Artigo: “Pior do que lidar com o vírus, é lidar com o pânico das pessoas”
Em tempo de coronavírus as pessoas estão apavoradas e desesperadas!
*Olga Tessari
Tudo o que é novo, assusta e provoca medo em todas as pessoas, de qualquer idade e classe social: todo mundo sente medo, uns mais, outros menos. E esse medo é normal e natural, principalmente quando o novo vem para alterar completamente a nossa rotina e nos deixar inseguros quanto ao que vai acontecer no futuro próximo.
O medo faz parte da vida, é um mecanismo de defesa do organismo presente em todos os seres humanos. É bom sentir medo, até porque ele surge nos momentos em que nos vemos diante de um perigo ou da possibilidade de sofrermos diante do novo, daquilo que desconhecemos, sobre o qual não temos respostas ou condutas conhecidas para evitarmos o sofrimento.
Quando sentimos medo do novo, ele nos leva a imaginarmos as possibilidades mais negativas do que pode vir a acontecer e, em seguida, avaliarmos as consequências. Esse é o lado bom do medo, permitindo que possamos tomar atitudes positivas no sentido de evitarmos o possível sofrimento.Vale dizer que, se não sentíssemos medo, já teríamos morrido há muito tempo porque faríamos tudo o que viesse em nossa mente, sem nos preocuparmos nem um pouco com as consequências das nossas atitudes impensadas.
Mas o medo também tem um lado ruim! Ao sentirmos medo, promovemos a elevação da tensão em nosso organismo e nos tornamos cada vez mais ansiosos. Nessa condição, imaginamos as piores possibilidades de sofrimento e, pior de tudo, sofremos agora por conta do que imaginamos, mesmo que nada esteja acontecendo!
E quanto mais medrosos estamos, mais ansiosos ficamos, apresentamos uma dificuldade enorme para raciocinarmos adequadamente! Tomamos atitudes movidas apenas por impulso, sem pensarmos nas consequências delas, o que, na maioria das vezes, nos leva ao arrependimento, porque nossos atos e comportamentos impulsivos quase sempre geram consequências negativas, tanto para nós mesmos como também para muitas outras pessoas.
Quanto mais medo você sente, menos você raciocina e mais atitudes impulsivas você toma, o que pode levar a consequências nefastas, que poderão afetar outras pessoas.
Pessoas muito ansiosas e que se deixam dominar pelos seus medos tornam-se desesperadas, agindo de forma tresloucada, estranha e até egoísta do ponto de vista social, sem pensarem nas consequências de seus atos! Um exemplo são aquelas pessoas que vão ao mercado, compram quantidades absurdas de alimentos e de outros produtos que consideram essenciais por medo de que, em algum momento futuro, possam vir a passar fome ou não terem como evitar o vírus pela falta de produtos de higiene. Se todos nós agirmos dessa forma, certamente haverá desabastecimento, até porque as indústrias e o comércio não estão preparados para venderem tantos produtos em tão pouco tempo! E, infelizmente, todos irão passar fome e não terão como se protegerem do vírus!
Mas você pode estar se perguntando: é possível não ser dominado pelo medo diante desse novo vírus assustador?
Ao invés agirmos de forma insana por estarmos dominados pelo medo, o melhor a fazer é usar o lado bom do medo a nosso favor! O mais importante agora não é pensar no futuro, mas no presente, no que você pode fazer dia após dia para evitar a disseminação do vírus! O nosso futuro será consequência das atitudes que tomarmos agora, no presente!
Ficar confinado dentro de casa é a melhor coisa a se fazer nesse momento! E, ao invés de sofrer porque você está preso dentro de casa, que tal aproveitar esse momento para fazer muitas coisas que você vive dizendo que faria se tivesse tempo suficiente para ficar em casa?
Dizem que “mente vazia é oficina do demônio”, portanto, aproveite esse tempo em casa para ocupar-se, aprendendo coisas novas, fazendo aquela arrumação do seu quarto ou no seu guarda-roupas que você adia há tanto tempo! Brinque com as crianças, converse com os mais velhos, ouça as histórias que eles têm para contar! Que tal ver os álbuns de família? Aposto que serão momentos bem divertidos!
Uma ótima ideia é colocar uma música bem alegre, agitada e fazer todos da casa dançarem! As crianças vão adorar, é uma ótima diversão e vai causar ótimas gargalhadas! Faça atividades físicas constantes, exercite-se dentro de casa!
Ler um livro ou ver uma série vão prender sua atenção por horas! Ouça músicas e cante junto, chame a família para cantar também. Está comprovado cientificamente que quem canta, espanta seus males!
Ao invés de ficar no celular ou computador lendo notícias e aumentando sua tensão, que tal aproveitar e jogar ou entrar em contato com pessoas queridas que estão distantes? Dessa forma, você também evita a solidão.
Vale dizer que ficar confinado em casa, no convívio com familiares que nem sempre são boas companhias, pode também ser uma grande fonte de tensão. Por isso, ao invés de ficar irritado por ter que permanecer junto a eles, pense que essa irritação só vai trazer problemas e sofrimento para você mesmo. Entenda que as pessoas são como são e agora é a hora de aprender a conviver pacificamente com todos! Que tal procurar dar uma chance a si mesmo nesse período de quarentena para ver o que esses familiares têm de bom e de positivo a acrescentar na sua vida? Ninguém é só defeitos! Todos temos muitas qualidades!
E, por último, e não menos importante, pare de ficar o tempo todo atrás de notícias a respeito do vírus. Procure se informar apenas uma vez ao dia, consultando fontes confiáveis! Em tempos de internet e Fake News, as notícias falsas se propagam rapidamente e nos deixam ainda mais medrosos e ansiosos! Siga as orientações prescritas por essas fontes como o Ministério da Saúde, por exemplo.
O momento agora é de solidariedade, de união, de pensar no outro e no bem comum, afinal, vivemos em sociedade e o que cada um faz ou deixa de fazer pode afetar a vida de muitos outros! Se agirmos com amor pelas pessoas e por nós mesmos, isso revelará que a humanidade ainda não está perdida e que há a esperança de dias muito melhores para todos nós quando esse vírus perder a sua força.
Só depende de nós mesmos!
*Olga Tessari é Psicóloga, Psicoterapeuta e Pesquisadora desde 1984. Autora de livros, ministra cursos e palestras e se especializou em medos, ansiedade, estresse e pânico. Vem fazendo lives no em sua página no Facebook (facebook.com/draolgatessari/) para auxiliar as pessoas nesse momento de quarentena. Moradora da Mooca, escreveu o artigo a pedido da Folha.
Site: www.olgatessari.com