Morador do São Lucas, Toninho Vespoli, do PSOL, está iniciando o segundo mandato na Câmara Municipal. Professor de matemática da Rede Municipal de Ensino, sempre esteve engajado aos movimentos sociais da região e apesar de ser filiado a um partido conhecido pelo radicalismo, acha que o diálogo é a melhor maneira para resolver um impasse. “É até engraçado o Toninho, do PSOL, reclamar que o prefeito João Doria está sendo radical na questão do grafite e da pichação em São Paulo”, comentou durante a entrevista à Folha na tarde da última quarta-feira, dia 8. “Mas, acho que antes de partir para o enfrentamento, ao menos os grafiteiros deveriam ter sido chamados para uma conversa”, alega o vereador que mandou grafitar uma coluna em seu gabinete na Câmara.
Toninho Vespoli foi um dos 11 vereadores que votou contra o próprio aumento salarial no final do ano passado e confessa que foi pressionado pelos colegas da Casa por causa de suas decisões. “Os vereadores queriam fechar o popular ‘acordão’ dos partidos e eu fui ao microfone defender a votação nominal (como acabou ocorrendo). Recebi muita pressão daqueles que não queriam se expor perante a sociedade”.
Folha – A Câmara encerrou 2016 de maneira polêmica ao aprovar em votação no plenário o aumento salarial de mais de 26% dos vereadores. O reajuste está suspenso pela Justiça. Mas, o senhor foi um dos poucos vereadores (11 entre 55) que votou contra o aumento. Como baseou a sua decisão?
Toninho Vespoli – Estamos vivendo uma crise no Brasil que impacta no orçamento municipal. Também vemos vários cortes em projetos sociais do Governo Federal. Então, se a sociedade está fazendo o sacrifício, acho que as autoridades precisam dar o exemplo. Essa foi a questão mais relevante para mim: temos o dever moral de mostrar à sociedade o caminho, que, no momento, é o de se sacrificar. Com toda essa grave questão social, com 12 milhões de desempregados, a classe política e também o Judiciário, onde vemos holerites de 60, 80 mil reais de juízes, precisam dar a sua contribuição. Também não vou ser hipócrita: os vereadores recebem aumento a cada quatro anos e o valor aprovado ficou inclusive abaixo da inflação (que foi de 32%). Então, nesse aspecto, o aumento é legítimo e eu até poderia ter ficado quieto, mas o grande problema é a situação atípica do Brasil e o lado moral da questão. O aumento está suspenso, mas caso a Câmara derrube a decisão judicial, aqui no gabinete já tomamos a decisão que a diferença salarial será doada para entidades sociais. Ainda estamos pensando como será o rodízio dessas entidades e vamos expor publicamente os nossos depósitos. Seria muita hipocrisia eu votar contra, ficar bem com a comunidade e depois aceitar o dinheiro. Minha posição precisa ter coerência.
Folha – Com o início do ano Legislativo, a Câmara está formando comissões. Quais delas o senhor pretende integrar?
Toninho Vespoli – Por enquanto, vou estar na Comissão de Educação, Cultura e Esporte. O PSOL tem direito nessa comissão e a outra vereadora do nosso partido, a Sâmia (Bomfim), vai ficar na Comissão de Saúde. Ainda estamos discutindo a constituição das comissões permanentes da Casa, somente depois vamos poder propor a abertura de novas comissões.
Folha – O senhor nasceu no Parque São Lucas e ainda reside na região. Quais os principais projetos que pretende defender para a comunidade local?
Toninho Vespoli – Tivemos algumas emendas que não foram efetivadas na área da Vila Prudente, São Lucas e Sapopemba na gestão passada e vamos batalhar de novo agora, como a reforma de algumas praças. Também vou insistir no asfaltamento da rua Vitor Hess, que é de terra ainda, fica atrás de uma escola, então em dias de chuva as crianças precisam passar pela lama (o mandato destinou nova emenda de R$ 300 mil para a via). Uma questão que o nosso mandato, embora não exclusivo, teve grande participação foi na construção da UBS Vila Ema. Estamos sempre em contato com o Movimento de Saúde do bairro, que faz acompanhamento mensal da obra. Também estamos batalhando por uma UBS na Vila Tostoi, que atende tanto a Prefeitura Regional de Vila Prudente como a de Sapopemba. É uma luta importante porque com os novos empreendimentos imobiliários, aumentou a população local e outras unidades da região estão ficando saturadas. Outra reivindicação é a ampliação da UBS Iaçape, no Madalena, que está com o quadro médico completo, mas não tem espaço físico. Ao lado tem um terreno e estamos destinando R$ 1 milhão para essa UBS. Acho importante brigar pela região do Parque São Lucas e Vila Industrial, que fica entre a Vila Prudente e o Sapopemba. Por exemplo, o Sapopemba tem dois CEUs e a Vila Prudente tem um em construção. Então vamos cobrar a instalação de uma Casa de Cultura no São Lucas, porque as crianças e jovens não têm espaço, e infelizmente nossos CDCs (Clubes da Comunidade) nem sempre estão nas mãos de pessoas que têm essa visão. Precisa de uma nova legislação para redemocratizar os CDCs. Espero que nessa gestão ocorra menos interferência política nas prefeituras entregues para vereadores que barram emendas de outros. Sou matemático e não acredito muito em coincidências: havíamos pedidos em torno de 12 podas de árvores e ficaram três anos sem fazer, quando veio o subprefeito Miguel (Ângelo Gianetti) para a Vila Prudente, que era independente, as podas aconteceram. O órgão público é da comunidade e todos têm o mesmo direito.
Folha – Principalmente na sua rede social, nota-se a oposição ferrenha ao governo de João Doria (PSDB). É uma orientação do partido por ser oposição ou, por enquanto, o senhor não aprovou as ações do novo prefeito?
Toninho Vespoli – Apesar de muita gente achar que o PSOL é um braço do PT, fui um dos vereadores que mais votou contra os projetos do ex-prefeito Fernando Haddad. Vou agir da mesma forma: coisas boas vou elogiar e o que entender que não está bem explicado ou não tem relação com as políticas públicas, vou criticar. Por exemplo, o Corujão, claro que eu acho bom zerar a fila para os exames, mas, o gestor tem que pensar todo o processo. Algumas pessoas estão indo fazer o exame às 3h da manhã e precisam esperar a condução até as 5h para voltar. Uma pessoa de mais idade não tem condições de enfrentar essa situação. Então acho que antes de inaugurar o programa, deveriam ter pensando uma rede de transporte em alguns dos principais terminais. Também estou questionando a Secretaria (de Saúde) se haverá um mutirão de especialistas para a pessoa não ficar com o exame nas mãos por meses aguardando a vaga no médico. Sobre a questão do grafite e da pichação também acho que o governo está agindo equivocadamente, não buscou o diálogo e já está partindo para a criminalização. O Haddad pagou para os grafiteiros fazerem murais na cidade, agora o novo prefeito gasta com tinta cinza para cobrir. Não é uma prioridade, poderia ter colocado esse dinheiro em uma questão mais emergencial. Além disso, acho que a tendência é aumentar a pichação pela cidade pela maneira como ele está tratando a questão. Mas, quero deixar claro que espero que o governo seja bem sucedido, porque senão é a população que vai sofrer mais quatro anos.