Mais de 30 anos atrás, moradores do Parque da Mooca conviviam com o perigo acarretado por um terreno baldio que servia como depósito de lixo, entulho e outras ações criminosas. Depois de muitas reclamações junto à Prefeitura, conseguiram transformar o problema na agradável praça Dr. Eulógio Emilio Martinez. Porém, os tempos de paz podem estar com os dias contados. A bem cuidada área verde de quatro mil metros quadrados deve ser “atropelada” pelo prolongamento da rua Lítio, atualmente uma via sem saída que começa na rua Vitoantonio Del Vecchio e termina justamente na praça. A Prefeitura, por meio da Subprefeitura Mooca, se limita a informar que a rua será ampliada por determinação judicial e que o “projeto de extensão está em estudo”, embora já tenha contratado a empresa para realizar o serviço por meio de processo licitatório. Nessa semana, a vizinhança flagrou as ações de medição na rua Lítio.
Além de não dar mais detalhes do projeto e especificar os possíveis prejuízos que a área verde sofrerá, a Prefeitura sequer estuda uma possível compensação ambiental para a vegetação da praça. Conforme a Folha apurou, não existe processo aberto na Secretaria do Verde e Meio Ambiente. A reportagem também questionou se o governo municipal tentou recorrer da decisão judicial para garantir a preservação da praça e não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
A vizinhança denuncia que o único beneficiado com o prolongamento da rua Lítio é um empreendimento que será erguido em terreno particular que margeia a praça. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano confirma que para o local constam os alvarás de Aprovação e de Execução de Edificação Nova, ambos emitidos em 2016. O uso do futuro empreendimento é residencial. De acordo com a ressalva do Alvará de Aprovação, “não é permitido nenhuma modalidade de acesso, seja de veículos ou de pedestres, pela rua Lítio”.
Morador do Parque da Mooca há 40 anos e um dos batalhadores pela implantação da praça Dr. Eulógio Emilio Martinez, Henrique Leandro está temeroso e descontente com a Prefeitura. “Penso que os direitos de cada indivíduo terminam onde começam os de outrem. Não sou contra a construção de novos edifícios, mas faço sérias restrições aos procedimentos predatórios daqueles que ignoram o impacto ambiental consequente de tais construções”, destaca.
Leandro reside na rua Vicente Romano que também termina na praça ameaçada pela obra em curso da Prefeitura. “Aqui na Vicente Romano, uma pequena via de apenas 200 metros de extensão, também foi autorizada a construção de um edifício de 20 andares e 120 vagas de garagem. Assim como está ocorrendo na rua Lítio, o interesse de um único proprietário irá provocar a descaracterização total do espaço residencial do entorno. Será um desastre na região”, destaca o morador. Ele comenta que, em media, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) no trecho custa R$ 10 mil por ano. “E a Subprefeitura Mooca não teve a preocupação de nos informar, dialogar e apoiar o lado da comunidade. A praça que tem largura de cerca de 30 metros será mutilada por uma rua, árvores serão arrancadas e tudo está sendo feito sem um adequado e abrangente estudo do impacto ambiental do entorno”, reclama. “Os interesses dos moradores, fatores de risco ambiental e, até, de possível contaminação do solo, que fica a poucos metros da área da antiga Esso, estão sendo ignorados sob a pressão econômica dos interesses imobiliários”, completa.
O jornalista e residente do Parque da Mooca, Mauricio Rudner, também está indignado. “Se pensam que os moradores vão aceitar passivamente, estão enganados! Enquanto a gente briga por um parque no antigo terreno da Esso, justamente pela escassez de áreas verdes na região, o poder público nos dá mais uma rasteira e vai destruir a praça que foi uma conquista da comunidade, após décadas de luta para acabar com um lixão. Vamos recorrer a todos os órgãos ao nosso alcance para barrar essa situação absurda e inaceitável”, afirma.