“Família vende tudo”, “Open House”, “Bota Fora”. Sabe aqueles cartazes que identificam uma prática muito comum entre famílias que abrem suas casas para a venda de seus móveis, roupas e objetos de decoração?
Pois o governo municipal resolveu adotar a mesma prática com São Paulo. Com um pequeno detalhe que faz toda a diferença: o PT, como de praxe, anuncia e comercializa uma mercadoria que não possui. O que está em jogo é a preservação dos nossos bairros e a garantia de uma mínima qualidade de vida às nossas famílias, para que possamos manter alguma dignidade, saúde, segurança e infra-estrutura urbana, enquanto a Prefeitura insiste em botar uma etiqueta de preço na testa de cada paulistano, como se fossemos todos uns tolos mercenários e a nossa cidadania estivesse à venda.
Mas, aviso aos navegantes: vamos mobilizar a população, acionar o Ministério Público e pressionar a Câmara Municipal contra o (des)governo Haddad e as medidas totalmente irresponsáveis e desastrosas que o Executivo (com o necessário aval do Legislativo) pretende tomar, por exemplo, com a nova Lei de Zoneamento e a Operação Urbana Bairros do Tamanduateí.
Em resumo, a Prefeitura pretende aumentar o chamado “potencial construtivo”, atendendo ao interesse do mercado imobiliário e acelerando a degradação ambiental e a deterioração urbana ao superpovoar uma região que já tem o trânsito estrangulado e carece de equipamentos sociais, de lazer e de áreas verdes.
Mas como funciona isso, afinal? Na prática, construtoras e incorporadoras pagam pelo direito de desrespeitar os limites da lei para erguer seus condomínios luxuosos, com andares e apartamentos em quantidade bem acima do permitido, bancando em troca algumas unidades “populares” e disfarçando com áreas verdes que funcionam muito mais como jardins dos seus empreendimentos do que propriamente para a totalidade dos moradores vizinhos.
“Se a população não se manifestar, a Prefeitura vai adensar, adensar, adensar…”, alerta a jornalista Kátia Leite, editora desta Folha de Vila Prudente. “A grande dúvida é se as melhorias virão na mesma proporção. Eu duvido e só estou imaginando a estação de metrô daqui a alguns anos… Fiquem atentos! Defendam a região onde vivem!”, completa.
“No atual projeto, não há qualquer solução convincente para melhorar o fluxo de carros, muito menos o impacto dos que virão com o adensamento da região. Ao contrário, propõe obras com o objetivo de trazer para dentro do bairro parte do congestionamento da Avenida do Estado”, afirma Eduardo Odloak, ex-subprefeito da Mooca, em artigo publicada na mesma Folha de Vila Prudente. O texto diz ainda: “O Plano propõe aumento de parques e plantio de árvores, mas não convence com as soluções apresentadas. É sabido que a região está consolidada, quase que totalmente impermeabilizada, consubstanciando-se em uma das áreas mais áridas da cidade, concentrando, entre Brás e Mooca, talvez, a mais danosa ilha de calor de São Paulo”.
“A promessa é de se desenvolver uma especulação imobiliária controlada”, explica a arquiteta e urbanista Helena Werneck. “A pergunta que não quer calar é se o diabo velho do capitalismo aceita novos truques?”.
Enquanto acena com uma mão, o PT tira com a outra: Haddad alega não ter recursos para desapropriar as áreas destinadas aos prometidos (e necessários) parques na Mooca e na Vila Ema, para citar dois exemplos, ao mesmo tempo em que promete adquirir terrenos disponíveis para uma infinidade de equipamentos sociais, moradias populares e “novos parques” na região. Como? Mentira!
Neste clima de fim-de-feira, véspera de ano eleitoral e com uma administração ineficaz, despreparada e incompetente, não pensem que passarão impunemente sobre a nossa história nem vão comercializar o futuro dos nossos bairros e das nossas famílias! Não estamos à venda!
* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP e morador da Mooca.