Por volta das 16h da última segunda-feira, dia 21, cerca de 70 moradores da favela de Vila Prudente começaram um protesto devido à morte de um jovem na comunidade em uma ação policial dois dias antes e contra a constante força da Polícia Militar no local. A manifestação teve início com o bloqueio dos dois sentidos da avenida Anhaia Mello nas proximidades do viaduto Grande São Paulo. Com a chegada da PM, o ato se estendeu também para as ruas Dianópolis e Pacheco e Chaves. O grupo bloqueou a passagem dos veículos com lixo e entulho, ateando fogo nos materiais. A Força Tática do 21º Batalhão utilizou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e balas de borracha para tentar dispersar os manifestantes. A confusão, no entanto, só teve fim por volta das 20h30, após a chegada do Batalhão de Choque.
Nas cerca de 4h de confronto, motoristas de veículos particulares e passageiros de ônibus, além do restante dos moradores da favela, ficaram sem ter como sair do local enquanto a PM usava as bombas e os manifestantes ativaram pedras e ateavam fogo nas barricadas.
De acordo com líderes da comunidade, a morte do jovem de 20 anos ocorrida no início da noite de sábado, durante uma ação policial no interior da favela, foi o estopim para a revolta dos moradores, que, segundo eles, reclamam das “frequentes e truculentas” operações da PM no local. “O rapaz foi assassinado por um policial com um tiro nas costas. Ele foi abordado de forma abusiva e reclamou, iniciando uma confusão com um dos policiais, que mandou ele tirar a camisa e sair andando. Neste momento ele foi alvejado pelas costas”, afirma um dos líderes comunitários. “O enterro do rapaz foi na segunda-feira e ganharam força as conversas sobre os constantes abusos da polícia nestas ações na comunidade, onde residem mais de quatro mil crianças. Na volta para a favela, um grupo resolveu então protestar na avenida. O que era para ser pacífico terminou em confronto com a chegada da PM”.
Questionado pela reportagem, o setor de comunicação do 21º Batalhão de Polícia Militar destacou apenas que o protesto, que não teve feridos e nenhum detido, ocorreu após a morte de um individuo em intervenção policial. Foi ressaltado ainda que para conter a manifestação, o 21º contou com o apoio de outros dois batalhões, 8º e 51º, e da Tropa de Choque.
Boletim de ocorrência
O caso da morte do jovem foi registrado no 56º Distrito Policial – Vila Alpina e repassado para o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), sendo elaborado como homicídio simples e tráfico de entorpecentes.
De acordo com o depoimento dos policiais no boletim de ocorrência, a PM realizava patrulhamento de rotina no interior da favela no início da noite do último sábado, dia 19, quando um grupo de homens começou a correr pelas vielas da comunidade e um dos suspeitos teria atirado antes de fugir. Três deles acabaram alcançados, sendo que dois foram liberados por serem usuários de droga. O outro, um homem de 30 anos, estaria vendendo os entorpecentes e teve a prisão decretada no local.
Ainda segundo o depoimento dos policiais, no mesmo momento, uma outra equipe teria entrado na favela por outro ponto e se deparou com um adolescente de 17 anos, que acabou detido por carregar uma sacola cheia de drogas. Foi quando os policiais teriam escutado o tiro e parte da equipe seguiu para o interior da favela. Em uma das vielas teriam se deparado com o jovem de 20 anos, que, de acordo com os policiais, portava uma pistola 9 milímetros e atirou ao receber voz de prisão, sendo alvejado na troca de tiros.
O rapaz chegou a ser socorrido e levado ao hospital do Ipiranga, onde não resistiu e veio a óbito. No boletim de ocorrência, ainda consta um laudo do hospital apontando que o único ferimento do jovem era uma perfuração na região lombar.
Reunião
Na terça-feira, dia 22, representantes de entidades que organizam atividades na favela se reuniram e criaram o Fórum de Segurança da Favela de Vila Prudente, com o intuito de discutir, além de outros temas ligados à violência, o constante uso da força policial na comunidade. A primeira reunião do grupo acontece na próxima terça-feira, dia 29, às 17h, com membros das Ouvidorias das policias Civil e Militar, do Movimento Nacional de Direitos Humanos e do presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana.