Nos tempos áureos das bancas de jornais não havia quem resistisse às suas tentações: crianças querendo gibis e revistas de passatempos e adultos em busca de suas publicações favoritas. Na Vila Prudente, a Banca Nunes na Praça Padre Damião sempre foi ponto certo para os moradores: pela diversidade das opções oferecidas e principalmente, pelo simpático atendimento do jornaleiro João Nunes de Melo. Sempre com um sorriso e profissionalismo, cativava os clientes e se esforçava para conhecer as preferências deles, reservando exemplares ou avisando quando chegava alguma novidade. Mesmo com o advento da tecnologia, que extinguiu bancas pela cidade, a Banca Nunes se adaptou e continuou referência nas vidas de gerações de famílias.
Por toda essa história, foi com um misto de choque e grande tristeza que a região recebeu a notícia do falecimento de João Nunes na última sexta-feira, dia 27, aos 75 anos, por complicações da Covid-19. Ele estava internado no Hospital São Luiz, em São Caetano, desde que sentiu os primeiros sintomas da doença, mas o quadro infeccioso se agravou.
O filho Ricardo Nunes conta que seis pessoas da família contraíram o vírus. “Minha mãe já estava internada, quando ele sentiu os sintomas. Ela teve alta dois dias antes dele falecer”, explica o filho que também teve a doença, mas pode se cuidar em casa. “Ele tinha diabetes, mas mantinha controlada e estava super bem de saúde. Se alimentava bem, fazia caminhadas. Difícil de acreditar que tudo isso aconteceu”, completa.
Além da morte, a tristeza da família Nunes é a mesma vivenciada por outras que vem perdendo entes para a Covid-19. “Não pudemos fazer uma despedida, nos abraçar para chorar juntos. Ele era muito religioso, mas vamos ter que esperar tudo isso passar para marcar uma missa”, comenta. Ele foi cremado em um crematório em São Caetano do Sul.
João Nunes deixa a esposa Maria Evandi, a Vanda; os irmãos Anatalício e Maria Anita; os filhos Ricardo e Roberta e os netos Gabriel e Laura, além de uma legião de amigos conquistados nos mais de 43 anos como bem sucedido jornaleiro.
No final da década de 70, João Nunes se destacou no ramo e virou manchete de jornais, pois mantinha bancas em alguns dos pontos mais concorridos de São Paulo, como a famosa esquina das avenidas Ipiranga e São João e na Praça Ramos, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo. “Mas, a banca na Vila Prudente acabou virando o xodó, tinha um carinho enorme por ela, pelo fato de morarmos no bairro”, conta o filho.
A Folha também expressa uma dívida de gratidão: João Nunes defendeu a fundação da Folha de Vila Prudente e sempre foi um cuidadoso distribuidor dos exemplares semanais nestes 28 anos de existência do jornal.
A Banca Nunes ficará fechada por tempo indeterminado, mas presente na lembrança de cada morador da região que saiu feliz do local com a revista ou jornal favorito nas mãos ao longo das últimas décadas.
NOTA QUE A FAMÍLIA FIXOU HOJE NA BANCA NUNES: