Há seis meses como subprefeito de Vila Prudente, o engenheiro agrônomo José Antonio Varela Queija, comemora que elevou a posição da subprefeitura no ranking da Prefeitura – elaborado segundo as demandas recebidas e a capacidade da unidade em executar os serviços. Mesmo assim, Queija acredita que a subprefeitura – responsável pelos distritos de Vila Prudente e São Lucas – pode fazer mais pela região. Para isso, depende do engajamento da população. “Estou contente com a melhoria do desempenho da subprefeitura, mas quero maior participação da população. Sinto muita falta disso na região”, destaca Queija.
No dia em que atendeu a reportagem da Folha para a entrevista abaixo, a subprefeitura tinha 105 pedidos de tapa-buraco abertos através dos canais de comunicação oficiais da Prefeitura. “Se circularmos pelas ruas, encontramos quantidade bem maior de buracos. A comunidade precisa criar o hábito de indicar os problemas”, pede o subprefeito.
Como forma de controle das equipes nas ruas, a diretriz do governo municipal é que o serviço só será pago se a solicitação do mesmo constar nos registros. O munícipe recebe inclusive um número de protocolo quando faz a reclamação e pode acompanhar o andamento do pedido. “Evita o antigo problema do caminhão que deixava a subprefeitura carregado de material e metade sumia. Por outro lado, a equipe não pode tapar cinco buracos se o morador da rua pediu apenas para fechar dois deles”, exemplifica Queija. Ele alerta que a baixa solicitação de serviços pode influenciar no orçamento da Subprefeitura. O subprefeito falou ainda sobre outras questões importantes da região.
Folha – Em março, a Vila Prudente enfrentou uma das piores inundações de sua história. Mesmo sabendo que as grandes medidas contra enchentes não são de competência da subprefeitura, é sabido também que só com cobrança contínua essas obras receberão prioridade. O senhor tem participado de discussões nesse sentido com os secretários?
José Antonio Queija – A enchente de março foi atípica. Além da forte chuva, a região acabou recebendo água das cidades lindeiras porque os piscinões vizinhos também não deram conta. O reservatório da Vila Prudente (Piscinão Guamiranga) é o maior de São Paulo. Na verdade, o piscinão funcionou, mas foi tanta água que não comportou. Muitas pessoas inclusive questionaram se foram abertas as comportas, isso não aconteceu. Extravasou mesmo. Atualmente o piscinão está com o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do Estado, e existe a proposta de passar para responsabilidade da Prefeitura, para a nossa subprefeitura. Acho que tem que vir para a nossa administração mesmo, contanto que também repassem as verbas. Estamos calculando quanto gastaremos para limpar, porque o próprio DAEE não tem essa informação. Enfim, estamos estudando o custo da manutenção e negociando a transferência. Acredito que se não for esse ano, será no começo do próximo com certeza.
Folha – Qual o motivo dessa transferência do piscinão?
José Antonio Queija – Acredito que seja porque estamos mais perto, temos mais condições de acompanhar. Além disso, quase todos os piscinões já estão com as manutenções a cargo das respectivas subprefeituras. O da Vila Prudente provavelmente só não passou para o município ainda porque é o maior. Ainda sobre as enchentes, o que tenho de informação dos secretários é que foi aberta a licitação do projeto executivo do piscinão na área do clube Arthur Friedenreich, na avenida Anhaia Mello. É um grande avanço e será construído direto pela Prefeitura, através da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras. Agora que estamos com as equipes completas, também reforçamos a limpeza, principalmente de bueiros. Embora, como já ressaltei, em março foi uma chuva totalmente atípica e não teria limpeza que daria conta de tanta água.
Folha – Aproveitando essa questão de zeladoria, sabemos que não é um problema pontual da região, as reclamações se acumulam em toda cidade, mas por que aumentaram tanto nesta gestão? Muitos buracos, mato alto nas calçadas, etc.
