O importante projeto para melhorias na rua dos Crépis, na Vila Bela, continua no tradicional ritmo do serviço público: ora parado e ora tramitando lentamente de um gabinete para outro, sem qualquer previsão de ser colocado em prática. A batalha de moradores e vizinhos da rua, que também acabam sofrendo as consequências do abandono, começou há décadas, mas esperava-se que após o desmoronamento de terra originária da rua das Cobéias em 2010, o caso fosse tratado com mais atenção e preocupação pelo governo municipal. Enquanto a Prefeitura não age, moradores daquela região da Vila Bela enfrentam uma série sem fim de problemas.
A proposta que ainda não saiu do papel prevê a eliminação de riscos de deslizamentos com construção de encostas e implantação de galerias para drenagem de águas pluviais, além da execução de pavimentação no trecho problemático da rua dos Crépis, que também não tem calçada e iluminação suficiente. Além da falta de empenho por parte da Prefeitura para agilizar as obras, o ponto não recebe zeladoria adequada. A falta de infraestrutura, inclusive sanitária, gera grande preocupação. Moradores temem doenças por conviver com esgoto a céu aberto, poeira dos cascalhos e da terra batida, poças de água formadas pela chuva e nascentes, além do acúmulo de lixo. Também enfrentam o matagal que propicia o aparecimento de vários insetos que até invadem residências de outras ruas.
Um dos principais batalhadores pelas necessárias intervenções foi Odair Sanches, que residia na rua das Ipoméias e faleceu em dezembro passado sem ver as melhorias. Sanches representou a comunidade em várias reuniões na Prefeitura. Em maio do ano passado, ocasião em que a Folha publicou uma das muitas matérias alertando sobre os problemas, ele conversou com a reportagem e externou a sua indignação com a morosidade do governo municipal: “A situação está cada vez pior. Devido ao abandono do local e do esgoto que corre a céu aberto, ratos, aranhas e muitos mosquitos invadem as residências do entorno. Meu imóvel tinha uma entrada e uma saída pela rua dos Crépis que está inutilizada com o desmoronamento ocorrido”. Dois meses depois, ele esteve na Prefeitura Regional de Vila Prudente, junto com a vereadora Juliana Cardoso (PT), que também se empenha para resolver a situação da rua, e ouviram que “o projeto teria prioridade”.
Há pouco mais de um ano na rua das Ipoméias, o morador que preferiu se identificar como Ricardo, conta que a sua casa faz fundos com o trecho desprezado da rua dos Crépis e por conta disso, tem a impressão que vive em área de mata. “Encontro escorpiões, lacraias, baratas, aranhas e todo tipo de insetos nocivos em minha residência. Além de conviver com matagal, entulho, lixo e insalubridade em todos os aspectos no terreno dos fundos”, contou à reportagem da Folha na manhã de ontem.
A Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais informou à Folha que aguarda a finalização de um laudo elaborado pelo setor técnico de obras e serviços, que apontará quais serão as próximas ações na região da Vila Bela. Ainda de acordo com a Secretaria, a previsão é que o laudo seria concluído até o final de abril. A Folha pedirá novo posicionamento na próxima semana.
Histórico de luta e descaso
Em janeiro de 2010 o desmoronamento de terra misturada com entulho originário da rua das Cobéias fechou o acesso de cerca de 20 residências da rua dos Crépis e ocasionou rachaduras em vários imóveis. Muitos moradores ainda pagam IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) duplo por terem duas entradas em suas casas, mas a da Crépis não existe desde o deslizamento.
O ocorrido poderia ter sido evitado, pois a obra para reurbanizar e viabilizar a rua é pleiteada pela comunidade há mais de 50 anos. Mas, somente no final de 2014 foi licitada e mesmo com verba empenhada, não foi colocada em prática. A alegação da Prefeitura na época foi que a contenção projetada nessa primeira proposta não seria suficiente para proteger a encosta.
Na tentativa de solucionar o problema, o então subprefeito de Vila Prudente em 2016, Miguel Gianetti, com o auxílio do chefe de gabinete André Kuchar, conseguiu abrir nova licitação para reavaliar o projeto. A vencedora da concorrência foi a empresa Soleil, que além de pavimentação e drenagem da via, apresentou detalhado estudo incluindo intervenções geológicas para conter a encosta. O valor estimado da obra foi orçado em R$ 2,2 milhões.
Em 2016, durante os debates para definir a previsão orçamentária para o ano seguinte, graças ao pedido da vereadora Juliana Cardoso (PT), a Câmara Municipal aprovou a indicação da rua dos Crépis para ser incluída na dotação de obras emergenciais em áreas de risco da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, mas, como não ocorreu a liberação de verba em 2017, o projeto continuou parado.
Segundo a assessoria da vereadora, no final do ano passado aconteceu o mesmo empenho para incluir a rua dos Crépis no orçamento deste ano, mas a base do governo rejeitou.