Lendo a proposta do Plano Diretor, publicado pelo vereador Andrea Matarazzo, no www.planodiretorsp.com.br/ faço algumas indagações e exponho minha preocupação, principalmente a respeito da região da Mooca, onde conheço e sei que muitas situações se repetem em outras partes da cidade.
Uma das questões que o plano aborda é sobre as áreas verdes da cidade. Como sabemos, a cidade de São Paulo é uma grande zona de calor e nas regiões próximas ao centro a situação é mais grave e exige uma política para aumentar as áreas verdes sob pena de comprometer a qualidade de vida de seus moradores. Pois bem, ao observar o mapa onde se encontram as ações prioritárias no sistema municipal de áreas verdes, percebemos um enorme vazio justamente na região do centro expandido. Na Mooca não consta nenhuma área verde definida, exceto num pequeno espaço, entre as ruas Jerônimo de Mendonça e Padre Benedito Maria Cardoso, onde se localiza, dentro de um conjunto habitacional, algumas poucas árvores. Parece piada. A mancha de verde mais próxima fica no clube do trabalhador, conhecido como CERET, na Vila Formosa, mas na Mooca, nem o Clube Escola Mooca, nem a Praça Vicente Arienzo, com um pouco de verde que resta, são consideradas no mapa. Não há nenhuma referência para estabelecer novos espaços verdes nesta região. Aliás, o plano se mostra extremamente insensível em relação à necessidade de criação de novos parques municipais em São Paulo.
Outro ponto que chama a atenção é a distribuição das Zonas Especiais de Interesse Social, as ZEIS. Apenas para que possa entender do que se trata, vou exemplificar:
Uma empresa de armazéns gerais instalada no parque industrial da Mooca, na Avenida Dianópolis, que ocupa mais de 40 mil m² de terreno e gera centenas de empregos, digamos por hipótese, que o proprietário decida, por conta das dificuldades que a cidade lhe impõe, mudar a empresa para outro lugar e, no lugar desta, decida apresentar na prefeitura um projeto para a construção de um grande centro de tecnologia ou uma nova indústria da chamada economia criativa, com potencial para gerar milhares de empregos. Segundo a proposta, o projeto seria negado, pois neste local somente conseguirá aprovar um projeto que envolva a construção de casas populares. Com isso, ele pode simplesmente optar por algum uso que não modifique a edificação existente e manter o imóvel, caso se mude mesmo, subutilizado até que nova alteração ao plano seja feita. É a degradação anunciada.
O caso mais lamentável se encontra no terreno onde estava localizada a antiga Esso, também no parque industrial da Mooca, cuja contaminação do solo atingiu níveis alarmantes por décadas, passa por um processo de descontaminação e é alvo de diversas manifestações de moradores desejando que a região seja compensada com a criação de um novo parque. Segundo a proposta do novo plano, que torna o terreno ZEIS 3, o proprietário da área somente conseguirá aprovar na prefeitura projeto que destine 80% da área para Habitação de Interesse Social e, no máximo, 20% para outros usos do total de área construída computável. Ou seja, além de inviabilizar o projeto de um novo parque, permitirá a construção de uso residencial em plena área industrial da Mooca. Onde ainda se localizam centenas de indústrias e empresas metalúrgicas. Essa mistura de uso, conforme já abordei, é extremamente conflituosa por conta dos transtornos gerados pelo barulho das máquinas e do uso de caminhões pesados, inerentes à atividade industrial, e a busca por tranquilidade das áreas residenciais.
São medidas que podem gerar desvalorização, degradação, aumento de imóveis invadidos e, consequentemente, aumento da violência na região. Portanto, espero que os moradores da região conheçam as mudanças propostas e as armadilhas que envolvem o novo plano diretor proposto pelo Prefeito Haddad.
* Eduardo Odloak é formado em Administração pela FCU e especialização em estratégias de Marketing aplicadas ao Turismo e Hotelaria – ECA-USP. Foi Subprefeito da Mooca.