Lamaçal persistiu nas ruas após a enchente


Mais de uma semana depois da violenta enchente que atingiu a Vila Prudente, comerciantes e moradores reclamam que ainda convivem com a lama na porta de seus imóveis. A Folha percorreu algumas travessas da avenida Dr. Francisco Mesquita e confirmou que a Prefeitura não lavou as ruas. A rua Joanópolis (foto acima) foi uma das que permaneceram sujas. Na maioria das vias, o lamaçal só diminuiu por causa das novas chuvas nos últimos dias.

“Aqui não apareceu caminhão pipa da Prefeitura. Eu e outros vizinhos lavamos a frente das nossas residências, mas com mangueiras é muito difícil de remover toda a lama. Estamos há dias respirando esse pó que invade as casas. Já tem muita gente com problemas alérgicos”, comenta a moradora da rua Pindamonhangaba, Maria Angelica Medina. “Vimos caminhões lavando apenas a Dr. Francisco Mesquita”, completa. “Moro há 60 anos nessa rua e fiquei muito assustada com essa enchente. A água batia no meu ombro dentro da sala. Foi um prejuízo enorme. Pensamos até em juntar alguns vizinhos para ir reclamar na Prefeitura, mas estamos tão emocionalmente abalados ainda, que nem para isso tivemos forças”, resume Maria.

A moradora da rua Tajupi, que prefere não se identificar, questiona o que o prefeito Bruno Covas veio fazer na Vila Prudente na semana passada. “Não adianta vir só olhar os estragos. A sorte da Prefeitura é que choveu e levou parte da lama. Mas, continuamos nervosos, mal tenho dormido”, comenta.

A Subprefeitura de Vila Prudente (SUB-VP) explicou que foi impossível atender todas as ocorrências concomitantemente. Foi ressaltado que em várias vias já tinham ocorrido as remoções de objetos descartados pelos moradores e portanto, poderiam ser lavadas; mas as equipes se depararam com mais materiais depositados nas calçadas, atrasando a limpeza total das ruas. Foi explicado ainda que antes mesmo da visita do prefeito na manhã da quinta-feira, dia 14, a região havia recebido reforço de equipes de outras subprefeituras.

Reunião na SUB-VP

Na semana passada aconteceu na sede da SUB-VP a segunda Reunião de Zeladoria com moradores e lideranças dos distritos de Vila Prudente e São Lucas. O encontro foi marcado por calorosa discussão sobre a violenta enchente ocorrida na região entre a noite do domingo, dia 10, e a manhã da segunda-feira, 11.

Alguns dos presentes criticaram a demora da Prefeitura em prestar atendimento às famílias afetadas pela inundação e a morosidade dos serviços de limpeza. “Equipes da Defesa Civil e de Assistência Social demoraram muito para chegar nos principais pontos atingidos. Na Favela de Vila Prudente, por exemplo, apareceram apenas na tarde da segunda-feira. Graças aos voluntários, as pessoas não ficaram desamparadas”, reclamou o morador da região Fábio Jesus.

Quem também esbravejou por causa da falta de assistência da Prefeitura foi Fabiana de Jesus, moradora da comunidade que fica na rua Barbeiro de Sevilha, no São Lucas. “A região do São Lucas foi esquecida. Tivemos várias moradias destruídas com a enchente e ninguém da Prefeitura apareceu para nos ajudar. Muitas pessoas perderam tudo, estão dormindo no chão e com fome. Nenhuma equipe de limpeza apareceu para remover o que foi perdido e está tudo amontoado”, afirmou. A comunidade foi atingida pelo transbordo do córrego Oratório.

O subprefeito José Antonio Varela Queija, idealizador das reuniões mensais com a comunidade, informou que este segundo encontro foi atípico por conta da forte enchente que assolou a região e tentou esclarecer o que a subprefeitura tem feito nos últimos dias. “O serviço de limpeza e remoção começou na segunda-feira pela manhã e priorizamos os locais mais caóticos e com mais fluxo de veículos e pessoas, como as avenidas Dr. Francisco Mesquita e Anhaia Mello”, declarou. “Estamos utilizando o próprio pátio da sede da Subprefeitura para despejar os materiais recolhidos, assim os caminhões ganham tempo e a limpeza fica mais ágil. Normalmente a sujeira recolhida é levada para a região de Guarulhos. Estamos empenhados em tentar amenizar os prejuízos da população”, completou. (Gerson Rodrigues / Kátia Leite)

Subprefeito José Antonio Varela Queija ouviu muitas queixas durante reunião de zeladoria. (Fotos: Agência Folha)