Pronto-socorro de Vila Alpina pode ter mudança no atendimento


A Secretaria de Estado da Saúde confirmou na tarde de ontem à Folha que o SUS (Sistema Único de Saúde) de São Paulo verifica um aumento de casos graves e gravíssimos da Covid-19 e, com o recrudescimento da doença, a rede estadual definiu medidas para garantir atendimento aos pacientes. Uma delas é o fechamento à população do pronto-socorro de quatro grandes hospitais da Capital, entre eles o Hospital Estadual de Vila Alpina – referência na região e com intenso movimento diário. A medida pode passar a valer a partir de 1º de fevereiro.

Além dos casos de Covid-19, a intenção é que o hospital também priorize o atendimento de ocorrências de outras enfermidades graves e acidentes de trânsito que demandam atendimento mais complexo e altamente equipado. A Secretaria de Saúde ressaltou que embora o Vila Alpina conte com essa estrutura especializada, atualmente 80% dos casos no pronto-socorro são de ocorrência leves, como dores de cabeça, nas costas e outras situações clínicas mais simples.

Com a implantação da medida, a população não poderá mais ser atendida diretamente no pronto-socorro do Vila Alpina. Terá que recorrer aos equipamentos municipais, como as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de Assistência Médico Ambulatorial (AMA), e se constatada a gravidade, encaminhada ao hospital.

A integrante do Movimento Popular de Saúde da região, Francisca Ivoneide de Carvalho, prevê o caos no atendimento local e não mediu palavras para criticar a decisão. “Estamos ouvindo sobre esse ‘estudo’ e sabemos que costumam dar esse nome quando não querem chamar a atenção antes da hora. Fechar o pronto-socorro do Hospital de Vila Alpina será um crime, não tem como chamar de outra forma”, afirmou. “As UBSs fecham entre 18h e 19h, as AMAs da região também não são 24 horas. Onde a população será atendida à noite?”, questiona.
Ivoneide explica que o Hospital Estadual de Sapopemba já trabalha de portas fechadas. “Na época da inauguração do Vila Alpina, também queriam o pronto-socorro fechado à população. Só depois de muita luta, mostrando a importância desse serviço na região, conseguimos manter o atendimento”, comenta.

Além de sobrecarregar a demanda nas UBSs e AMAs, o Hospital Municipal Ignácio Proença de Gouveia, na Mooca, também deve ser impactado se o Governo do Estado levar adiante a ideia de fechar o pronto-socorro na Vila Alpina.
Outro agravante é que a região não conta com uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Prefeitura. Em junho passado, foi retomada a construção da UPA Mooca, após a obra ficar quatro anos parada. As UPAs da cidade funcionam 24 horas, atendem em media 20 mil pessoas por mês e foram criadas justamente para desafogar os hospitais públicos.

Funcionários de UBSs ouvidos pela reportagem ressaltaram ainda que a grande campanha de vacinação contra a Covid-19 deve mobilizar as equipes e causa apreensão essa intenção do governo de aumentar a demanda nas unidades nesse momento.

Na nota encaminhada à redação ontem, a Secretaria de Estado da Saúde afirmou que está em contato com a Prefeitura e ressaltou que o SUS já prevê que os casos de menor complexidade sejam absorvidos pela rede primária. Ainda de acordo com a Secretaria, na Capital há mais de 1.300 serviços de saúde de diversas áreas de atuação. Portanto, o Vila Alpina representa menos de 1% do total de unidades instaladas na cidade.