Pode ser difícil de acreditar, mas, em pleno ano de 2014 algumas vias da maior cidade da América Latina ainda não contam com asfalto. E se engana quem pensa que o descaso acontece apenas nas áreas periféricas de São Paulo. Um exemplo é a rua dos Crepis, no bairro de Vila Bela, localizado no distrito de Vila Prudente. Apesar de os moradores pagarem seus impostos, parece que a via foi esquecida pela Prefeitura. Entre outras dificuldades, a situação gera problemas de saúde aos residentes, que já cansaram de ouvir promessas de diversos políticos.
“Todo ano de eleição falam que a rua dos Crepis finalmente será asfaltada. Porém, resido aqui há mais de 40 anos e nunca é cumprido. Temos que varrer nossas casas todos os dias por conta da poeira, que estraga os móveis e suja o piso. Mas o maior problema é o ar que somos obrigados a respirar. A maioria das pessoas da rua sofre com doenças respiratórias. As crianças são as mais castigadas. Pagamos um IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) caro e não merecemos isso”, declara a dona de casa Isaltina Maria Pinto.
Quem também reclama da situação é a moradora Daiane dos Santos. “Meu filho tem bronquite e sofre muito. Principalmente nas épocas de seca, como a que estamos vivendo hoje. Tenho que levá-lo ao médico sempre. E a poeira da rua agrava o problema. Começo a achar que nunca vai ser asfaltada, só prometem”, ressaltou Daiane.
Já a aposentada Marlene Veríssimo Camargo, que mora na rua dos Crepis há 65 anos, afirma que o problema é a falta de vontade dos órgãos públicos. “Essa via não tem nem 500 metros de extensão. E o pior é que tem gente da Subprefeitura que garante que a verba para o serviço já foi repassada. Não sei o que estão esperando. Meus netos sofrem com bronquite e rinite por conta da poeira da rua. Varro minha casa todo dia, mas não dá conta de tanto pó. Acho que por ser uma via pequena, com poucos eleitores, não somos prioridade da Prefeitura. Estou cansada dessa situação”, completou Marlene.
Questionada, a Subprefeitura de Vila Prudente informou que a contratação do projeto de drenagem e pavimentação da rua dos Crepis faz parte da programação de obras do órgão. Porém, foi destacado que tal serviço tem custo “extremamente elevado”, sendo assim, dificulta a liberação da verba por parte da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. Não há prazo para a via ser asfaltada.
Pavimentação não é sinônimo de asfalto, em primeiro lugar. O que menos se precisa é de mais área impermeável nessa região de vertente direta para o Tamanduateí.
Em segundo lugar, essa é uma rua sem saída no meio de uma linha de drenagem (que origina um pequeno córrego que corre para a várzea), cercada por mato alto e de difícil acesso. Mesmo morando a um quarteirão daí, eu nunca me atrevi a entrar.
A descontinuidade do tecido urbano, a falta de movimento e o mato fechado fazem com que essa rua seja extremamente perigosa, já ouvi relatos de estupros e despejo de cadáveres aí – além de não ser raro presenciar helicópteros da polícia sobre o local.
Sem sombra de dúvida, a pavimentação não é o maior dos problemas. Há de se preocupar com a segurança e a inserção urbana em primeiro lugar, juntamente com a questão da drenagem. E – por fim, pensar em alternativas permeáveis para a pavimentação, que não escorram toda a água da chuva imediatamente para o Tamanduateí.