Quando o assunto parecia resolvido, o Tribunal de Justiça de São Paulo traz de volta a polêmica lei que retira as sacolinhas plásticas dos supermercados. Se não houver outra liminar ou recurso que suspenda a decisão, dentro de 30 dias a embalagem estará proibida e, com certeza, voltará a mentirosa propaganda de que isso é para “salvar o planeta”. Ao mesmo tempo em que acaba com as sacolinhas, a lei nada faz em relação aos outros milhares de produtos embalados com plástico que, mau descartado, pode trazer danos ambientais iguais ou até maiores do que os causados pelas sacolas.
O plástico é uma conquista tecnológica. Substituiu com vantagem e maleabilidade os metais, vidros e outras matérias primas de maior custo e difícil produção. Hoje existem no mercado mais de 400 tipos de plásticos, constituindo desde simples embalagens até sofisticadas peças de alta precisão. O perverso no setor é que, apesar de ser produto reciclável, onde de uma peça velha se faz outra nova, não se desenvolveu uma adequada política de descarte e reaproveitamento. As peças que poderiam voltar à indústria processadora são irresponsavelmente lançadas ao lixo ou, pior que isso, jogadas nas galerias de águas pluviais ou no fundo dos córregos e rios, provocando enchentes que prejudicam a população. Até os mares estão largamente poluídos por milhares de toneladas de plásticos e outros manufaturados, que causam grande impacto ambiental.
Infelizmente, a urbanização, a industrialização e todo o desenvolvimento se dão de forma predatória. As cidades surgiram e por muito tempo jogaram no rio seus dejetos até que, para não chafurdar, começaram a tratá-los, num processo que ainda não se completou. Só recentemente as indústrias foram chamadas a elaborar programas de coleta e reciclagem de seus produtos que perdem a eficiência. No Brasil isso hoje ocorre especialmente no setor eletro-eletrônico. No plástico ainda não há uma política mais agressiva e toda a reciclagem ocorre por puro interesse econômico e social e com pouca preocupação ambiental. Isso precisa mudar.
Se for proibir tudo o que causa poluição e dano ambiental, além das sacolinhas, a sociedade precisa também parar de fabricar pneus, automóveis, eletromésticos, móveis e toda aquela gama de produtos que hoje se encontra facilmente dentro dos rios. Em vez de proibir, é preciso exigir o uso responsável e a reciclagem eficiente. Proibição é puro retrocesso…
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (ASPOMIL).