É interessante observar como o feriado de 15 de novembro nunca teve o prestígio que requereria como data cívica, tratando-se apenas de uma efeméride nacional. Da mesma forma como Aristides Lobo escrevera, na época da proclamação da República, em 1889, de que o povo assistiu tudo aquilo “bestializado”, ainda hoje, a população brasileira simplesmente ignora o que o feriado comemora. Muitos agradecem por uma pausa a mais no trabalho, e procuram curtir o feriado, descansando e passeando, sem demonstrar interesse algum pelo que a data busca rememorar. Isso confirma, quase todos os anos, de que o golpe de 1889 foi mesmo impopular, não contou com a adesão do povo, e até hoje é tratado com indiferença pela população. É apenas um feriado a mais.
Isso leva a reflexão de por que a data não empolga? Por que os governos não aproveitam também para realizar eventos no sentido de valorizar a cidadania, a democracia e outros temas de interesse público nessa semana? A grande contribuição poderia ser no sentido de defender a democracia, o seu aperfeiçoamento. Afinal, hoje este é o grande desafio: fortalecer a democracia, em todos os aspectos. Fala-se tanto em reforma política, tão necessária, para os ajustes que aprimorem o sistema democrático. Nem mesmo é feito um pronunciamento dos governantes nesta data. Tudo isso leva ao pouco interesse em pensar a realidade brasileira, cultural e política, em momentos assim. O feriado teria mais sentido, se houvessem iniciativas que justificassem a sua existência. Veja, por exemplo, as datas de aniversário dos municípios brasileiros, que são sempre bem comemoradas, em nível local. Por que com a proclamação da República há este descaso todo?
Talvez haja uma explicação para isso, que o próprio Aristides Lobo havia percebido: a forma com que o povo ficou alheio a tudo o que aconteceu. A derrubada da Monarquia não foi um movimento popular (ao contrário, por exemplo, do abolicionismo). Até hoje a Princesa Isabel tem um carisma todo especial, entre o povo brasileiro, constatado recentemente numa enquete promovida pelo SBT, em que ela ficou em segundo lugar no concurso televisivo: “O maior brasileiro de todos os tempos”. A República talvez nunca empolgou, porque não teve apelo popular. Que o 15 de novembro então suscite reflexões do que podemos fazer para aperfeiçoar cada vez mais a nossa democracia, pelo desenvolvimento do Brasil. É o que propomos para que a data seja melhor valorizada.
* Valmor Bolan é Doutor em Sociologia e Especialista em Gestão Universitária pelo IGLU (Instituto de Gestão e Liderança Interamericano) da OUI (Organização Universitária Interamericana) com sede em Montreal, Canadá.