Prefeitura quer terceirizar CEU Vila Prudente

Grandes unidades de educação pública projetadas para receber desde as crianças de creches até os alunos das últimas etapas do Ensino Fundamental. Com essa proposta, surgiram os primeiros Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy. Situados em regiões mais carentes, englobam também equipamentos esportivos e culturais abertos ao uso da comunidade do entorno aos finais de semana. Anos depois, o ex-prefeito Fernando Haddad resolveu espalhar mais CEUs por São Paulo. Porém, ao invés de áreas periféricas, escolheu grandes centros esportivos municipais que já dispunham de parte da estrutura, como o CEE Arthur Friendenreich, na Vila Prudente. Também não priorizou regiões com falta de escolas e os enormes prédios dos novos CEUs ficaram restritos à Educação Infantil.

As obras do CEU Vila Prudente começaram em dezembro de 2015, sob protestos de usuários do CEE, além de ambientalista por causa da retirada de mais de 200 árvores para a construção do prédio de 10 mil m², distribuídos em cinco pavimentos. Na ocasião, também ocorreram advertências de educadores de que não existia demanda na região para um equipamento deste porte e o melhor seria investir em espaços mais adequados para creches.
Apesar da promessa de Haddad de entregar o CEU em um ano, a construção chegou a ser paralisada e o prédio começou a ser utilizado apenas em fevereiro de 2020, por 213 crianças de 0 a 5 anos. O então prefeito Bruno Covas, que inaugurou a unidade, também reclamou da escolha equivocada de local, mas afirmou que não podia deixar a obra inacabada.

Nesta semana, a Secretaria Municipal de Educação reafirmou à Folha que o CEU foi projetado e continuará atendendo exclusivamente alunos da Educação Infantil. Apesar da capacidade para mais de 500 crianças, atualmente conta com 432 matriculadas que utilizam 13 salas no térreo e no primeiro andar.

Sobre a ociosidade nos demais andares do edifício, a Secretaria ressaltou que abrigam equipamentos, como biblioteca, estúdios e teatro, que poderão ser utilizados por alunos de escolas das imediações, assim como a comunidade, quando a situação da pandemia permitir. A mesma explicação foi dada para a piscina semi-olímpica aquecida construída dentro do CEU.

A Secretaria informou ainda que o CEU aguarda os trâmites legais, definidos pelo Chamamento Público deste ano, para que uma Organização da Sociedade Civil (OSC) assuma a administração.


Sucessão de erros

Crítico do projeto desde o anúncio na gestão Haddad, o ex-vereador Claudio Fonseca e presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), acredita que a Prefeitura continua insistindo no erro em relação aos novos CEUs. “A mesma situação acontece no CEU Carrão. As crianças deveriam ficar em prédios horizontalizados, com mais segurança, sem tantos andares ou com rampas. Desde o início, foi um acúmulo de erros. Uso eleitoral da educação, além de atender interesses de construtoras para erguer grandes prédios, com piscinas aquecidas”, comenta.

Fonseca também crítica a entrega do CEUs para a administração indireta, através das OSCs. “Virou negócio. Houve um aumento absurdo do repasse para esses parceiros, como a Prefeitura chama, em comparação entre o primeiro semestre de 2020 e o deste ano”, ressalta. De acordo com ele, as despesas com manutenção e operação dessa rede parceira de Educação Infantil e creche saltaram de R$ 1.389.076.118 em agosto de 2020 para R$ 2.006.112.893 liquidado até agosto passado. “Estamos inclusive recebendo queixas sobre a distribuição das crianças, priorizando as unidades com parceiros ao invés da rede própria da Prefeitura”, completa. (Kátia Leite)

Prédio ocioso: atualmente conta com 432 crianças matriculadas que utilizam 13 salas no térreo e no primeiro andar
Secretaria alegou que a piscina semi-olímpica será utilizada para o desenvolvimento das atividades e aulas oferecidas pela OSC que assumir o CEU