A histórica área que abrigou os Grandes Moinhos Minetti-Gamba, mais conhecido como Moinho Santo Antônio, na rua Borges de Figueiredo, 510, na Mooca, está fechada desde 2013, quando a empresa Moinho Eventos, locatária do espaço na época, encerrou suas atividades. Agora, a proprietária do imóvel, a empresa Crefipar Participações e Empreendimentos pretende construir um campus da Faculdade das Américas (FAM) no local e, conforme a FolhaVP apurou, os trâmites para o início das obras estão adiantados.
Documento emitido recentemente pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento concedeu o alvará de aprovação de reforma do espaço à empresa Vidal & Sant´Anna Arquitetura, contratada pela Crefipar para o projeto da faculdade.
No documento consta que a empresa pretende erguer no espaço oito prédios, sendo dois de seis andares, um de quatro, cinco de um andar cada e espaços no subsolo, que totalizarão 42.223 m² de área total construída. Atualmente, de acordo com a escritura, o imóvel possui 18.667 m². Para o início das obras ainda é necessário o alvará de execução, em análise na Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, conforme o órgão confirmou à FolhaVP na última quarta-feira, dia 24.
Como o conjunto possui duplo tombamento – pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) em 2007 e pelo Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artísitico e Turístico (CONDEPHAAT) em 2013; a notícia preocupou as pessoas que lutam há anos pela preservação do histórico prédio. “Além de ser tombado duplamente, o Moinho foi contemplado, depois de muita persistência, na Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí como edifício de interesse de preservação histórica. Por tudo isso, esse espaço precisa ser respeitado e qualquer intervenção dos proprietários deve ser discutida com a comunidade”, comenta uma das responsáveis pela Associação dos Amigos do Moinho, criada em 2014 justamente para defender as características e valor histórico do imóvel.
Para a Associação, antes de liberar qualquer tipo de intervenção, a Prefeitura deveria ter convocado a comunidade. “Obras no local têm que ser discutidas de forma transparente e participativa. O Moinho faz parte da paisagem e da identidade de São Paulo e da Mooca. Não pode ser descaracterizado. Se construírem uma faculdade no local, o acesso será restrito a alunos. O nosso projeto é para que seja criado no imóvel um espaço multicultural, o qual poderá abrigar diversas atividades sustentáveis, a exemplo do SESC Pompéia, sem agredir o patrimônio”, explica a representante da Associação.
A FolhaVP questionou as Secretarias de Cultura estadual e municipal e a única que se pronunciou até o fechamento da matéria foi a do Estado, a qual informou que o CONDEPHAAT autorizou a realização de obras no Moinho Santo Antônio, mas detalhes sobre o projeto deveriam ser consultados com a empresa responsável.
A reportagem conversou por e-mail com o responsável pela Vidal & Sant´Anna Arquitetura, o arquiteto Silvio Stefanini Sant´Anna, o qual informou que não está autorizado a dar muitas informações, mas fez alguns esclarecimentos. Segundo o arquiteto, todas as edificações dos moinhos de trigo e de arroz, sala da guarda, balança, galpões principais e demais edificações tombadas estão sendo preservadas e recuperadas para o bem patrimonial da cidade. Foi ressaltado que o Moinho “será um espaço de exposição de cultura de usufruto da população da Mooca e da cidade e a biblioteca poderá ser acessível a demais estudantes”. O arquiteto esclareceu ainda que o projeto foi aprovado pelo Conpresp e CONDEPHAAT, assim como o Depave para a preservação das árvores existentes. Para finalizar, afirmou que as edificações que atualmente apresentam estado de calamidade e com patologias de risco de queda serão recuperadas para benefício da cidade e arquitetura. Quanto ao início efetivo da obra, informou que não há previsão. (Gerson Rodrigues)