Na madrugada do último sábado, dia 30, a família Neves recebeu um dos mais temíveis dos telefonemas: do outro lado da linha, um policial pedia o comparecimento no distrito policial. “Minha mãe nem conseguiu continuar a conversa e meu pai precisou pegar o telefone para entender o que estava acontecendo. Quando chegamos à delegacia, recebemos a notícia que meu irmão estava morto”, conta Marta Regina das Neves, irmã de Thiago Neves, de 25 anos, vítima de atropelamento na altura do número 770 da avenida Anhaia Mello. Ele foi atingido violentamente, provavelmente, por uma Tucson prata em velocidade muito superior ao limite máximo da via, 50 km/h, e morreu no local. Seu corpo foi parar a cerca de 150 metros do ponto do choque. Imagens de câmeras de segurança de empresas das imediações, que flagraram o atropelamento, mostram outro automóvel, um Gol verde, também em alta velocidade, supostamente acompanhando a Tucson. Por conta das cenas, a polícia trabalha com a hipótese dos veículos estarem disputando racha. Nenhum dos motoristas parou para tentar prestar socorro.
Thiago Neves voltava da Universidade São Judas Tadeu, onde era estudante do último ano de Engenharia de Produção Mecânica. Ele já trabalhava em uma empresa do ramo e se preparava para investir no próprio negócio após a conclusão do curso. A irmã conta que na sexta-feira, dia 29, ele saiu da faculdade e foi comer uma pizza com alguns amigos em uma pizzaria na Mooca. Na volta, um colega deu carona até o final da avenida Paes de Barros. Quando foi atropelado, Thiago tentava atravessar a avenida Anhaia Mello para o sentido bairro, para pegar o ônibus com destino à Vila Ema, onde residia. As imagens captadas mostram que, quando a Tucson surgiu, o jovem chegou a correr para tentar escapar.
“É muito doloroso. Além da alta velocidade, nem tentaram ajudar o meu irmão. Todos fugiram do local. Não se faz isso nem com bicho. Largaram o Thiago como se fosse um lixo que passa por cima na rua”, lamenta Marta. “Prometi que não vou descansar enquanto não localizarmos esse motorista. O Thiago não vai voltar, mas temos que frear essa pessoa para impedir que cause a mesma dor que estamos sentindo para outras famílias”, desabafa. “Agradeço a equipe da delegacia que tem mostrado muito empenho. Nessas horas, a única coisa que nos conforta é saber que tem pessoas dispostas a nos ajudar”.
O caso foi registrado no 56º Distrito Policial – Vila Alpina como homicídio culposo e fuga do local do acidente, sendo passível de ter a natureza modificada para homicídio doloso (quando há intenção), com dolo eventual, caso seja comprovado que os veículos envolvidos disputavam racha.
No boletim de ocorrência consta que o atropelamento aconteceu por volta da uma hora da madrugada e o depoimento de uma testemunha, que é segurança de um estabelecimento das proximidades, também levanta a hipótese de racha entre o Gol e a Tucson quando Thiago foi atingido. A testemunha confirma ainda que os dois motoristas fugiram do local sem prestar socorro.
A delegada titular do 56º Distrito, Silvana Santieri Françolin, explicou à reportagem da Folha, que através da placa do Gol, anotada por uma testemunha, foi possível localizar o condutor do veiculo, morador do Jardim Independência. “Nós o intimamos para vir à delegacia e a primeira pergunta que fiz foi porque ele não parou para ajudar a vítima. Ele respondeu que, após presenciar o acidente, optou por seguir a Tucson para tentar anotar a placa, mas não teve êxito. Em todos os momentos negou estar participando de racha e o incluímos no boletim de ocorrência como averiguado. O Gol foi apreendido e permanecerá conosco até a conclusão das investigações”, contou a delegada ressaltando que as equipes estão empenhadas em elucidar o caso. A principal meta é localizar o motorista da Tucson, que continuava desconhecido até o fechamento desta matéria ontem. “O delegado assistente esteve na quarta-feira, na sede da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) buscando imagens de radares que podem ter flagrado a passagem da Tucson e, consequentemente, o número da placa. Nada justifica a velocidade deste veículo em uma via que o limite é de 50 km/h”, enfatizou.
Na manhã de ontem a Folha conversou com o delegado assistente, o qual afirmou que está aguardando a transmissão de dados da CET para dar continuidade nas investigações.
Família e amigos fazem ato no local do acidente
Neste sábado, dia 7, às 14h, haverá manifestação na altura do número 774 da avenida Anhaia Mello – ponto do atropelamento que tirou a vida de Thiago Neves. O ato está sendo organizado por familiares e amigos do jovem. “Sei que para o Thiago não vai adiantar mais, mas não podemos ficar calados e deixar que mais uma impunidade aconteça”, comenta Christian Herbet Canuto, primo da vítima.
“Já comunicamos a CET sobre o ato e esperamos ter grande adesão. Não é justo ver uma vida ser abreviada dessa forma. Espero que as pessoas se sensibilizem e nos ajudem nessa causa”, pede Canuto. Desde a última quarta-feira, dia 4, a ONG Não Foi Acidente, com reconhecida luta contra a impunidade no trânsito, está ajudando a família a divulgar o caso e o ato deste sábado.
Pessoal peço por gentileza que lute com a gente para que nossas leis sejam mais severas para esse tipo de crime. A policia encontrou o motorista que matou covardemente o Thiago. Porém foi indiciado como homicídio culposo sem intenção de matar. Um absurdo! Como alguém que ultrapassa a velocidade em 3 vezes do que se é permitido e ainda foge não prestando socorro pode sair assim pela porta da frente da delegacia como se tivesse matado um ratinho? Ele acabou com nossas vidas. Vamos fazer uma nova manifestação amanhã dia 10 /07/2016 na av. Anhaia Mello na altura do numero 770. Peço que nos ajudem com a sua presença pois somos poucos e precisamos de apoio para que alguém olhem para nossa dor. Obrigada!