Com a implantação das faixas exclusivas para ônibus ao longo de 1,3 km da avenida Vila Ema e 1 km da rua do Orfanato, não foram somente os motoristas de veículos particulares que se sentiram prejudicados. As vias contam com vários pequenos e médios comércios e os lojistas e prestadores de serviços ouvidos pela Folha acreditam que, se a restrição for mantida durante o dia todo e também aos sábados, muitos serão obrigados a fecharem as portas.
“Todo mundo foi pego de surpresa. Pequenos comércios vão perder clientes. Em 2010 queriam proibir o estacionamento na Orfanato e voltaram atrás, implantando a Zona Azul, justamente porque a proibição mataria os comércios da via. Agora a Prefeitura vem e extingue o estacionamento sem conversar com ninguém antes. Os comerciantes já estão se mobilizando para procurar alguma alternativa”, comenta Tânia Mara Fiorentino, presidente da Associação de Lojistas da Vila Prudente e proprietária de um restaurante na Orfanato.
Assim como outros empresários, Tânia afirma não ser contrária à faixa exclusiva, mas, defende que deveria vigorar apenas nos horários de pico “Até entendo priorizar o transporte público. Porém, todos os setores não podem ser prejudicados por conta disso. A faixa poderia muito bem funcionar até às 10h e depois voltar a Zona Azul. Depois desse horário, poucos ônibus passam pelas vias. Pior que colocaram até aos sábados!”, destaca.
Quem também defende a flexibilização do horário é o dono de uma loja de colchões, Ali Mohamed Jarouche. “O dia todo sem poder estacionar é para acabar com os comerciantes. Nessa semana já diminuiu absurdamente o número de clientes. Pagamos muitos impostos para poder vender nossos produtos e não temos direito a nada? Não tenho nem como fazer a carga e a descarga do material. Vamos lutar para que a faixa funcione somente nos horários de pico. Se ficar assim terei que fechar as portas e acho que não serei o único. Meus funcionários ficarão desempregados. A própria Prefeitura irá perder o dinheiro dos tributos que somos obrigados a pagar”, ressalta Jarouche.
A situação é ainda pior para os comerciantes que vendem produtos de difícil locomoção, como uma loja de construção da rua do Orfanato. “Estamos neste ponto há 24 anos e a cada dia parece que querem dificultar ainda mais as nossas vendas. Como é que um cliente vai levar embora um saco de cimento, na cabeça?”, ironiza o empresário Cleberson Baptista Coelho.
Outro ramo de comércio atingido com a implantação das faixas exclusivas foram as farmácias. “Toda drogaria conta com uma vaga de emergência para os clientes, sinalizada por uma cruz vermelha, onde a pessoa pode parar o carro por 15 minutos para comprar medicamento de urgência. Mas, quando pintaram as faixas de ônibus apagaram estas vagas. Junte isso ao aumento do trânsito, os clientes não vão mais ter como parar o carro para comprar remédios. O impacto negativo dessa medida nos comerciantes foi muito grande. Todos estão reclamando”, enfatiza o dono de uma farmácia na avenida Vila Ema, Leonardo de Moraes dos Santos.
Os comerciantes da rua do Orfanato se reuniram com a vereadora Edir Sales (PSD), que possui escritório político na via, para pedir ajuda para reverter a situação. Em conversa com a reportagem, a assessoria de imprensa da vereadora informou que ela já encaminhou ofícios à SPTrans e à CET solicitando a revisão do sistema das faixas exclusivas nas duas vias e que conversou ainda com o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto (PT), que também acumula os cargos de presidente da CET e da SPTrans.
A reportagem questionou via e-mail a SPTrans e a CET sobre a possibilidade de mudanças na faixa exclusiva e o motivo de apenas nestes trechos, a medida valer também aos sábados. A CET foi questionada ainda, via e-mail e twitter, sobre as vagas de emergência em frente às farmácias, porém, os órgãos não mostraram a mesma agilidade ao pintar as faixas exclusivas da noite para o dia. A reportagem vai continuar cobrando as respostas.