do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que não cumpriu a meta de enterrar 65km de fios por ano. Mesmo com 35 bilhões em caixa, o prefeito também não manteve o serviço de poda de árvores em dia”, lista. “Vamos para cima de todos, precisamos saber quem vai pagar pelo prejuízo da população”.

O deputado federal defende ainda outro debate urgente sobre o ocorrido nos últimos dias. “Esse tipo de situação, de eventos climáticos extremos, será cada vez mais frequente e precisamos estar preparados. Fui relator de um projeto na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara, para criar um plano para as cidades brasileiras se adaptarem a fenômenos como esse”.
O programa de recapeamento da Prefeitura foi outro tema abordado. “Quando o prefeito finalmente resolveu tocar obra em São Paulo, está fazendo de forma mal feita e com suspeita. Refizeram vias que estavam com asfalto bom, como a Anhaia Mello, aqui na região. No meu bairro, em Campo Limpo, aconteceu a mesma coisa. As grandes avenidas ganharam recapeamento e as ruas do miolo estão com buracos fazendo aniversário. E o Tribunal de Contas do Município já emitiu um alerta de superfaturamento de quase 10% no valor do asfalto”, completa Boulos.

Sobre um dos problemas que mais aflige os paulistanos atualmente, a verticalização desenfreada, o deputado foi categórico: “o prefeito vendeu São Paulo para as grandes construtoras”. “Isso não está acontecendo somente aqui na região da Vila Prudente e da Mooca, acontece no Centro Expandido inteiro e em boa parte da cidade”, acusa. “O Fernando Haddad (PT), durante sua gestão na Prefeitura, aprovou um Plano Diretor para estimular a construção de prédios nas regiões de metrô e dos grandes corredores viários, com redução de vagas de garagem, justamente para estimular o transporte público e reduzir os congestionamentos. Mas, na recente revisão do Plano Diretor, a Prefeitura piorou a proposta, liberando mais vagas de garagem e aumentando o perímetro para construções de prédios, na maioria de alto padrão”, explica. “Ninguém é contra a construção civil, mas precisa ter planejamento. No terreno onde estavam quatro casas, com oito carros em média, estão erguendo torres de 20 andares, que vão somar mais de 80 veículos. Mas, a rua continua a mesma”, conclui. “Isso é insano. Eu tenho duas filhas e não é essa cidade que eu quero para elas”.

Habitação e saúde

Durante a visita, também foi apresentado ao deputado federal que apesar de a Vila Prudente ser uma região consolidada em termos urbanos, ainda enfrenta o desafio das favelas, incluindo a primeira de São Paulo, que seguem à espera de projetos de urbanização. Boulos denunciou que, até o momento da entrevista, a atual gestão municipal não aderiu ao programa Periferia Viva, criado pelo Governo Federal. “O governo Lula abriu um edital de R$ 4 bilhões para as prefeituras inscreverem projetos. O prefeito não inscreveu nenhum. Não vai gastar um real, é recurso federal para urbanizar e regularizar. Na semana passada, me reuni com mais de 120 lideranças de várias comunidades de São Paulo, também estive com o secretário Nacional de Periferias, e enviamos uma lista ao Ricardo Nunes, mas segue o silêncio dele”.

Também foi abordado o grave problema de saúde pública na região acarretado pelo fechamento do pronto-socorro do Hospital Estadual de Vila Alpina para o atendimento direto da população. A medida foi implantada durante a pandemia e não foi revista até o momento, sobrecarregando as unidades municipais de saúde. “Tenho me reunido com os principais especialistas em saúde, incluindo três ex-secretários municipais, para mapear os vazios assistenciais da cidade: de urgência e emergência, de atenção primária e de serviços de média e alta complexidade. Vendo esse mapa, estou convencido que a Vila Prudente precisa de uma UPA com urgência”, afirmou. “Vocês que são aqui da região sabem mais do que eu: a UPA Mooca está saturada. Foi irresponsável o que o ex-governador João Doria fez, de fechar o pronto-socorro de Vila Alpina sem dar uma alternativa à população”, afirma. “Quando um hospital geral fecha as portas do pronto-socorro é porque precisa focar nos atendimentos eletivos de maior complexidade. Até aí está correto, mas não pode fazer isso sem dar outra opção. Fechar o pronto-socorro depois que tem uma UPA do lado, estará melhorando todos os atendimentos, mas antes disso é irresponsável e queremos rever isso”, afirmou.

