No início do mês o governador João Doria (PSDB) anunciou a retomada da expansão da Linha 2 – Verde do metrô. Foram iniciados os projetos executivos do trecho de 8,3 km e oito estações, a partir da Vila Prudente até a Penha. As obras estão previstas para começar no primeiro trimestre de 2020. Na região serão três novas paradas: Orfanato, Água Rasa e Anália Franco – cujos terrenos onde serão construídas já tiveram todos os antigos imóveis demolidos. Nesta semana a reportagem da Folha esteve nas imediações dos locais que receberão as três estações e conversou com moradores e comerciantes. As opiniões foram positivas em relação à melhoria da mobilidade, mas divergentes sobre as consequências de contar com uma parada de metrô nas proximidades.
Morador da rua Doutor Sanareli, o aposentado Francisco Peixoto, acredita que, além de facilitar a locomoção das pessoas pela cidade, seu imóvel será bastante valorizado. “Como estou aposentado vou com menos frequência para a região da avenida Paulista e para o centro da cidade, mas muitos vizinhos ainda trabalham nesses locais e serão favorecidos. Por muito pouco minha residência não foi desapropriada pelo Metrô e espero que agora ela valorize”, comentou.
Quem também enxerga de forma positiva é o proprietário de uma lanchonete na rua do Orfanato, próximo ao cruzamento com a rua do Oratório, onde será construída a estação Orfanato (foto). “Para o meu negócio a expectativa é a melhor possível. Atualmente servimos cerca de 60 almoços por dia. Pretendemos dobrar essa quantidade atendendo os operários da obra e, depois, as pessoas que forem acessar o metrô”, declarou o comerciante Antônio Pereira.
Já o dono de uma loja de cosméticos na rua do Orfanato, também nas proximidades da futura parada, acredita que a redondeza terá problemas. “É evidente que o transporte irá ajudar a locomoção, mas as consequências para quem trabalha ou reside próximo a uma parada serão ruins. Os crimes tendem a aumentar por conta da movimentação de pessoas, carros serão estacionados em qualquer lugar, o valor do aluguel deve aumentar, assim como a bagunça. Os usuários de metrô estão sempre com pressa e não devem querer entrar em alguma loja”, opinou o comerciante Fábio Gonçalves.
Água Rasa
Nas imediações da futura estação Água Rasa, na avenida Sapopemba, a vizinhança também possui opiniões distintas. Enquanto alguns comerciantes esperam ter aumento de faturamento com a movimentação de pessoas, moradores temem perder a tranquilidade e enfrentar o crescimento de crimes nas imediações. “O progresso, de forma organizada, sempre é bem-vindo. Como estou em frente ao local onde deve ser erguida a estação, minha visibilidade vai aumentar e, consequentemente, espero receber mais clientes”, argumentou o proprietário de uma loja de autopeças, Ruy Santos Júnior.
A dona de casa Iraci do Nascimento está receosa. Ela reside na rua Maximiano há mais de 30 anos em um imóvel a poucos metros dos terrenos que abrigarão a estação. “O bairro sempre foi muito pacato, as pessoas se conhecem e quase não escutamos falar de crimes. Tenho medo que a criminalidade venha junto com o metrô, assim como o comércio de ambulantes e a sujeira nas ruas”, comentou.
Anália Franco
As imediações dos terrenos que receberão a estação Anália Franco, nas proximidades da avenida Abel Ferreira, possuem perfil diferente das paradas Orfanato e Água Rasa: quase não há residências no entorno e os comércios e empresas predominam. Os proprietários de estabelecimentos ouvidos pela Folha demonstram expectativa positiva. “Atualmente, muitos dos nossos clientes são pacientes e funcionários dos dois hospitais que ficam aqui perto. Futuramente outras pessoas começarão a passar por aqui e os comércios serão beneficiados”, afirmou Antonio Souza, responsável por um restaurante.
Proprietário de uma lanchonete, Jamil Carvalho, tem a mesma opinião. “Ficamos muito felizes com o anúncio do governador. Os terrenos estão abandonados, com mato alto e causando problemas. Com a retomada das obras, a presença dos operários já pode nos ajudar e quando a estação for aberta, ainda mais. Esperamos ter cerca de 30 a 40% de aumento no faturamento”, comentou.
Prolongamento da linha e a valorização imobiliária
Todas as regiões da cidade que receberam estações de metrô registraram valorização do preço do metro quadrado das imediações. A afirmação é do economista chefe do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi – SP), Celso Petrucci.
“Com o veloz progresso da cidade, cada vez mais as pessoas procuram morar perto de estações do metrô para ganharem tempo e qualidade em seus deslocamentos. Esse é um dos principais motivos para a valorização dos imóveis”, comentou Petrucci à reportagem da Folha nesta semana.
Ainda segundo ele, a legislação sobre zoneamento da cidade permite que em um raio de 450 metros das estações seja aplicada a outorga onerosa – concessão emitida pela Prefeitura para que o proprietário de um imóvel edifique acima do limite estabelecido, mediante contrapartida financeira. “Comprovadamente a expansão do metrô impulsiona muito o setor imobiliário”, concluiu. (Gerson Rodrigues)