Sob intensa chuva desde as 19h do domingo, dia 10, Vila Prudente e Mooca entraram em estado de alerta às 22h. A medida é decretada pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura quando acontece o transbordamento de córregos ou rios. Na Vila Prudente houve a vazão do rio Tamanduateí ao longo das avenidas do Estado e Dr. Francisco Mesquita e do córrego da Mooca na avenida Anhaia Mello. O Piscinão Guamiranga também não suportou o volume das águas e transbordou às 21h30, agravando ainda mais a situação. As horas seguintes foram muito tensas. A região continuou em estado de alerta até as 5h, mas os alagamentos persistiram.
No final da rua Ibitirama com a avenida do Estado, 64 pessoas foram resgatadas dos tetos de veículos e muros por bombeiros em uma ação heroica usando bote. Moradores dos andares mais altos de prédios residenciais fizeram vídeos de carros sendo arrastados pela correnteza. Não dava para diferenciar a avenida do rio Tamanduateí (foto acima).
A violência das águas deixou um rastro de destruição e prejuízos ao longo da margem do rio Tamanduateí. A enchente também atingiu várias ruas que desembocam nas avenidas do Estado e Dr. Francisco Mesquita. Moradores de casas na Vila Califórnia, Vila Alpina, Vila Bela, Quinta das Paineiras, Jardim Ibitirama, entre outros bairros do distrito de Vila Prudente, viveram momentos de agonia com a inundação em seus imóveis. Mesmo quem reside em prédios teve problemas. Moradores de condomínios na esquina das ruas Baia Grande e das Lobélias contaram que a água entrou em garagens e inundou veículos.
Outro ponto muito crítico foi a rua Guamiranga, justamente onde fica parte do piscinão. Cerca de mil pessoas permaneceram abrigadas até as 8h da manhã seguinte no Central Plaza Shopping porque não havia como deixar o empreendimento, que fica na Dr. Francisco Mesquita e também tem saída pela rua Guamiranga. Mesma situação enfrentada por usuários das estações Tamanduateí de metrô e trem. Passageiros de um ônibus ficaram ilhados por horas. “Estava lotado. Tinha uma mulher grávida, crianças e a água continuava subindo, inclusive dentro do ônibus. Não havia espaço para todos sentarem e muita gente ficou exausta. Ninguém conseguiu nos resgatar. Somente quando a enchente diminuiu, saímos a pé, pois o veículo não conseguia transitar”, contou João Lima.
As águas começarem a baixar depois de mais de oito horas seguidas de inundação, não foi o fim dos problemas para os moradores de imóveis atingidos. “Na minha casa, um sobrado, perdemos todos os móveis que estavam no piso debaixo, inclusive mantimentos porque a geladeira tombou e ficou boiando. Nos fundos, mora a minha tia em uma casa térrea. Também teve que jogar praticamente tudo fora. Os móveis ficaram horas no alagamento, não tinha como recuperar. Mesmo com a comporta, minha sala acumulou mais de um metro de água. Do outro lado da avenida teve casa que chegou a quase dois metros”, conta Luiz Orosco, morador do número 357 da avenida Dr. Francisco Mesquita há 30 anos. “Ainda fiquei com dois veículos cobertos pela água. Um Sandero e uma perua Kombi, que é o meu sustento porque presto serviço de transporte para uma rede de hipermercado. Além do prejuízo em casa, estou sem conseguir trabalhar”, completa Orosco. “Ninguém da Prefeitura apareceu para saber se sobrevivemos ao alagamento. Até agora não vieram lavar a rua. Estamos inalando a poeira do lamaçal. É revoltante. Pago o IPTU do meu imóvel e não recebemos uma ajuda”, desabafou na quarta-feira, dia 13, mais de 48 horas depois do fim do alagamento.
Na Vila Prudente e na Mooca, dezenas de empresas nas avenidas Henry Ford e Presidente Wilson e ruas Cadiriri e Pacheco Chaves também foram inundadas e tiveram prejuízos na casa dos milhões. Muitos empresários estão desesperados porque perderam desde matéria prima até maquinários, além de equipamentos de informática dos departamentos administrativos.
Três mortes na avenida do Estado
Quando as águas escoaram, a tragédia ficou ainda mais evidente: três corpos foram encontrados na avenida do Estado, na divisa da Vila Prudente com o município de São Caetano do Sul. Todos são de homens jovens e apresentavam características de afogamento, segundo a equipe do 1º Distrito Policial de São Caetano, onde foram lavradas as ocorrências.
Duas das vítimas fatais estavam na altura da rua Ibitirama. O outro corpo foi localizado na esquina do viaduto que dá acesso à avenida Guido Aliberti, dando um triste desfecho a uma história dramática. Durante a madrugada, o homem permaneceu horas agarrado a uma placa de sinalização de trânsito para não ser levado pela correnteza. Temendo que ele perdesse a força, moradores ainda jogaram uma mangueira para ele tentar se amarrar, enquanto ligavam para o Corpo de Bombeiros. Mas o socorro não chegou a tempo.
Até o fechamento desta matéria, os policiais civis aguardavam os laudos da perícia para saber as identidades e as idades das vítimas. (Kátia Leite)
Cenário de caos na manhã seguinte: