O papa Francisco apresentou sua primeira exortação apostólica “EvangeliiGaudium” (A Alegria do Evangelho) no encerramento do “Ano da Fé”. Não se trata de uma encíclica, mas de uma exortação aos católicos para não terem medo e assumirem com alegria a missão evangelizadora, e ainda mais de assumir um modo novo de evangelizar, em meio aos desafios da atualidade. O papa expõe, na realidade, todo um programa de ação, indicando caminhos a seguir, pistas do que pode ser feito para que a Igreja saia ao encontro das pessoas, vá até as periferias e se envolva com todos, para anunciar a alegria do Evangelho. É um documento propositivo, bastante pastoral, bem ao seu estilo já conhecido. O papa quer dialogar, se abrir, quer uma Igreja de janelas abertas, e para isso exorta os católicos e cristãos a não terem medo de mudanças.
Mas não podemos também deixar de destacar de que tais mudanças não serão tão simples serem implementadas e trazem seus riscos, principalmente o do relativismo, já condenado por Bento XVI. No diálogo com os outros credos, por exemplo, é preciso que a Igreja não perca a sua característica própria, no afã de aproximação com os demais. Esse talvez seja um dos grandes desafios diante das propostas apresentadas pelo papa Francisco. Ele quer uma maior descentralização e até uma revisão do papel do papado, para estar mais próximo do povo e fazer chegar o Evangelho a todos. Há nisso também o risco de diluir ainda mais as diretrizes morais, em meio ao pluralismo vigente. Ele acena com a possibilidade de dar autoridade doutrinal ás conferências episcopais (nº. 32), e com isso delegar às comunidades locais uma maior autonomia, e com isso democratizar a Igreja. O risco, nesse sentido, é que na prática, o relativismo acabe prevalecendo, daí a necessidade de um discernimento e um equilíbrio muito grande para que a Igreja não deixe ser seduzida por “verdades” plurais, e seja fiel a verdade de Jesus Cristo.
É preciso, portanto, que cada cristão consciente leia atentamente a exortação e busque, em oração, o discernimento que o próprio papa pede, para o tempo presente.
* Valmor Bolan é Doutor em Sociologia e Presidente da Conap/MEC (Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni).