“Há que se perder um bem para aquilatar seu valor. A morte de minha mulher no último dia 7, fez-me ver quão grande ela era como sustentáculo da família, esteio generoso e amigo, e exemplo de caráter único.
A conheci com incompletos 15 anos em uma empresa que trabalhávamos. Ambos aprendizes, ela como auxiliar de escritório e eu como desenhista. Seus olhos verdes e sua beleza singela e irradiante me cativaram. No primeiro encontro frente à igreja São José no Ipiranga, vaticinei: “lembre deste dia quando casarmos e tivermos filhos”. Depois de cinco anos de namoro e noivado casávamos naquela mesma igreja São José. Dessa união nasceram nossos três filhos: Ricardo, Katia e Alexandre, criados a moda antiga, sob seus rígidos valores de comportamento. Ao iniciar minha indústria logo após o casamento, tive nela uma companheira solidária, e uma guerreira valorosa tendo que cuidar da casa, dos filhos que iam nascendo, e colaborando decisivamente no desenvolvimento da empresa, que era na própria casa que morávamos.
Fervorosa devota de São Francisco de Assis e Nossa Senhora, dedicava suas preces diárias aos familiares e amigos que passavam por agruras. Sua ajuda e solidariedade contudo não ficavam apenas em orações. Contribuía com uma infinidade de associações de caridade, auxiliava parentes e conhecidos, sempre sem fazer alarde de sua bonomia.
Foi grande incentivadora do projeto Nossa Escola, estimulando-me a vender por preço irrisório nosso imóvel na rua Marquês de Praia Grande para que ali se instalasse sua sede. Em reconhecimento a sua postura foi homenageada como patronesse do educandário que atende crianças e jovens com necessidades intelectuais. Foi também com seu apoio, que me dediquei às causas comunitárias, participando nos programas do Círculo de Vila Prudente, em detrimento frontal aos meus afazeres profissionais.
Desde nosso casamento em 1960 moramos no mesmo despojado casarão da rua Américo Vespucci. Nele passaram três gerações de crianças e jovens, parentes e amigos nossos e dos nossos filhos, que guardam com carinho aqueles momentos. Esmeralda deixa como legado um exemplo de fé, de bondade e de infinito amor. Sua falta na família jamais será preenchida”, Newton Zadra, presidente fundador da Folha.