Mooca: Conpresp tomba creche e libera faculdade no Moinho

Em reunião ocorrida no último dia 27, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) deferiu dois processos relacionados ao bairro da Mooca. O primeiro foi o tombamento do histórico edifício da creche Marina Crespi, na rua João Antônio de Oliveira, 59. O segundo foi a liberação da construção de um complexo educacional na área que abrigou os Grandes Moinhos Minetti-Gamba (foto), mais conhecido como Moinho Santo Antônio, na rua Borges de Figueiredo.

Sobre a creche, o processo para o tombamento do edifício foi iniciado em 1º de julho de 2010, após mobilização de membros da comunidade que lutam pela preservação de pontos históricos do bairro. Na época, o imóvel estava ocupado por um grupo de sem-tetos e sofria muitas intervenções estruturais, o que poderia descaracterizar o prédio.

Na sessão do último dia 27, a relatora do parecer, a vereadora Adriana Ramalho (PSDB) justificou a aprovação do tombamento da creche com a seguinte argumentação: “O local possui arquitetura singular e com traços modernizadores para o período das primeiras décadas do século XX em relação ao que vinha sendo produzido em São Paulo e no Brasil na época. Mesmo tendo sofrido alterações parciais ao longo dos anos, o edifício manteve os principais traços do projeto original do arquiteto italiano Giovani Bianchi”. Ela destacou ainda que, além da arquitetura, o imóvel possui grande representatividade histórica. “A creche é símbolo do crescente processo de industrialização da cidade, aumento do operariado feminino, a multiplicação de escolas e redução das taxas de analfabetismo”, afirmou.

Moinho Santo Antônio

Na mesma reunião, o Conpresp deferiu o processo iniciado neste ano referente à construção de uma faculdade pela Crefipar Participações e Empreendimentos na área que abrigou o Moinho Santo Antônio. O relator do parecer foi o conselheiro que representa a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, Ronaldo Parente. Após análise dos outros membros, o projeto para o espaço foi deferido com as ressalvas de que a chaminé e parte de um galpão sejam preservados.

Segundo o parecer do relator, o projeto contempla uma edificação central por onde serão distribuídos seis blocos laterais, os quais serão destinados às salas de aula e auditório, intercalados com áreas ajardinadas e com gabarito máximo de 25 metros de altura. É citado ainda que no local permanecem, como testemunho de sua antiga ocupação, uma chaminé e parte da estrutura de um galpão, elementos listados na resolução de tombamento. No parecer consta também que, de acordo com o material gráfico apresentado junto ao projeto, consta um amplo campo visual tomado da rua em direção aos elementos tombados, o que não prejudica a visibilidade dos mesmos.

A notícia preocupou as pessoas que lutam há anos pela preservação do histórico prédio. “Além de ser tombado duplamente, o Moinho foi contemplado, depois de muita persistência, na Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí como edifício de interesse de preservação histórica. Por tudo isso, esse espaço precisa ser respeitado e qualquer intervenção dos proprietários deve ser discutida com a comunidade”, comenta uma das representantes da Associação dos Amigos do Moinho, criada em 2014 justamente para defender as características e valor histórico do imóvel. “O Moinho faz parte da paisagem e da identidade de São Paulo e da Mooca. Não pode ser descaracterizado. Se construírem uma faculdade no local, o acesso será restrito a alunos. O nosso projeto é para que seja criado no imóvel um espaço multicultural, o qual poderá abrigar diversas atividades sustentáveis e sem agredir o patrimônio, a exemplo do Sesc Pompéia”, explica a representante da Associação, que pediu o nome não ser divulgado.