Milhões de brasileiros foram às ruas nas últimas semanas demonstrando a indignação com a atual situação do país. No “mar de gente” que tomou conta de avenidas, há muitos representantes da região. A Folha conversou com alguns deles para saber quais são as suas reivindicações.
Um grupo de moradores da Mooca vem participando ativamente dos protestos. Nesta semana, a reportagem entrevistou um dos organizadores do movimento, o corretor de imóveis Moises Naif, 43 anos. “Estivemos nos atos dos dias 18, 20 e 22. Começamos a participar principalmente por causa da corrupção dos políticos e para pedir a reforma tributária”, explica Naif. “A nossa faixa contra os impostos chamou atenção e acabou guiando boa parte dos manifestantes. A partir daí acabamos virando referencia nos protestos”.
O corretor de imóveis, que é formado em Direito, também criticou as medidas propostas pelo Governo Federal nesta semana e ressaltou que as manifestações não podem parar. “Até agora só vi reações políticas de desespero. A população tem que continuar na rua lutando pelos seus direitos”.
Juventude
Conforme demonstrou a pesquisa Ibope, que entrevistou 2002 manifestantes nas capitais brasileiras, 43% dos participantes têm menos de 25 anos. Um desses jovens é a estudante de Comunicação Social, Jéssica Bonifácio de Almeida, 19 anos, moradora da Vila Alpina, que participou de atos
Repressão policial
Ao que tudo indica um dos estopins para transformar protestos isolados em gigantescas manifestações por todo o país foi a violenta ação policial ocorrida no centro de São Paulo no dia 13, quando jornalistas também ficaram feridos. “A repressão policial em cima de pessoas que estavam exercendo o direito de reivindicar me deixou indignado. Foi a principal razão que me levou, junto com amigos, a participar do protesto seguinte, que aconteceu no Largo da Batata”, explica o jornalista Aristides Magatti Junior, 29 anos, morador do Ipiranga. Ele já havia participado de outras manifestações do Movimento Passe Livre em anos anteriores. “Em 2011, quando a tarifa aumentou para R$ 3, eram poucas pessoas protestando. Desta vez o sentimento de indignação por tudo que está errado neste país levou milhões às ruas. Achei que nunca presenciaria isso no Brasil. Fiquei emocionado ao ver a Paulista tomada. São muitas reivindicações da população, mas acho que o principal problema é a corrupção, base de tudo que está errado no país”.
A pesquisa Ibope também apontou que 49% dos manifestantes têm como principal motivo dos protestos os casos de corrupção e desvio de dinheiro público. Moradores da região não pensam diferente. “Ingressei nos protestos pelo aumento da tarifa, mas nós temos um governo sujo que só lembra do povo de dois em dois anos, nas eleições. A corrupção é gritante. Temos que mudar isso, acabar com a impunidade”, declarou o engenheiro eletricista, Marcos Alberto Souza Silva, 25 anos, morador da Vila Prudente. “Até agora os Governos responderam aos protestos com medidas muito significativas, mas é só o início. Tem muita coisa pendente para resolver”.
Protestos continuam
Além das manifestações no Centro, vários grupos organizaram protestos por todas as regiões da cidade. Um deles ocorreu no último dia 21, no Tatuapé e parou a Radial Leste. O gestor empresarial, Douglas de Almeida Passos, 23 anos, morador do bairro, foi um dos organizadores do ato, e acredita que a população deve aproveitar o momento atual para cobrar diversas melhorias. “O povo está na rua porque cansou de ser explorado, estamos jogados aos leões. Não temos em quem confiar, não temos em quem votar. Isso é triste demais. Comecei a protestar pelo aumento da tarifa, mas agora lutamos por muito mais. É nítida a preocupação dos governantes e políticos com os protestos e isso mostra o poder que o povo tem nas mãos. Não podemos parar, tem que ser uma vitória de cada vez, um foco de cada vez, e assim vamos conseguir um Brasil mais digno para se viver”.