Cumprindo decisão judicial, a Prefeitura realizou no fim de semana passado a reintegração de posse da chamada Favela do Cimento, que reunia cerca de 200 precárias moradias nos baixos do viaduto Bresser e ao longo da calçada da Radial Leste, que margeia a linha do Metrô. De acordo com o governo municipal, a operação seguia tranquila, com várias pessoas deixando o local voluntariamente, quando na noite do sábado, dia 23, teve início um incêndio generalizado nos barracos. Vinte viaturas e 67 homens do Corpo de Bombeiros foram acionados para atender a ocorrência de grandes proporções. As labaredas eram avistadas de longe na região da Mooca. No momento, vários veículos transitavam pela Radial Leste. Um homem de 50 anos morreu devido às queimaduras. Na madrugada de domingo um suspeito foi detido sob a acusação de ter iniciado o incêndio.
A ocupação do espaço teve início em 2012 e aumentou de proporção quando a gestão passada colocou tendas assistenciais nos baixos do viaduto Bresser. No local eram oferecidos alimentação, banho e espaços para convivência, o que atraiu grande número de moradores em situação de rua. Foram cerca de quatro anos de conflitos judiciais entre a Prefeitura e grupos de direitos humanos para desocupação da área pública, até a sentença da juíza Maria Gabriella Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinando que os moradores deixassem o local até o sábado, dia 23, com amparo do governo municipal. Para os que resistissem, valeria a ordem de reintegração de posse no domingo, dia 24.
Entre os dias 18 e 22 de março ocorreram várias audiências de conciliação visando o encaminhamento das famílias para a rede de acolhimento social da Prefeitura que oferece vagas específicas para famílias, pessoas da terceira idade e solteiros. Algumas unidades também aceitam animais de estimação. Nesse processo o município identificou 215 pessoas na área ocupada, sendo 66 crianças.
De acordo com o balanço divulgado pelo governo municipal, até a sexta-feira, dia 22, tinha ocorrido 29 encaminhamentos de famílias e solteiros para os Centros de Acolhimento e três pessoas aceitaram passagens de retorno para as suas cidades. Os trabalhos de retirada das pessoas seguiram no sábado e segundo a Prefeitura, o fogo começou depois que os assistentes sociais deixaram o local.
“Logo após a saída das equipes iniciou-se o incêndio. Em seguida as equipes retornaram, mas restavam poucas pessoas no local que foram encaminhadas para os equipamentos de acolhimento”, afirmou o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, José Castro.
No domingo, ao invés do desmonte das moradias restou à Prefeitura as ações de remoção do material queimado e de limpeza. Houve apoio de caminhões pipa e truncados para transportar o lixo. Foi ressaltado que serão adotados projetos de revitalização na área.
O balanço final da Prefeitura aponta que foram 74 encaminhamentos, entre famílias e solteiros, para os Centros de Acolhimento; além de 18 cachorros e nove gatos levados para a unidade no Canindé. Não existe prazo definido para permanência nesses locais. A promessa do governo municipal é ajudar as pessoas a recuperarem a autonomia, para conseguirem emprego e moradia.
Moradores da Mooca afirmam que quem não aceitou o auxílio da Prefeitura foi para outras ocupações no bairro, como um imóvel na rua do Hipódromo.
Incêndio
Na noite de sábado, por volta das 20h30, uma hora após o início do fogo, um homem de 50 anos deu entrada no hospital Salvalus, que fica a poucos metros da antiga favela, com queimaduras por todo o corpo. Ele foi levado direto para a UTI. Na tarde do domingo o hospital anunciou que o paciente não resistiu aos ferimentos.
O caso do incêndio foi registrado no 8º Distrito Policial – Brás/Belém e está sendo investigado pela Polícia Civil. No boletim de ocorrência não está especificado se o homem detido como suspeito de atear fogo, era morador da favela incendiada. Também não há detalhes de como a polícia chegou até ele. (Kátia Leite / Gerson Rodrigues)