O que mais se ouvia na região era a indagação: “de novo?”. A notícia soava como velha, mas, na verdade, era o problema que se repetia. A adutora que passa sob a esquina da avenida Vila Ema com a rua Domingos Afonso, na Santa Clara, rompeu durante a madrugada da terça-feira, dia 10, e uma enorme cratera surgiu no asfalto – parecia que o trecho havia sido bombardeado. O abastecimento ficou cortado por quase 24 horas – embora levou mais tempo para a água realmente voltar às torneiras nos mais de 15 bairros afetados. O tráfego de veículos ficou interditado até a tarde de ontem, causando complicações ao trânsito e prejuízos aos comerciantes. Situações bem parecidas com o que ocorreu menos de quatro meses atrás, em 16 de outubro, quando um vazamento na rede a poucos metros da peça rompida nesta semana, também deixou os mesmos 53 mil pontos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) sem água, atingindo mais de 200 mil pessoas.
O estouro, segundo testemunhas, ocorreu por volta das 2h e cerca de uma hora e meia depois, a Sabesp interrompeu o fornecimento, fazendo com que muitos moradores da região já acordassem na manhã da terça sem água em casa. Enquanto isso, o trecho ao redor da adutora rompida virou um grande lamaçal que invadiu inclusive parte das pistas da avenida Anhaia Mello, sentido centro.
Os trabalhos na adutora começaram no final da manhã, porque segundo a assessoria da Sabesp foi necessário esperar a água parar de circular pela rede, o que não ocorre imediatamente após o corte. Enquanto isso, a cena era de muito desperdício. “Estou indignado de ver toda essa água escoando pela rua de novo! É a mesma situação que vivemos meses atrás, mas em uma magnitude muito maior. Enquanto a gente fica colhendo água de chuva e da máquina de lavar para reutilizar, a Sabesp simplesmente deixa tudo escorrer!”, esbravejou o economista aposentado Domingos Fernandes, que reside em uma rua próxima. “E não foi por falta de aviso: cerca de 10 dias atrás liguei para Sabesp e comuniquei que o asfalto estava afundando de novo, mas não deram atenção. Só aparecem quando surge o problemão!”.
No vazamento de outubro, a Sabesp alegou que a água de arrebentação é passível de contaminação e acúmulo de resíduos não garantindo a qualidade mínima exigida, inclusive para reuso.
De acordo com a Sabesp, apesar dos poucos metros de diferença entre a ocorrência de outubro e a desta semana, não há relação entre os fatos. A Companhia explicou que na primeira ocorreu vazamento na junta que faz a ligação entre dois tubos e foi provocado pela movimentação do solo, em decorrência do tráfego intenso no trecho. Desta vez, o rompimento atingiu uma peça com dimensões maiores, mas, a Sabesp não soube explicar a causa e informou que será investigada a partir da elaboração de laudos técnicos.
De acordo com a Sabesp, o reparo foi concluído à 0h40 da quarta-feira, dia 11, e o abastecimento do setor foi recuperado de forma gradual. A Companhia também garantiu que o esquema de redução de pressão do reservatório Vila Alpina, que vigora diariamente das 13h às 5h30 e que atende os bairros afetados, foi readequado para garantir o fornecimento a todos os clientes. Conforme a Folha apurou, em algumas residências, o abastecimento só retornou no início da tarde de anteontem e houve muitas reclamações sobre a qualidade da água que saía das torneiras.
Interdição e caos
O conserto do pavimento deu ainda mais dor de cabeça. Apesar de a Sabesp informar que a vala foi aterrada na manhã da quarta e na sequência começou a ser executada a base de concreto, o trecho da avenida Vila Ema e da rua Domingos Afonso ficou interditado até a tarde de ontem, exigindo o desvio de rota de dez linhas de ônibus e deixando oito pontos inutilizados. Motoristas também enfrentaram congestionamentos nos horários de pico.
Clauber Moura Araujo, comerciante da avenida Vila Ema, reclamou que a via chegou a ser liberada ao trânsito no início da tarde da quarta, mas bastaram os primeiros veículos passarem para o asfalto começar a ceder. “Tiveram que interditar de novo. Que tipo de serviço foi feito? Sem contar que deixaram a rua suja e levanta uma nuvem de poeira que invade nossos comércios”, comenta Araujo que teve queda de cerca de 40% do movimento de sua lanchonete por conta do rompimento da adutora. Um funcionário do posto de combustíveis do trecho avisou que o patrão decidiu processar a Sabesp. “Funcionamos 24 horas e com essa confusão foram mais de 60 horas fechados. A água da arrebentação também invadiu o posto, atingindo até o escritório da administração. O prejuízo foi grande”, conta.
Questionada, a Sabesp explicou que parte do serviço de reposição do asfalto seria refeito após o novo solapamento e que também seria providenciada a limpeza das vias.