O cenário na parte central da área de concessão do Cemitério São Pedro de Vila Alpina é de tristeza e desolador. Nesse local, próximo dos ossários, se contabilizam mais de 20 túmulos destruídos em várias quadras, alguns dos quais em sequência. Águas das chuvas se infiltram com força no subsolo das campas e abrem enormes fendas. Os buracos que surgiram estão isolados com fitas zebradas pela administração do cemitério, mas não evitam visualizar a dimensão dos estragos.
O problema, segundo funcionários e frequentadores, não é recente e já foi alvo de matéria da Folha. Há sete anos, uma erosão danificou oito túmulos. Familiares esperaram por meses a localização de outros donos dos túmulos para conseguir autorização e serem transferidos para outras quadras. Na época para não agravar a situação, o Serviço Funerário Municipal ergueu uma mureta de 80 metros de extensão na alameda situada no trecho elevado do cemitério paralela à avenida Francisco Falconi. A providência idealizada para captar maior volume das águas pelas cinco bocas de lobo, porém, não surtiu efeito.
“Há um ano surgiu esse buraco nessa campa e por conta própria coloquei uma tampa, mas não adiantou”, afirma o projetista Douglas Martinuci, morador de São Caetano do Sul. A família de sua esposa possui túmulo na quadra 12. “Tenho certeza de que foi por ali que a água da chuva entrou, avançou e logo depois fez despencar outros três túmulos mais abaixo. Avisei a administração, mas a resposta é que iriam tampar com terra e plantar grama e flores, mas as covas continuam abertas até hoje”.
De acordo com um jardineiro ouvido pela reportagem, mas que pediu para não ter seu nome revelado, a falta de dados cadastrais atualizados dos familiares dificulta a transferência ou a eventual permuta de local. “Sem autorização por escrito, não se pode tocar nos túmulos ou nas gavetas laterais que abrigam os corpos”, comenta.
O trecho mais devastador é na Quadra 21. Há pouco mais de um mês, após intenso temporal a força das águas danificou várias campas em série e fez surgir uma enorme cratera. Uma árvore de sete metros de altura com parte das raízes expostas e um dos túmulos resistem por enquanto, mas apresentam sinais de que estão prestes a desabar.
Essa situação de incertezas e a demora em restaurar os locais preocupa os donos de túmulos próximos. “O risco de desabamento é grande”, diz a professora aposentada Arlinda Soares Hansen, que reside no Jardim Paulista. Seus familiares estão sepultados na quadra vizinha ao 21. “A falta de serviços de limpeza e de manutenção, mais essas enormes covas reforçam o ar de abandono do cemitério. Enquanto não for encontrada uma rápida solução não vou reformar de novo o túmulo da minha família”.
Serviço Funerário responde que cemitério foi mal projetado
Inaugurado em 1971, o cemitério em Vila Alpina teve projetos arquitetônicos equivocados para a construção dos túmulos. A constatação é do próprio Serviço Funerário do Município que, questionado pela Folha sobre o grave problema de desmoronamentos, explicou que o espaço adotado entre a laje de concreto da sepultura e a campa, de quase um metro, deveria ser de apenas 0,20 centímetros para evitar a sobrecarga excessiva do peso de terra. Ainda segundo o órgão, além do desalinhamento, os construtores não levaram em consideração a topografia do local para escoamento de águas pluviais. Por isso, a água da chuva empoça formando uma piscina que aumenta a densidade de terra, sobrecarregando a laje do túmulo e ocasionando a ruptura da mesma. Como exemplo, o Serviço Funerário citou que o peso estimado de quase um metro de terra sobre a sepultura de 2,20m x 2,20m pode chegar, em média, a quase três toneladas sobre a laje antiga do túmulo quando encharcada.
Para tentar solucionar o problema, está em estudo um sistema de escoamento superficial das águas pluviais entre os túmulos. Foi ressaltado ainda que os projetos atuais de construção de túmulos com gavetas são fiscalizados com maior rigor técnico, dentro das novas técnicas vigentes, com o objetivo de evitar problemas semelhantes no futuro, além de aumentar a durabilidade e a segurança.
Sobre as pessoas que estão enfrentando o problema nos túmulos de familiares, o Serviço Funerário respondeu que o estudo sobre o sistema de escoamento atenderá esses concessionários antigos e norteará novos procedimentos. (Kátia Leite)