O inaceitável incêndio de 34 ônibus estacionados no pátio da empresa transportadora de Osasco (SP), como represália pela morte de um jovem envolvido com o tráfico, é um perigoso precedente. Ao contrário de ocorrências anteriores, onde se colocou fogo em veículos porque alguém da comunidade foi morto pela polícia, sabe-se que esse jovem foi executado por desconhecidos, muito provavelmente na disputa entre integrantes do submundo. Não há, pelo menos até que se prove em contrário, qualquer motivação para se vingar depredando uma prestadora de serviço público. Por conta do incêndio, a empresa sofreu prejuízo da ordem de R$ 10 milhões e 20 mil passageiros tiveram dificuldade de transporte.
Já está indo longe demais a impotência das autoridades e da sociedade perante os agressores. Se a moda pega, bastará ocorrer um confronto ou qualquer fato banal que descontente os marginais, verdadeiros “donos” do trecho, para veículos, sedes de empresas e outros bens serem depredados e vandalizados. O poder público, como concedente de todos os serviços – tanto que cobra imposto para permitir sua realização – tem o dever de garantir a segurança para a sua realização. Se assim não for, cada dia se tornará mais difícil encontrar investidores que queiram trabalhar em determinadas áreas, pois os riscos são crescentes. O transporte de ônibus nas periferias já sofre restrições por conta dos frequentes ataques e quem sofre, em última análise, além da cambaleante economia, é a população carente do serviço.
Os governos, parlamentares, juristas, defensores dos direitos humanos e todos os libertários (verdadeiros e falsos) que, ao longo das últimas décadas, trabalharam pelo afrouxamento das leis e de sua execução, devem hoje à sociedade providências que possam garantir sua segurança. A democracia que todos sonhamos e buscamos não inclui deixar impunes os criminosos pois, dessa forma, cria-se a paralela ditadura da bandidagem, que escraviza a população inteira. O país possui um invejável ordenamento jurídico, mas sua prática é lenta, demagógica e ineficiente. Precisamos acabar de vez com a impunidade. Todos os malfeitos têm de encontrar a justa consequência para que os potenciais transgressores sejam desencorajados e os que já transgrediram exemplarmente retirados do convívio social por longos e reflexivos períodos…
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (ASPOMIL).