José Antonio Queija – Quando chegamos, eu e a minha equipe, pegamos a subprefeitura na 32ª posição, a última entre todas da cidade em uma espécie de ranking controlado pela Secretaria das Subprefeituras, através das demandas que entram e os serviços que conseguem ser executados. Hoje, com a ajuda de todos aqui da unidade, passamos para a 12ª posição, segundo a última atualização que recebi. Também já tivemos um aporte grande do prefeito nos valores de zeladoria. Conseguimos equalizar as equipes, que hoje estão completas, a estrutura e executamos melhor o serviço. Por exemplo, tínhamos 250 toneladas de massa asfáltica por mês para o tapa-buraco, que dá mais ou menos dez toneladas por dia, e conseguimos dobrar para 500 toneladas. Enfrentamos ainda uma forte temporada de chuvas, quando o rendimento de muitos trabalhos não é bom. A Prefeitura também trocou o fornecimento de massa asfáltica, que agora não é mais da Usina de Asfalto, que está sendo fechada, e agora retiramos em Santo André. Ficou mais ágil para a nossa subprefeitura, além do material ser de melhor qualidade. Enfim, com as equipes completas, conseguimos fazer um trabalho mais visível. A zeladoria pode melhorar ainda mais com a participação da comunidade nos encontros que promovemos mensalmente aqui na subprefeitura, nas reuniões de Conseg (Conselhos Comunitários de Segurança) e através de pedidos para os canais da Prefeitura: o telefone 156, o portal e o aplicativo.
Folha – O senhor nota diferença de comportamento em relação às outras subprefeituras em que já atuou?
José Antonio Queija – Em outras regiões por onde já passei, a população era mais ativa. Além disso, para melhor controle do serviço e da verba, as equipes nas ruas só podem executar o que foi efetivamente solicitado através dos canais oficiais, senão não podemos nem pagar. Está mais burocrático, mas evita problemas do passado, quando caminhões saiam carregados, executavam apenas parte do serviço e o resto do material sumia. Hoje, se a equipe chega à via e encontra dez buracos, mas há pedido para um, só pode tapar esse único. O que estamos fazendo é mandar alguém da equipe vistoriar a rua antes e nós mesmos abrirmos os pedidos pela própria subprefeitura, mas a Prefeitura também está querendo cortar essa prática institucional. Então a comunidade tem que nos auxiliar, reforçando as reclamações. Essa falta de hábito da população local reclamar, pode influenciar inclusive no orçamento da nossa subprefeitura. Se a Prefeitura detecta que temos poucos pedidos, pode entender que a região precisa de menos verba que outras subprefeituras onde a população solicita mais serviços. É como acontece na segurança pública, a polícia não consegue saber onde está o problema, se a vítima não faz o boletim de ocorrência. Se não tem BO, não tem crime.
Folha – Existe previsão de recapeamento de ruas e avenidas?
José Antonio Queija – Ainda não anunciaram, mas acredito que seremos contemplados na próxima fase, pois já faz um tempo que o serviço não acontece na região.
Folha – O despejo clandestino de entulho é um problema crônico na região. Existe algum estudo da Prefeitura que aponta que a região é mais visada que outras? Que ações podem ser desenvolvidas para minimizar essa situação?
José Antonio Queija – Todas as áreas lindeiras da cidade são mais problemáticas. São pontos onde o motorista do caminhão consegue desviar de uma grande avenida, entrar em uma rua menos movimentada e faz o despejo. Realmente é um problema crônico e grave. Vamos montar algumas operações noturnas ainda neste mês para tentar pegar essas pessoas. Serão em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Civil, inclusive para fazermos um BO como crime ambiental. A ideia é tentar apreender o caminhão, a máquina e aplicar a multa prevista para este tipo de infração. Também estamos em estudo com o prefeito para conseguirmos multar com uma foto do caminhão basculante. Queremos que a foto passe a ser uma prova para autuação, como se fosse um radar. É mais simples que montar toda uma operação para flagrar. O que não pode é permanecer nessa impunidade. É um problema sério, gastamos muito dinheiro com isso. A gente recolhe o entulho despejado clandestinamente e precisamos pagar para jogar no local certo. Fora o tempo desperdiçado das equipes e o combustível dessas idas e vindas. Posso afirmar que dava para tocar três ou quatro subprefeituras com o orçamento que se gasta com esses pontos viciados na cidade.
Folha – Quais considerações finais o senhor deseja fazer?
José Antonio Queija – Já começamos a receber as emendas dos parlamentares. O procedimento mudou e agora fazemos a licitação por aqui, então o processo é um pouco mais demorado, mesmo assim já conseguimos dar andamento em três obras. Duas delas de revitalizações em praças: na Padre Damião, na Vila Prudente; na Virgílio Lúcio, na Vila Ema; e a terceira em uma área pública do antigo CDC Pinheirinho, que também inclui a cobertura de uma quadra de futsal. Também já reiniciamos a limpeza de córregos, que ficou um tempo parada. Considero que em relação à subprefeitura, conseguimos colocar o trem no trilho de novo, e volto a repetir que gostaríamos de ter mais participação popular.