Após receber diversas denúncias de irregularidades, a Comissão Central responsável pela organização da eleição dos 52 conselhos tutelares da cidade, realizada no domingo, dia 15, recomendou a anulação do pleito. O promotor Eduardo Dias, que acompanhou todo o processo pelo Ministério Público, também participou da decisão. Após reunião na tarde de ontem, o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) ratificou a decisão de tornar nula a votação. A Secretaria de Comunicação confirmou a informação no site da Prefeitura na noite de ontem. Conforme a Folha apurou, a decisão deve ser publicada hoje no Diário Oficial do município.
A eleição em todo o Brasil ocorreu em 4 de outubro. A cidade de São Paulo já havia sofrido o adiamento para o último dia 15 por falta de estrutura, principalmente na organização das migrações de eleitores das escolas originais para os pontos de votação. No entanto, com a anulação, o novo pleito só deve ocorrer em 21 de fevereiro. Segundo a Prefeitura, as inscrições dos mais de 1.500 candidatos serão mantidas.
Como ocorreu em várias partes da cidade, a eleição na Vila Prudente foi marcada por muita desorganização, falhas no sistema eletrônico – que sequer chegou a ser instalado em alguns pontos de votação, além de informações desencontradas da comissão central e comissões regionais.
Passava das 9h, horário de inicio da votação, quando mesários da EMEF Irineu Marinho, na Quinta da Paineira, informavam aos eleitores para voltarem após as 10h, pois o sistema eletrônico não havia entrado em operação. Após esperar em vão o sistema funcionar, a eleição começou de forma manual, mas com apenas 83 cédulas oficiais. Funcionários da escola improvisaram cédulas com cópias xerox.
Algumas escolas não receberam sequer a listagem oficial dos candidatos de Vila Prudente e trabalharam com a lista publicada pela Folha na edição passada, como aconteceu na EMEF Professor Queiroz Filho, na Vila Alpina, que precisou trabalhar todo tempo com o sistema manual.
Ao se depararem com longas filas provocadas pelo tumultuado processo, muitos eleitores desistiam de participar. Na EMEF Aurea Ribeiro, no Parque São Lucas, além da extensa fila, eleitores idosos enfrentavam dificuldades para vencer as escadarias e chegar ao local de votação no terceiro andar. Outra grave denúncia foi registrada na unidade. A lista oficial de candidatos estava fixada omitindo o nome da primeira candidata por ordem numérica. Nessa escola funcionou o sistema manual alternando com o eletrônico.
Na EMEF General Osório, Vila Califórnia, a votação eletrônica começou a funcionar às 15h30. Somente na sede da Subprefeitura Vila Prudente a eleição transcorreu com votação eletrônica desde cedo e as urnas foram fechadas às 17h. Nas escolas com votação manual a orientação foi estender o horário até as 19h – o que causou descontentamento em alguns candidatos.
“A população não estava sabendo da prorrogação do horário e com isso, quem se beneficiou foram os candidatos mais abonados. Apesar de ser uma prática proibida, vi muitos deles lotando os carros e levando mais pessoas para votar neste período das 17 às 19h”, comenta o candidato Gilberto de Souza Macedo, que integra o Conselho Participativo de Vila Prudente. Ele faz ainda ou grave denúncia: saiu do local de votação com uma cédula em branco. “Cheguei para votar e me deram o papel, quando apresentei o título de eleitor, pediram para votar na urna eletrônica e ninguém recolheu a cédula. Isso é muito grave. Essa eleição deve ser impugnada”, ressalta o candidato que apresentou o documento à reportagem.
A apuração dos votos estava agendada para domingo à noite no Paço das Artes, na região central, acabou adiada para terça-feira, dia 17, mas diante de tantas denúncias e problemas as urnas nem foram abertas.
O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou que a Controladoria Geral do Município irá apurar as responsabilidades na prestação de serviços contratados pela Prefeitura para a implementação do processo eletrônico utilizado no domingo e que não funcionou.
Já sobre a nova eleição afirmou que vai transferir a organização do pleito. “Vamos trazer o novo processo para outra esfera de governança, encabeçada pela Secretaria de Governo”, disse.