A questão é antiga, mas tem gerado cada vez mais reclamações e preocupações, principalmente porque desde a inauguração do Parque Ecológico Professora Lydia Natalizio Diogo, o popular parque de Vila Prudente, o local passou a receber muitas crianças. Mesmo assim, basta passar pelo trecho para avistar dezenas de adolescentes e adultos empinando pipas dentro do parque, no espaço do Crematório de Vila Alpina ou correndo pela avenida Francisco Falconi e pelas ruas Aracati Mirim e João Pedro Lecor, exigindo atenção extra dos motoristas que circulam pelas vias. Aos finais de semana a situação piora, prejudicando inclusive a caminhada e corrida de usuários da área verde. É importante ressaltar ainda que na avenida existe uma ciclovia implantada em agosto pela Prefeitura. O maior problema é o uso do cerol nas linhas, que pode machucar gravemente outras pessoas.
“Eu e os demais frequentadores do parque estamos preocupados com o descaso sobre esse assunto. A situação, além de depreciar o patrimônio público, causa sérios riscos de ferimentos. Já me cortei em uma linha com cerol dentro do parque. A administração tem que fazer algo. Em outros parques da cidade, como o CERET, o Parque do Povo e o Villa Lobos, não existe este problema”, ressalta o usuário Ivandro Inaba de Sena.
Quem também reclama é Gerson Perussi. “Gostaria de entender porque isso só acontece na Vila Prudente. Não é permitido nos demais parques, mas aqui vale tudo? Também desrespeitam um lugar sagrado, como o crematório: pisoteiam as plantas, quebram galhos de árvores, usam cerol e frequentemente machucam os frequentadores desses espaços”, comenta Perussi.
Já o morador do Jardim Avelino, Kleber Novais Dias, destaca que o problema dura o ano todo e não apenas no período de férias escolares, como ocorria antigamente. “Na minha época somente as crianças soltavam pipa. Hoje vejo muitos adultos ao redor e dentro do parque e do crematório. Basta reparar que o número de pipeiros aumenta a partir das 17h, quando os ‘barbados’ começam a sair do serviço”, explica Dias.
Conselho Gestor
O caso é constantemente abordado nas reuniões do Conselho Gestor do Parque de Vila Prudente. “É uma demanda antiga. Já enviamos ofício à Prefeitura e solicitamos maior apoio da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana. Porém, a situação só piora. A maioria dos pipeiros fica no crematório ou na rua, mas eles acabam entrando no parque para pegar as pipas que caem na unidade. A orientação passada aos guardas particulares do parque é que não deixar empinar lá dentro, já que é proibido pelo regulamento interno. Só que eles acabam sendo até ameaçados pelos pipeiros”, comenta o conselheiro Osmar Lemes dos Santos.
José Corona, que é usuário do parque e já foi membro do Conselho, confirma que as tentativas de solucionar o problema acontecem há anos. “Mas, vem piorando ultimamente. São jovens e adultos correndo na rua entre os carros e na grama dos equipamentos. Fora isso, a linha com cerol das pipas prende nas árvores e nos pássaros. Também geram perigo aos usuários do parque. Eu mesmo faço parte de um grupo de corrida aos finais de semana e não utilizamos mais a unidade devido ao grande número de pessoas empinando pipa na área e nos arredores. Quando era do Conselho sempre cobrava uma ação mais enérgica da Polícia Militar, mas até hoje o problema não foi resolvido”.
Nas últimas semanas a Folha tem flagrado diariamente a grande quantidade de pessoas empinando pipa dentro do parque, inclusive, é comum ver que os seguranças não só permitem a situação, como ficam observando as pipas no ar e ‘batem papo’ com os pipeiros.
GCM garante que faz policiamento da área
Questionada pela reportagem, a Inspetoria Vila Prudente da Guarda Civil Metropolitana (GCM) ressaltou que sempre está presente na área do parque e do crematório, mas não informou sobre a realização de alguma ação para inibir a soltura de pipas com cerol no local. A nota enviada ao jornal ressalta que além de manter policiamento com ronda diária, a Guarda é acionada pela administração da área verde, quando necessário. Foi esclarecido ainda que “aos finais de semana e feriados a região em questão é contemplada com uma Base Móvel”.
Já a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, diferente do que foi flagrado pela reportagem da Folha, destacou que de acordo com o regulamento interno do parque, é proibido empinar pipas nas dependências do local, e que a equipe de vigilância orienta sempre que nota alguém cometendo tal ato.
