Visitantes do cemitério São Pedro e do crematório Doutor Jayme Augusto Lopes, que ficam na avenida Francisco Falconi, na Vila Alpina, e são divididos por um gradil, estão inconformados com a realidade encontrada nas unidades. Os equipamentos estão com vários pontos onde o acúmulo de lixo é grande, muros estão desabando, telas de arame estão destruídas e até mesmo moradores de rua e usuários de drogas se abrigam nos espaços sem serem incomodados, aproveitando a ausência de seguranças.
“No último final de semana estive nos dois locais e fiquei assustado com o que encontrei. No crematório, diversos jovens e alguns marmanjos empinavam pipas na área onde os familiares despejam as cinzas dos falecidos. Eles corriam sobre a grama, em total desrespeito ao local. No cemitério também encontrei pessoas soltando pipa, inclusive pisando nos túmulos, sem que ninguém os interrompesse. Mas, foi na divisa das duas áreas que fiquei chocado com o número de objetos de macumbas abandonados no chão, até mesmo galinhas mortas”, narra um morador da região que prefere se identificar apenas como Amaral.
A reportagem esteve nos equipamentos na manhã da terça-feira, dia 6, e se deparou com diversos problemas e visitantes revoltados. O aposentado Mauro Silveira Filho, que visitava o túmulo de sua esposa, se mostrou chateado ao ver a situação do cemitério. “Nós já passamos por muitos problemas durante a vida. Quando morremos devemos ao menos ter o direito a descansar dignamente. E a unidade está longe disso. Muitos locais estão sujos e com aspecto de abandono. Pessoas passam em cima dos túmulos sem o menor respeito. Se você não cuida do jazigo da sua família, você perde o direito de concessão. Mas a Prefeitura não toma conta da área, que está degradada e sem segurança para conter os vândalos e outros tipos de pessoas mal-intencionadas”.
Ao percorrer o cemitério, o que chamou a atenção da reportagem foram os muros e as grades de divisão da área, que, em sua maioria, ou estão danificados ou simplesmente não existem mais. “A administração do equipamento alega que a segurança é de responsabilidade da Guarda Civil Metropolitana, mas não cuidam nem da manutenção da área. Com o gradil destruído e os muros desabando e cheios de buracos, não tem como controlar quem entra no cemitério. Qualquer um pode entrar e sair a hora que bem entender. Não são tão raros os casos de vandalismo e até de furtos na unidade”, declara Denise Louveira, que visitava o túmulo da família.
No crematório a Folha flagrou a presença de cinco moradores de rua deitados e consumindo alimentos e bebidas sobre a grama da área sem serem questionados. Situação que também facilitava a presença de um jovem usando entorpecentes nos fundos do equipamento.
Enquanto esteve nas duas unidades, por cerca de uma hora, a reportagem não encontrou nenhum segurança, nem viaturas ou agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Dengue
Outro problema que assusta os visitantes é a existência de recipientes e lixos amontoados, que facilitam o acúmulo de água tanto no crematório como no cemitério. “A sorte é que não está chovendo. Mas, mesmo assim, existem muitos mosquitos nessas áreas. Sem falar que pessoas deixam potes com água para os gatos e cachorros que vivem nas unidades. Tenho bastante medo da Dengue quando venho até o cemitério. Eu evito ao máximo vir durante os primeiros meses do ano, porque com a falta de manutenção e o calor, você é picado toda hora. Mas, agora, mesmo perto do meio do ano, estamos vivendo uma epidemia de Dengue, o que me deixa mais assustada por conta desse descaso com as unidades”, comentou Denise Louveira.
Serviço Funerário se pronuncia
Indagado sobre os problemas encontrados no cemitério e no crematório, o Serviço Funerário do Município de São Paulo informou que possui um cronograma de limpeza diário nas unidades, além de apoio constante de empresas terceirizadas para a realização do serviço. Sobre o gradil, o órgão destacou que as telas de arame estão em processo de troca e que há projeto para a reforma dos muros.
Quanto à insegurança encontrada, o Serviço Funerário afirmou que cabe à GCM o patrulhamento diário no cemitério e no crematório, e que em caso de transtornos causados por moradores de rua, pessoas empinando pipas ou usuários de drogas, as administrações das unidades acionam a presença imediata dos guardas metropolitanos para inibir tais atos.
Para finalizar, sobre a possibilidade dos locais servirem como criadouros dos mosquitos transmissores da Dengue, o órgão informou que realiza mutirões frequentemente contra a doença em todos os cemitérios municipais e no crematório, com participação dos servidores, jardineiros, construtores e do Centro de Zoonoses.
A Folha questionou a GCM sobre a falta de segurança nas unidades e aguarda um posicionamento.