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O antigo Expresso Tiradentes

*Adriano Diogo

“Ao invés de concluir o caminho até a Cidade Tiradentes, para onde faltam apenas oito quilômetros – duas estações, e beneficiaria cerca de 250 mil pessoas, vai na direção do Ipiranga, numa obra cara e desnecessária”.

A favela da Vila Prudente é tão antiga quanto o bairro que lhe empresta o nome. Um lugar especial. Quando as pessoas ali chegavam, as mais pobres, lá se alojavam até ter condição e partir para outras experiências habitacionais.

Uma das maiores contribuições para esse aglomerado de pessoas foi a criação da linha do metrô. Sob o comando de Newton Zadra, fundador da Folha de Vila Prudente, iniciou-se a luta para trazer uma estação de metrô até a Vila Prudente.  Objetivo que parecia quase impossível, visto que em nenhum dos traçados propostos aparecia a Vila Prudente.

O apelo e a indignação da população ganharam ainda mais força a partir da tresloucada transferência de um cadeião, que era para ter sido construído em A.E. Carvalho e veio para a Vila Prudente. Assim, a estação do metrô e sua extensão pela região, foram ainda mais cobradas do Governo do Estado.

Nascia a ideia de que o metrô convencional seguisse o trajeto antes planejado para o prolongamento do Expresso Tiradentes, a linha de ônibus que circula sobre pilares na avenida dos Estados. Seria um ramal de metrô, transporte de alta capacidade, da Vila Prudente até a Cidade Tiradentes.

Mas, nem tudo acontece do jeito que a comunidade almeja. A malfadada intenção de transformar a linha de metrô num veículo mais leve sobre trilhos suspensos resultou no chamado monotrilho.

O sonho do metrô foi substituído pelo monotrilho e a promessa de construção rápida e mais barata, virou uma obra problemática e eterna, que ao invés de atingir Cidade Tiradentes, recentemente chegou até São Mateus. O monotrilho não cumpriu o objetivo, embora faltem apenas oito quilômetros, o que seria enorme benefício para mais de 250 mil pessoas.

Em meio a muitos problemas, a obra só não parou devido à constante fiscalização da comunidade e da Folha de Vila Prudente. A redação do jornal, comandado por Kátia Leite, se transformou no veículo mais especializado sobre o tema em São Paulo.

Anos atrás, surgiu a proposta de requentar a obra do monotrilho, criando um novo trecho entre a primeira estação na Vila Prudente até a confluência do ramal ferroviário no Ipiranga. Ficou engavetada por muito tempo, até começar a ser tocada em plena pandemia.

Como essa extensão do monotrilho chegará ao Ipiranga sem provocar mais prejuízos na paisagem urbana da Vila Prudente? Adivinhem  qual foi o traçado escolhido? Evidentemente o dos mais oprimidos, passando por cima do núcleo central, quase centenário, da Favela de Vila Prudente.

Sem nenhuma discussão ou audiência pública com a comunidade, estão propondo fincar as estacas do monotrilho no núcleo mais antigo do favelão. Onde teve a formação de tudo, da primeira igrejinha e da origem de famílias tão antigas quanto à própria favela.

Que a Folha tenha a capacidade, junto com a comunidade, de fazer as tão necessárias audiências. Que as autoridades revelem quais são os traçados e impactos, para que a população, embora reconheça que o progresso chegou, saiba que não precisa naturalmente ser marginalizada e maltratada como “os  favelados”. Como se lá não morassem seres humanos, como se fossem os condenados da terra.

* Adriano Diogo (PT) foi vereador e deputado estadual. É de tradicional família da região.