Sobre a necessidade de um possível relacionamento com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso seja eleito prefeito, Boulos afirmou que buscará todas as parcerias possíveis para a cidade.  “Quando a gente senta em uma cadeira, não representa só os seus pensamentos, as suas ideias. Quem não entendeu isso, que estava na presidência da República, se deu mal e o país também pagou o preço. Então, a atuação deve ser sempre republicana. Se eu for prefeito, vou buscar parcerias com o Governo do Estado e o Governo Federal, independente de quem esteja sentado nas respectivas cadeiras”, declarou. (Kátia Leite/André Kuchar)

Região enfrenta caos no fornecimento de energia elétrica

Moradores e comerciantes da região estão somando quase 20 horas sem o fornecimento de energia elétrica. Relatam alimentos estragando nas geladeiras e dificuldade para cuidar de recém-nascidos e pessoas doentes.

Na região, causa ainda mais indignação a posição no site da Enel de que as zonas mais afetadas são as Oeste e Sul da cidade.  No entanto, Vila Prudente, Jardim Independência, Vila Zelina, Parque São Lucas, Vila Ema, Jardim Avelino e Vila Alpina são alguns dos bairros duramente afetados desde o temporal na tarde de ontem.

Muitas reclamações de que os canais da Enel estão inacessíveis e sequer conseguem fazer o registro pedindo o restabelecimento da energia elétrica. A concessionária cita o número de árvores desabadas na cidade e alega que “reforçou as equipes em campo, nos canais de atendimento e no centro de controle e está trabalhando de forma ininterrupta para normalizar o fornecimento de energia para todos”.

Há moradores que afirmam que na rua deles não houve queda de árvore, mesmo assim seguem sem energia elétrica. A imagem abaixo mostra um transformador estourando na rua Costa Barros,na Vila Alpina, depois da chuva parar na tarde de ontem.

A Folha já pediu um posicionamento da Enel, via e-mail e telefone, sobre as equipes atuando na região, mas a concessionária não respondeu.

Metrô: obra é multada por descarte nas bocas de lobo

Quem passa pela rua Falchi Gianini, na Vila Prudente, constata que sempre existe muito descarte de água do canteiro de obras onde o Metrô constrói o poço de Ventilação e Saída de Emergência (VSE) do prolongamento da Linha 2-Verde. O líquido desce em abundância pela via, no sentido da avenida Anhaia Mello. No entanto, vizinhos denunciam que não ocorre o tratamento adequado da água, que acaba lançada na sarjeta junto com cimento. Há marcas do material no leito da rua.

“O destino final dessa mistura são as galerias da Prefeitura. Estamos chegando em mais uma temporada de chuvas e essa ação irresponsável pode agravar ainda mais as enchentes na Anhaia Mello e ruas transversais”, comenta um morador dos arredores.

Questionada pela Folha, a Secretaria Municipal das Subprefeituras, por meio da Subprefeitura Vila Prudente, informou que após vistoria na rua Falchi Gianini, altura do número 736, “foi constatado o descarte de material cimentício nas bocas de lobo, vindo das obras realizadas pela companhia responsável pela intervenção”. De acordo com a Secretaria, foram aplicadas duas multas à empresa no valor total de 32 mil reais. As sanções foram lavradas com base na Lei 13.478/2002, artigos 169 e 164, que regulamenta a Lei de Limpeza Urbana. Foi esclarecido ainda que a Subprefeitura Vila Prudente realizou a retirada dos materiais dos bueiros e também a limpeza da via.

O Metrô respondeu na quarta-feira, dia 1º, que “mantém rotina de inspeção em toda as unidades de obras. No caso do lançamento de água na calçada, o consórcio já foi notificado e garantiu a eventualidade. Atualmente o líquido lançado está dentro de padrões adequados”.

Mais queixas

A vizinhança do canteiro de trabalhos reclama ainda da poeira que invade residências e tem provocado problemas de saúde. “Quando abastecem o cilindro de aço, com cimento para a obra, uma nuvem de pó é lançada na atmosfera, poluindo as casas em volta”, ressalta um morador. Outra queixa assídua é sobre o barulho constante, inclusive durante a madrugada.

O Metrô lamentou os transtornos e afirmou “que adota todas as medidas necessárias para que a população do entorno tenha incômodos cada vez menores”. Sobre a poeira, argumentou que o consórcio emprega continuadamente ações para aliviar a poeira e melhorar a qualidade do ar umedecendo o solo que será exposto ao trabalho. Foi esclarecido que o consórcio tem autorização para trabalhar em três turnos durante 24 horas, mas o Metrô mantém um programa de medição de ruídos para implantar medidas de diminuição.

O poço em construção na rua Falchi Gianini terá 50 metros de profundidade e 32 metros de diâmetro. Será o ponto de partida do túnel de via que irá conectar o trecho novo da Linha 2 ao que já está em operação, entre a Vila Prudente e Vila Madalena. No poço também começará a escavação dos túneis de estacionamento de trens e ponto de chegada do Tatuzão que vai operar nas obras de expansão.