A cada dia que passa, quando se diz que o cineasta brasileiro Glauber Rocha estava à frente do seu tempo, como admirador de sua obra, mais acredito que isto é fato. Se fizermos um comparativo principalmente entre os seus filmes “Terra em Transe”, e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, ambos da década de 60, e o que acontece na cenário político nacional, veremos que o título deste artigo requer muita reflexão.
As recentes prisões de políticos do caso do Mensalão, o caso Donadon, deputado federal condenado com processo transitado em julgado que mantém seu mandato de parlamentar mesmo estando no presídio, a antecipação da votação do aumento do IPTU na Câmara Municipal de São Paulo, o cartel do metrô, e outros tantos desmandos dos nossos representantes eletivos, nos fazem refletir sobre a sociedade em que vivemos e o nosso espelho, que é o parlamento.
O cinema brasileiro tem como uma de suas páginas mais importantes, aquela onde é citado o nome de Glauber Andrade Rocha, ou apenas Glauber Rocha. Esse cineasta baiano revolucionou o cinema nacional de tal forma que, mesmo após sua morte, em 1981, então com 42 anos, continua vivo através de suas obras, e é lembrado constantemente sempre quando se fala em cinema.
Militares que proibiram por um período a veiculação de “Terra em Transe”, diziam que o filme “continha mensagem ideológica contrária aos padrões de valores aceitos no país, considerando ser a técnica do filme a prática de violências como fórmula da solução de problemas sociais, e a sequência de libertinagens”. Imaginem só se hoje, alguns destes “censores” tivessem conhecimento das traquinagens dos palhaços Tiririca e Marquito? E do submundo das relações políticas, partidárias e ideológicas no país? Não sobraria pedra sobre pedra.
Outra obra sensacional é “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de 1964. No filme, em um vilarejo afastado do interior do Brasil, temos um embate entre um líder religioso, e um cruel cangaceiro e matador, tendo como vítima uma população miserável e desesperada. No transcorrer do filme, o cineasta nos faz refletir sobre de fato quem é do bem e quem é do mal. Afinal de contas, quem era Deus e quem era o Diabo?
No nosso dia a dia, também temos muitos “lobos em pele de cordeiro”. Muitos larápios que se passam por cidadãos corretos e que dificilmente, a população menos informada, consegue detectar.
Glauber fez parte de “Cinema Novo”, um movimento de jovens cineastas que queriam mudar o cinema nacional mostrando a realidade do país, ou seja, o povo para o povo. Eles idealizavam a criação de uma indústria cinematográfica verdadeiramente brasileira. Hoje, os jovens amigos teriam muito conteúdo para filmar, com uma “câmera na mão e uma idéia na cabeça”.
O cenário político brasileiro, infelizmente, em sua maioria, traz uma mistura de demagogia, politicagem, populismo, malandros, pseudo neoliberais, líderes religiosos de araque, além de outros tantos que são facilmente manipulados por interesses econômicos e pessoais.
Ainda bem que nos restam alguns poucos honestos e idealistas que resistem ao “sistema” e não se deixam cooptar por interesses outros. E o jovem e genial Glauber Rocha, sem dúvida, faz muita falta por aqui. Mas com certeza onde estiver, deverá estar observando e pensando: “ a política realmente está em transe ”.
* Denilson Perozzo é jornalista e integrante do Movimento Viva o Parque Vila Ema.