Nesta semana mais um incêndio classificado como de grande porte pelo Corpo de Bombeiros atingiu um galpão comercial na Mooca. Na madrugada da terça-feira, dia 21, as chamas tomaram conta de um antigo prédio de três andares na esquina das ruas Madre de Deus e Visconde de Inhomerim. Foram necessárias 18 viaturas do Corpo de Bombeiros para combater o fogo, que só foi controlado três horas depois. Ninguém ficou ferido. Este foi o terceiro grande incêndio no bairro em cerca de dois anos.
As chamas começaram por volta das 5h em um depósito de materiais natalinos e brinquedos e acabaram atingindo também uma loja de pneus que funciona no mesmo prédio. Devido à borracha dos pneus e o plástico dos produtos no depósito, as chamas se alastraram rapidamente e a fumaça preta tomou conta do bairro. O fogo se propagou pelos três andares, derrubando inclusive o telhado do galpão.
O cruzamento das vias foi interditado e os bombeiros tiveram bastante trabalho para apagar as chamas. Havia risco do fogo se alastrar pelas casas vizinhas, o que não ocorreu. Mesmo assim, moradores tiveram que abandonar as residências às pressas por causa da fumaça.
De acordo com os bombeiros, a causa do incêndio só será conhecida após o relatório da perícia, que tem até 30 dias para ficar pronto.
Três casos em dois anos
O que chamou a atenção e deixou os moradores do bairro apreensivos foi que este incêndio aconteceu apenas quatro meses depois do fogo no depósito da loja Armarinhos Fernando, na rua Taquari, que também ficou destruído.
Na ocorrência, em janeiro, 22 viaturas e 65 homens do Corpo de Bombeiros foram acionados e levaram mais de mais de duas horas para controlar as labaredas. A causa foi um curto-circuito no galpão onde ficava o estoque de material escolar. Em março de 2011, outro caso que também mobilizou mais de 60 bombeiros, foi registrado na altura do número 1.500 da rua Madre de Deus. O incêndio iniciado no galpão de uma fábrica de tecidos ameaçava as casas vizinhas. Assustados, os moradores chegaram a tirar os botijões de gás de dentro das residências para evitar explosões. O fogo demorou cerca de cinco horas para ser contido.
Por conta de seu passado industrial, a Mooca ainda abriga diversos galpões, alguns inutilizados atualmente e outros que passaram a ter as mais distintas destinações. Os recentes casos estão deixando a população em alerta.
“Antes de deixar o bairro, a Esso pegou fogo. Isso faz muitos anos. A fábrica da União também pegou fogo antes de sair do bairro. O fato é que a Mooca ainda abriga muitas indústrias e a população tem motivos para se preocupar. A fiscalização de segurança nesses locais deve ser intensificada”, comenta o ex-subprefeito da Mooca, que também é morador do bairro, Eduardo Odloak.
A jornalista Elizabeth Florido, que reside na Mooca, também está apreensiva com a sucessão de incêndios e critica a ocupação desordenada da cidade. “Já deu para perceber que não se trata mais de mera coincidência e sim de falta de cuidados básicos de segurança. É uma fatalidade inesperada, mas sabemos como se processa a ocupação em nossa cidade: um arranjamento de imóveis que vão ocupando o espaço territorial, pura e simplesmente, sem planejamento algum ou tão pouco alguma ordenação. Temos uma lei que permite essa miscelânea de negócios misturados com residências. Nessa altura, não dá mais pra reverter, mas dá estancar esse processo e ordenar o que já existe”, argumenta.
A reportagem questionou a Subprefeitura Mooca se a documentação do galpão atingido pelo incêndio nesta semana estava em ordem e o que exatamente funcionava no local. Também indagou como ocorre a fiscalização destes locais visando evitar riscos. Somente às 20h de ontem, via Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, veio a resposta de que “em relação ao incêndio que ocorreu no dia 21, na rua Madre de Deus, 573, informamos que o fogo teve início no exterior do imóvel. Devido à ausência de documentos na Subprefeitura que comprovem a regularidade das atividades feitas no estabelecimento atingido, os proprietários foram intimados a colocar os imóveis em condições de estabilidade, segurança e habitabilidade, através de reforma, reparos, restauração ou reconstrução, sem prejuízo da obtenção de licença junto a PMSP, num prazo máximo de 5 dias, sob pena de multas, inquérito policial e demais cominações legais. Acrescentamos que a Subprefeitura Mooca vai fazer uma campanha de esclarecimento em relação a incêndios, uma vez que eles estão sujeitos a ocorrer com mais frequência no período de estiagem, que agora começa”.