Nascido em 1945, em Montevidéu, Uruguai, Taiguara Chalar da Silva se mudou para o Rio de Janeiro aos 4 anos de idade. A tradição política na família teve grande influência na sua vida. Seu pai, Ubirajara Silva, filiou-se ao Partido Comunista no Uruguai. O seu avô, Glaciliano Correa da Silva, era um socialista convicto.
Taiguara começou a compor aos 10 anos. Sua carreira começou em 1964, com shows na Universidade Mackenzie, onde não concluiu o Curso de Direito, e no Teatro de Arena. Seu primeiro LP Taiguara! misturou samba, samba-canção, bossa nova e jazz. Em 1968, “Helena, Helena…”, de Alberto Land, vence o Festival Universitário da Canção Popular. A partir de 1968, com o AI 5, crescem as perseguições, prisões, torturas e mortes. Músicas com conteúdo dito subversivo eram censuradas.
Do disco “Viagem” de 1970 a música “Universo do seu corpo!” faz sucesso no Festival Internacional da Canção. Mas por pressão da Philips e da TV Globo, ficou em 6° lugar. Foi premiado em muitos festivais, mas suas letras não agradavam o regime militar. Sua primeira música censurada “O medo” foi lançada depois de sua morte.
Em 1970 em Londres gravou 18 músicas, mas elas nunca foram editadas. No seu sétimo disco: “Carne e Osso”, de 1971, “A Ilha” foi censurada por alusão à Cuba socialista. Muitas vezes os locais das apresentações eram fechados e os shows cancelados por ordem da repressão.
Das 140 músicas entre 1970 a 1974, 48 foram vetadas pelo regime militar, além de dois discos completos por causa do conteúdo político ou “por atentar à moral e bons costumes”. Em 1974, exilado em Londres produziu um álbum em inglês, iludido de que não seria censurado. “Let the Children Hear the Music” era a versão para “Que as crianças cantem livres”, mas o álbum foi censurado. Voltou para o Brasil e “Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara” de 1976 o disco é censurado. Após Genebra, decidiu ir para a Tanzânia, na África. Lá, se identificou com as tribos indígenas e seus costumes. Em 1977 ao voltar ao Brasil os amigos reclamavam da sua veemência nos debates políticos.
Se engajou no Movimento “Diretas Já”. Se tornou amigo de Luiz Carlos Prestes e para ele compôs “Cavaleiro da Esperança”. A proximidade com Prestes colocou a repressão na sua cola e da sua família. Eram seguidos em shows e reuniões. Recebiam ameaças de morte e sequestro das filhas.
Em 1980 mudou para o Tatuapé, em São Paulo, para ficar mais perto dos trabalhadores e contribuir com a música para a construção de um mundo mais justo. O disco “Canções de amor e liberdade” era uma produção sofisticada, além de conteúdo político explícito. Mas o antigo público não entendeu a mudança e a conquista do novo público de operários também não aconteceu.
Em 1992 conheceu Cuba, numa caravana de artistas. Foi quando lançou seu último disco: “Brasil Afri”, marcado pela africanidade. Retomou um pouco o antigo romantismo, mas prosseguia com os discursos anticapitalistas.
Sua saúde estava debilitada por causa do câncer na bexiga. Se tratou em Cuba, gratuitamente. De volta ao Brasil morreu em 14 de fevereiro de 1996. Foi um dos artistas mais censurados pela ditadura brasileira. Morreu com a convicção da importância de transformar o mundo e de que a música tem seu papel nessa tarefa.
No último sábado, dia 13 de fevereiro, o Bar do Frango, no Parque São Lucas, realizou uma concorrida homenagem aos 20 anos da morte de Taiguara com grande participação de público. Foram momentos emocionantes e inesquecíveis que relembraram a trajetória desse artista.
* Juliana Cardoso é líder do PT na Câmara Municipal.