Ainda sem detalhes definidos, a Prefeitura avisou na semana passada que dará início ao projeto de revitalização e revisão das ciclovias da cidade com o objetivo de garantir a convivência, com segurança, entre bicicletas e os demais veículos. Alvo de muitas queixas desde que começaram a ser implantadas em maio de 2015, na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), as ciclovias da Vila Prudente serão as primeiras a serem estudadas para receberem intervenções. A expectativa é que parte das pistas exclusivas seja substituída por ciclorrotas – caminhos sem a separação das bicicletas do restante do tráfego e sem demarcação exclusiva da pista.
Segundo o secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, que costuma utilizar a bicicleta em seus deslocamentos diários, as ciclovias não serão retiradas ou construídas de forma arbitrária. “Pretendemos organizar um amplo debate com ciclistas, a comunidade local e os representantes das prefeituras regionais para buscarmos as melhores alternativas. O resultado desse diálogo definirá o projeto a ser adotado em cada ponto da cidade”, afirmou. A FolhaVP questionou a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) sobre a previsão de início desses debates, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.
A intervenção é polêmica, pois a implantação de ciclovias foi uma das bandeiras da gestão Haddad, com apoio de cicloativistas e usuários comuns de bike. Dos atuais 498 km de faixas exclusivas, 400 km foram feitas sob o comando do ex-prefeito. “Após inúmeras lutas e cobranças que duraram anos, os ciclistas ganharam muito com a implantação dessas ciclovias na cidade. Simplesmente acabar com algumas delas será um retrocesso. Mas entendo que em alguns locais a alteração para ciclorrota pode ser benéfica, desde que a via escolhida realmente apresente tráfego leve e que ocorra controle de velocidade dos veículos”, comenta o corretor de seguros, Leandro Camino Bazito, 42 anos, que mora na Vila Prudente e diariamente vai e volta pedalando do trabalho no Centro.
Para o morador do Jardim Avelino, Cleber Hamiltom D’angelo, que também utiliza bicicleta, mas é um ferrenho crítico à forma como as ciclovias foram implantadas na região há quase dois anos, o anúncio da Prefeitura representa uma vitória da comunidade. “Estamos comemorando essa decisão, que vem de encontro com a vontade da esmagadora maioria dos moradores locais. Não sou contra ciclovias, mas não sou a favor de faixas exclusivas em locais inadequados, como nas ruas Mario Augusto do Carmo, Pinheiro Guimarães e Professor Gustavo Pires de Andrade, que possuem pouquíssima utilidade. Medições com câmeras de vigilância dos imóveis apontaram para uma média inferior a três ciclistas por dia, contando os finais de semana”, afirma D’angelo.
Quem também está a favor da iniciativa da nova gestão municipal é o presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do Bairro de Vila Zelina, Victor Gers, que coletou 5.700 assinaturas de moradores da região insatisfeitos com o modelo de implantação das ciclovias. “Não somos contra esses espaços para ciclistas, o que criticamos foi a forma arbitrária, sem consulta pública, que a antiga administração aplicou. Na calada da noite pintaram faixas vermelhas em várias vias da região e muitas delas sem utilidade. A nossa expectativa agora é que a Prefeitura escute a comunidade e melhore o planejamento”, ressalta Gers.
Segundo a vereadora Edir Sales (PSD), que desde a implantação das faixas vermelhas na região tem cobrado uma readequação, iniciar o projeto de revisão na Vila Prudente é uma grande conquista da comunidade. “Isso mostra que o prefeito foi sensível à nossa causa. Desde que essa ação arbitrária teve início por parte do governo passado, iniciei a luta para que os moradores, ciclistas e motoristas não sofressem com os transtornos causados pela falta de planejamento. Encaminhei o pedido pessoalmente ao prefeito João Doria e reiterei por diversas vezes, inclusive com abaixo assinado da comunidade, para que sejam refeitos os estudos para a readequação das ciclofaixas, justificando que os próprios ciclistas correm riscos ao dividirem ruas estreitas com carros e caminhões”, afirma.
Meta é substituir faixas exclusivas por ciclorrotas
A gestão do prefeito João Dória (PSDB) pretende, principalmente, trocar uma parte das pistas exclusivas por ciclorrotas – quando não há demarcação do espaço da bicicleta no asfalto, mas há sinalização, velocidade reduzida e lombofaixas que permitam melhorar a convivência dos ciclistas com os demais veículos no trajeto. Além disso, são cogitadas alterações no posicionamento de ciclovias ao longo das vias.
“Algumas construídas são muito boas, mas outras fazem pouco sentido. Queremos substituir essas por ciclorrotas que de fato levem ao aumento do número de ciclistas. Há ruas tão calmas que não tem cabimento segregar a bicicleta”, afirma o secretário Sérgio Avelleda. “A ideia é construir uma cultura de compartilhamento de espaço e permitir que o ciclista trafegue com segurança pelos 17 mil km de ruas da cidade e não fique confinado apenas nos 498 km de faixas exclusivas”, completou.
Ruas do bairro da Mooca já contam com ciclorrotas desde 2011, implantadas na gestão de Gilberto Kassab (PSD). Esses locais servem para alertar o motorista sobre a presença de ciclistas, estimulando o compartilhamento de espaço com segurança. As vias sinalizadas indicam a preferência da bicicleta sobre os demais veículos e não há horário específico de funcionamento. A ciclorrota é permanente, disponível em qualquer dia e horário. Algumas das vantagens apontadas é que o custo de implantação é extremamente inferior ao de ciclovias segregadas, não há redução do espaço destinado ao automóvel e o tempo de implementação é muito mais curto. (Gerson Rodrigues)