Na tarde da última terça-feira, dia 27, o ex-diretor de marketing do Clube Atlético Juventus, Adriano Daré, esteve na Folha. Daré é o único dos envolvidos diretamente no episódio dos áudios vazados para associados e à imprensa que ainda não havia sido ouvido pelo jornal. Ele optou por comparecer nesta semana porque já estava em posse de um parecer técnico, expedido pelo Instituto de Perícias Adrian Ramos (Inpar), concluindo que análises auditivas e exame expectrográfico das gravações não detectaram “descontinuidade, alteração no padrão e/ou quaisquer outros indícios que pudessem ser associados à tentativa de edição e/ou montagem”. De acordo com Daré, o documento será juntado a outros no processo que pretende dar entrada na Justiça para esclarecer devidamente os fatos.
Os referidos áudios, gravados em mais de uma data, são de outubro do ano passado e o caso já estava sendo tratado internamente no Conselho Deliberativo do clube quando veio à tona publicamente em uma matéria do portal Gazeta Esportiva de 7 de fevereiro. As gravações expõe a suposta tentativa da diretoria executiva de alterar acordos contratuais para não acusar cerca de R$ 190 mil de prejuízos em dois eventos ocorridos no Juventus em setembro.
Durante a conversa com a reportagem e o presidente da Folha, Newton Zadra, o ex-diretor citou alguns episódios que, segundo ele, o fizeram perder a confiança na relação com a diretoria executiva do clube e começou a se preocupar em ser envolvido em situações que não concordava. O estopim, de acordo com Daré, foi o pedido para assinar contratos com datas retroativas que envolveriam ilegalmente a sua empresa particular. Por isso, afirmou que recorreu às gravações de conversas entre ele, o presidente do clube Domingos Sanches e vice Saulo Moisés Franciscon. “Em nenhum momento tive a intenção de prejudicar as pessoas, o presidente Sanches e o Saulo devem ser preservados como homens, como pais de família e como ser humanos. E também acho que eles não devem ser execrados e massacrados como o Conselho quer e do qual não faço parte. Essa história que o Sanches está falando que foi uma armação arquitetada, não é verdade”, ressalta. “Não tenho complô”, afirmou durante a entrevista.
Daré defende que não foi o responsável pelo vazamento dos áudios para associados e à imprensa e garante que também se prejudicou pessoalmente e profissionalmente com a repercussão negativa dos fatos. “Esse vazamento foi ruim para mim e para o clube”, ressalta. “E acho até que poderíamos entrar com um processo em conjunto para saber quem divulgou essas informações”, acrescenta.
O ex-diretor admite que passou os áudios para um conselheiro, que é seu amigo, com o objetivo de pedir orientação, principalmente porque nessa época, em meados de novembro, afirma que passou a receber sucessivas chamadas telefônicas de empresas fornecedoras relacionadas ao clube e entende que não é o responsável por pagar os serviços prestados. Ele também apresentou as gravações durante reunião com vários membros do Conselho Deliberativo em que foi chamado para participar em dezembro, porque o caso já estava sendo apurado internamente. Na ocasião, o ex-diretor afirma que foi usado um amplificador de som para todos conseguirem ouvir melhor.
O ex-diretor ressaltou que, assim como os demais diretores do clube, trabalhou voluntariamente. “Eu tenho o meu trabalho, não preciso do clube, o clube que precisa de pessoas. Sempre achei que era mal gerido e quis ajudar o Sanches e o Franciscon e aprender também, porque estamos sempre aprendendo com as experiências”, afirmou.
Formado em administração com especialização em marketing, Daré afirma que o primeiro contato com o marketing do Juventus foi em janeiro do ano passado, pouco antes da partida semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando o Moleque Travesso teria jogo televisionado contra o Corinthians. Ele alertou que era um bom momento para o clube buscar patrocínio para a camisa naquela partida e teve sucesso na negociação com um grande patrocinador. “Nesse meio tempo, o responsável pelo marketing do Juventus foi demitido e outra pessoa assumiu como coordenadora de eventos e como sou de martketing, me pediram para dar uma força”, ressalta. “Mas, que fique claro, eu sou marketing e qual era o meu papel: trazer patrocínios, trazer alianças, mas o presidente alega para toda a imprensa que os eventos eram meus e eu estava querendo jogar o prejuízo nas costas do clube”, argumenta o ex-diretor que garante que todos os contratos relativos aos polêmicos eventos estão em nome do Juventus, assinados pelo presidente e o departamento jurídico do clube. Daré afirma ainda que não sabia de todos os valores relacionados aos eventos “porque não tinha acesso às planilhas” e voltou a frisar que cuidava do marketing, mas o Juventus tem um departamento próprio de eventos.