Quem passou pelas proximidades da Favela de Vila Prudente na noite da última quarta-feira, dia 1º, viveu momentos de pânico. Com os ânimos bastantes exaltados porque uma menina de seis anos foi baleada após a incursão de policiais militares na comunidade, alguns moradores iniciaram uma manifestação que acabou com ônibus depredados e confronto com a Polícia Militar.
Os manifestantes atearam fogo em caçambas de lixo e, com barricadas, bloquearam o tráfego na rua Dianópolis e na avenida Anhaia Mello. Muitos motoristas que passavam pelo local se assustaram e fugiram pela contramão, de marcha ré e sobre calçadas. Com a chegada da PM, o cenário virou de guerra. Enquanto moradores jogavam pedras e garrafas, os policiais revidavam com bombas de efeito moral para dispensar os envolvidos. Foram cerca de cinco horas de confronto. A situação só foi normalizada por volta das 23h30.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 56º Distrito Policial – Vila Alpina, policiais militares da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (ROCAM) da 4ª Companhia do 21º Batalhão realizavam patrulhamento pela rua Dianópolis quando suspeitaram da atitude de dois indivíduos que correram para o interior da favela. Consta no documento que os policiais entraram em uma das vielas da comunidade e foram recebidos a tiros. Nesse instante, uma menina de seis anos que brincava no local foi atingida no ombro por um dos disparos.
Em depoimento à Polícia Civil, os policiais da Rocam afirmaram não terem revidado e solicitaram exame pericial para constatar a ausência de pólvora em suas mãos. Segundo a delegada titular do 56º DP, Silvana Santieri Françolin, um inquérito foi instaurado para apurar de onde partiu o disparo que atingiu a criança.
A reportagem da FolhaVP conversou com o subcomandante do 21º Batalhão, Miguel Daffara, que deu a mesma versão do boletim de ocorrência. Segundo ele, os policiais ainda tentaram socorrer a criança, mas moradores da comunidade começaram a arremessar objetos contra eles e tentaram agredi-los. O major contou ainda que os policiais solicitaram apoio e entregaram a menina feriada à avó, que correu com a garota para a avenida Anhaia Mello e foi ajudada por um motorista que passava pelas imediações.
A criança foi levada ao pronto socorro do hospital municipal Ignácio Proença de Gouveia, antigo João XXIII, na Mooca, e segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o projétil não atingiu algum órgão, mas ficou alojado em um músculo do ombro. Durante a madrugada, a garota foi transferida ao hospital municipal do Tatuapé, onde passou por limpeza cirúrgica e retornou à unidade da Mooca com a bala ainda alojada. Na manhã de ontem, precisou voltar ao hospital do Tatuapé e passou por novo procedimento de limpeza. Questionada na tarde de ontem sobre a cirurgia, a Secretaria informou que ela estava com quadro estável e regular e, por enquanto, não havia previsão para a remoção do projétil. Indagada sobre uma possível falta de vagas, o órgão negou e explicou que “o procedimento ainda não ocorreu devido aos médicos estarem aguardando o melhor momento para a realização da cirurgia”.
Durante o confronto, que precisou do apoio da Tropa de Choque da PM para auxiliar na dispersão dos manifestantes, quatro ônibus foram totalmente depredados, um caminhão dos Correios foi saqueado e três pessoas – uma mulher e dois menores – foram detidas por arremessarem objetos contra os policiais, mas acabaram liberados durante a madrugada.
Um morador da favela ouvido pela FolhaVP, mas que pediu para não ser identificado, conta que ficou assustado com a dimensão do protesto. “Escutei a gritaria e percebi que algo estava errado. Minha filha chegou em casa chocada e disse que tinha passado perto de uma criança ferida. Fechei todas as portas e mantive minha família trancada. Depois de um tempo começaram as bombas de efeito moral. O cheiro invadiu minha casa e quase ficamos sem ar para respirar. Foi horrível. Moro há muitos anos na comunidade, onde tenho muitos amigos, mas não concordo com a atitude de alguns que acabam queimando a nossa imagem. Não era preciso um ato com tamanha violência”, relatou o morador. (Gerson Rodrigues)
PROTESTAM CONTRA A POLICIA MAS PORQUE NÃO PROTESTAM CONTRA OS BANDIDOS QUE SE INFILTRARAM NA FAVELA E RECEBERAM A POLICIA ATIRANDO, QUANDO ELES PRECISAM DE SOCORRO CHAMEM O BATMAN OU O SUPER HOMEM ENTÃO.
INVERSÃO DE VALORES TOTAL CHEGA A SER VERGONHOSO.