Desvairadamente, o clima quase que caótico de nossa Pauliceia nos remete aos versos do poeta Mario de Andrade: “Milhões de rosas, para esta grave melancolia. Milhões de rosas, milhões de castigos”.
De fato, grave e melancólico é o cenário cotidiano das últimas semanas, com a cidade sendo tomada por uma minoria que, na defesa de seus direitos, se julga no direito de impedir que o cidadão trabalhador, o aposentado e o estudante utilizem o transporte público, paralisando esse serviço de modo inesperado e pouco gentil.
Seguidas manifestações, algumas inclusive sem foco definido, atrapalham o trânsito em movimentadas vias rodeadas por hospitais e escolas. Será que não existe outra forma de protestar sem atrapalhar o cidadão?
A cidade já amanhece cansada e anoitece exausta, contabilizando perdas e danos: marginais bloqueadas por manifestantes; Avenida Paulista servindo de palco para uma ou mais passeatas ao longo do dia; trânsito na região central parado por conta da ação de grupos que, muitas vezes, agregam uma centena ou menos de ativistas.
Logo pela manhã o paulistano, ao sair pelas ruas, sente os reflexos desse estado de coisas, enfrentando seguidos congestionamentos que se repetem à tarde e no final do dia.
Greves em setores da administração pública colocam risco serviços em áreas sensíveis, como saúde, zoonose, combate à dengue, entre outros. E pensar que o mês de junho parece nos reservar novos castigos, com greves em setores públicos programadas para coincidir com a Copa do Mundo.
Na grave melancolia paulistana sentida por Mário de Andrade havia espaço para milhões de rosas do otimismo. Mas na Pauliceia de hoje, ganha corpo o pessimismo, pois, inexplicavelmente, a autoridade pública se mostra incapaz de fazer frente à irresponsabilidade de grupos organizados e difusos que, ao se mobilizarem em defesa dos seus direitos, tomam a cidade e seus moradores como reféns.
* Andrea Matarazzo é vereador pelo PSDB.