Conforme a Folha antecipou, a Prefeitura desativou no final de março a base Água Rasa do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que ficava na confluência das avenidas Anhaia Mello e Salim Farah Maluf. Na manhã da segunda-feira, dia 1º, as três ambulâncias que operavam na unidade já haviam sido transferidas. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, uma delas foi para a AMA Hermenegildo Morbin Júnior, no Jardim Independência – que não funciona 24 horas; outra para o Hospital Ignácio Proença de Gouveia (antigo João XXIII), na Mooca; e a terceira nem atende mais a região, foi para o Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara.
A medida – que vem gerando muita polêmica na cidade – atende portaria do prefeito Bruno Covas (PSDB), publicada no Diário Oficial no fim de fevereiro, determinando o fechamento de 31 das 58 unidades do SAMU de São Paulo. A administração municipal alega que o contrato dessas unidades modulares – que funcionam em contêineres alugados – foi encerrado para redução de gastos. A Prefeitura defende ainda que esse processo de realocação das equipes vai ampliar o atendimento para mais 70 pontos de apoio e vai retirar cerca de 150 funcionários do SAMU de funções administrativas e devolvê-los às operações de socorro.
Funcionários do SAMU rebatem as justificativas do governo. Argumentam que os serviços só foram descentralizados, sem aumento de viaturas. Reclamam também que muitos dos novos locais não oferecem condições de estrutura como as bases desativadas e que o atendimento à população será prejudicado. Na segunda-feira eles fizeram uma paralisação no período da tarde em protesto à decisão da Prefeitura, mantendo apenas os serviços emergenciais, conforme determina a lei. Eles pretendem negociar com o prefeito a suspensão da reorganização do serviço do SAMU e a reativação das bases. Caso não sejam atendidos, novas paralisações devem ocorrer.
Uma funcionária da extinta base Água Rasa ressaltou a estrutura que essas unidades ofereciam. “Ficavam em pontos estratégicos da cidade, com acomodações dignas e banheiros com chuveiro e vestiários. Contavam ainda com segurança, serviço de limpeza, copa para refeições e estacionamento amplo e coberto para a ambulância que precisa de espaço adequado para poder deslocar-se com brevidade ao atendimento”, relatou pedindo anonimato. Outros funcionários destacam que para o trabalho é essencial ter chuveiros à disposição, pois normalmente se sujam com sangue, secreções ou ficam cobertos de cacos de vidros para resgatar vítimas de acidentes de trânsito. E precisam estar limpos rapidamente para atender outras ocorrências, além de espaço adequado para esterilizar os materiais.
A vereadora Juliana Cardoso (PT), integrante da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, também critica a decisão da Prefeitura e afirma que a reorganização do SAMU será “uma economia irrisória que pode aumentar o risco de óbitos da população em situação de emergência”. “Do ponto de vista financeiro, a justificativa do prefeito Bruno Covas é descabida. Ele alega que vai economizar R$ 5 milhões no ano com o encerramento do contrato dessas bases. Representa 0,05% do orçamento de quase R$ 10 bilhões da Secretaria Municipal de Saúde. Será que é realmente necessário economizar esse recurso em um serviço tão essencial e que tem impacto direto na vida da população?”, destaca a vereadora.
Questionada sobre a desativação do serviço emergencial na região – que perdeu inclusive uma ambulância para o Jabaquara, a Secretaria não foi específica. Ressaltou apenas que os resultados das reorganizações das bases do SAMU poderão ser avaliados no decorrer dos próximos meses e que os problemas “relatados e manipulados pelo sindicato (dos funcionários) são exatamente aqueles que a descentralização ataca, buscando a melhoria do serviço”.
Questionada sobre a desativação do serviço emergencial na região – que perdeu inclusive uma ambulância para o Jabaquara, a Secretaria não foi específica. Ressaltou apenas que os resultados das reorganizações das bases do SAMU poderão ser avaliados no decorrer dos próximos meses e que os problemas “relatados e manipulados pelo sindicato (dos funcionários) são exatamente aqueles que a descentralização ataca, buscando a melhoria do serviço”.
Base Água Rasa
A base Água Rasa desativada pelo decreto do prefeito Bruno Covas estava situada em um ponto bastante estratégico: entre os principais corredores viários da região e que registram vários acidentes de trânsito. O mais recente deles aconteceu na madrugada do sábado passado, dia 30, na esquina da avenida Salim Farah Maluf com a avenida Vila Ema – a pouquíssimos metros de onde ficava a unidade de serviço emergencial. Por volta das 2h40, a colisão entre um caminhão e um automóvel resultou em uma vítima que faleceu no local. Várias viaturas dos bombeiros atenderam a ocorrência. O caso foi lavrado no 56º Distrito Policial – Vila Prudente.
Risco de invasão
Além da preocupação com a desativação do serviço emergencial, moradores do entorno e motoristas que passam pelo trecho questionam qual será a destinação do espaço. O trecho fica entre os viadutos do complexo viário da Anhaia Mello com a Salim Farah Maluf, que têm ocupações de sem-teto, e bem próximo do antigo imóvel da Padaria Amália, que também voltou a abrigar famílias.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que ainda está estudando o que fará com o espaço que foi cedido à pasta. (Kátia Leite)