Também questionado, o Serviço Funerário do Município, responsável pelo Crematório de Vila Alpina, destacou que incentiva os jovens a soltarem pipa no estacionamento da unidade, que é utilizado pela população como extensão do parque. Entretanto, foi ressaltado que usar cerol nas linhas é ilegal, mas que a fiscalização cabe à GCM
Também indagado, o 21º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento da região, e que mantém a 4ª Companhia a poucos metros do local, não se pronunciou até o fechamento da edição.
Usar cerol é crime?
Feito a partir de uma mistura de pó de vidro com cola, o cerol é passado na linha da pipa, o que a torna altamente cortante. Nos últimos anos a substância ganhou a concorrência de outros produtos mais fortes, como a linha chamada de chilena, que é produzida através de cola de madeira e óxido de alumínio. Mas, apesar de existirem vários casos de pessoas gravemente feridas e até mesmo mortas pelos cortantes, atualmente não existe lei estadual ou federal específica que enquadre o ato de utilizar o cerol ou derivados como crime. A pessoa passa a ser responsabilizada criminalmente apenas em caso de provocar acidentes.
Na esfera administrativa é proibida a fabricação e a comercialização de cortantes no estado de São Paulo, sujeitando o estabelecimento infrator à multa e, no caso de reincidência, ao fechamento.
Entretanto, a utilização e venda do cerol está prestes a virar crime em todo território brasileiro. No final do primeiro semestre, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 402/11, da deputada Nilda Gondim (PMDB-PB), que acarreta em pena de reclusão para quem comercializar ou usar o cerol e demais substâncias. O tempo de prisão ainda não foi especificado, mas será aumentado se alguém for ferido pelo produto. No entanto, para entrar em vigor, ainda tem que ser votado e aprovado no Senado Federal, o que não tem data definida para ocorrer.
O crematório deveria ser fechado e o porteiro só deixaria entrar pessoas que vão a velórios e coisas afim. É simples… NO parque é só os guardas ficarem na porta e não deixar entrar com linhas e pipas.
Praticar meu hobby de fotografia não pode!
Meu moleque andar de bike não pode!
Agora empinar pipa com cerol ou linha chilena pode?
Administração abra os olhos.
Parte 1
No dia 24/11/2014, depois da matéria sobre o problema das pipas no parque, estava caminhando no local quando na minha frente, cruzando a pista de caminhada na altura da minha cabeça, havia linha com cerol, que fui obrigado a tirar do caminho para não correr o risco de me cortar. Numa das pontas da linha havia um garoto enrolando a mesma numa lata sem a menor preocupação com a proibição dessa prática. Acho que os responsáveis por coibir essa situação estão esperando alguém se ferir gravemente ou mesmo morrer para dizer que estão tomando as medidas necessárias para que novos casos não ocorram. Ainda, tanto a GCM como a Polícia Militar, sabendo que essa prática coloca em risco a vida das pessoas, sabendo que nos finais de semana a situação piora, com crianças, adolescentes e adultos também subindo no telhado do SENAI para pegar pipas, sabendo que os seguranças do local são ameaçados, não deveriam tomar providências para coibir tais ocorrências?
Quanto ao policiamento que a GCM (que deveria zelar pelo patrimônio público municipal, entre outras atribuições) alega fazer na área, posso dizer que, como frequentador do Parque da Vila Prudente, só vi um de seus carros, na semana passada, estacionado na frente do portão de entrada do SENAI, na Rua Aracati Mirim, enquanto no parque era visível a farra de pipas e linhas com cerol pertencentes a uma multidão que não se importava com sua presença.
Parte 2
Por coincidência, na mesma hora havia uma viatura da Polícia Militar (que deveria zelar pela segurança da população) estacionada na esquina da Rua Aracati Mirim com a Av. Francisco Falconi, onde os policiais que estavam ao lado do veículo também não intimidavam pessoas que dentro e fora do parque, flagrantemente colocavam em risco a vida dos demais.
O que impede a GCM de colocar alguns guardas dentro do parque e junto com os seguranças impedirem a permanência e a entrada de pessoas com pipas e linha no local, já que isso é contra suas regras?
O que impede os policiais militares, que estão sob as ordens do governador, de observar a Lei Estadual n.º 12.192, de 06/01/2006, que trata da proibição e punição cabível ao caso? O que os impede de coibir uma prática que afronta a segurança das pessoas e consequentemente afronta o próprio Código Penal?
Certamente, o que falta, não digo a todos, mas à grande maioria (governantes e funcionários públicos, pessoas que votam mal em seus governantes e que não ensinam seus filhos a respeitarem os demais) é boa vontade, respeito a si e ao próximo, é o desejo de transformar o país numa verdadeira democracia, e não nesse arremedo que nos faz sofrer e nos envergonhar, infestado de gente que só olha o próprio umbigo, esquecendo que o que e quem nos cerca também nos afeta.