O fenômeno que a esta altura já se alastrou por toda a cidade, atingiu a região com mais intensidade nesta semana. Há relatos de torneiras secas em diversos bairros. No Jardim Independência houve interrupção do fornecimento por cerca de 24 horas entre segunda e terça-feira, quando os termômetros em São Paulo chegaram a bater 35,9º. Um colégio do bairro teve que suspender parte das aulas porque não havia água nos banheiros e bebedouros.
Nos condomínios residenciais do bairro foram colocados alertas nos elevadores para os moradores diminuírem ainda mais o consumo para preservar as caixas de água. Quem buscou informações com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), ouviu que o fornecimento, suspenso na madrugada da segunda, dia 13, seria normalizado à meia-noite, no entanto, a água só voltou às 5h da terça-feira, dia 14. A mesma situação foi registrada em algumas ruas da Vila Bela, como a Ipoméias.
Na Vila Ema moradores ficaram sem água na segunda-feira e ontem novamente. A Folha recebeu reclamações das ruas Domingos Afonso, Nhengaibas, Silvio de Souza, Dr. Gastão da Silveira e Princesa Maria Pia. “Fiquei sem água na segunda e quando voltou na terça, parecia leite por causa da grande concentração de cloro. Na noite da quarta notei que a água estava com pouca pressão e ontem a torneira estava seca de novo”, conta Fernando Salvio, morador da Nhengaíbas que vem obtendo o desconto na conta de água pela economia que faz nos últimos meses. “Também improvisei um sistema para captar a água de chuva que caí no telhado, mas, como não choveu mais, o tambor está quase vazio. A situação está dando medo”, completa Salvio.
Na região do Parque Sevilha também houve falta de água na rua Madrid durante a manhã da quarta-feira, retornando à tarde, mas, por volta das 21h30 sumiu novamente, segundo relatos que chegaram à redação.
Questionada, a Sabesp respondeu que “as elevadas temperaturas dos últimos dias provocaram aumento do consumo que, associado às medidas operacionais para levar água de outros sistemas a bairros originalmente atendidos pelo Cantareira, prejudicou o abastecimento em alguns pontos altos e distantes”.
Presidente da Sabesp diz que se não chover, água pode acabar em novembro
Desde agosto a Câmara Municipal de São Paulo realiza a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para apurar os motivos da crise no abastecimento de água que nesta semana atingiu todas as regiões da cidade. As primeiras audiências foram marcadas pelos depoimentos de funcionários da Sabesp, principalmente da presidente da Companhia, Dilma Pena.
Nas últimas semanas a CPI ganhou destaque justamente pelos pronunciamentos e contradições de Dilma. No dia 8 deste mês ela foi enfática ao dizer que a Sabesp não estava fazendo racionamento de água em São Paulo. “Não existe. O que há é falta de água em lugares pontuais, principalmente em áreas muito altas, muito longe dos reservatórios, em residências com muitos moradores ou onde a reservação [armazenamento] está incorreta”, afirmou a presidente da Companhia.
Entretanto, uma semana depois, na última quarta-feira, dia 15, Dilma Pena assumiu que a situação não é tão simples e que, se não chover, São Paulo pode ficar sem água no próximo mês. “Temos uma disponibilidade suficiente para atender a população nesse regime de chuvas até meados de novembro”.
A presidente explicou que a Sabesp pretende utilizar o segundo volume morto do Sistema Cantareira em caso de necessidade, apesar de o Ministério Público, a princípio, vetar a ideia. “Temos uma obra já licenciada, em fase de finalização, para disponibilizar 106 milhões de metros cúbicos para o Cantareira. A população poderá contar com essa água. Tem uma liminar dada pelo juiz do Ministério Público que coloca algumas condicionalidades. No primeiro parágrafo diz que não é permitido usar (o segundo volume morto), mas depois explica que se o uso for justificado, que seja com moderação. E faremos dessa maneira. O Estado e as instituições competentes estão resolvendo isso com o juiz”, completou a presidente.
A CPI da Sabesp será encerrada apenas em 17 de dezembro. Até lá, Dilma Pena será intimada outras vez a depor. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também pode ser chamado caso a situação dos reservatórios não melhore até o fim de novembro. (Rafael Gonçalo)