Com a justificativa de que a construção seria mais rápida do que a do metrô convencional, o então governador José Serra (PSDB) e o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), ao lado da diretoria da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô, oficializaram o início das obras do monotrilho na Anhaia Mello em novembro de 2009. A obra é do Governo do Estado, sob responsabilidade do Metrô, mas, contou com investimento da Prefeitura que, na época, acabou substituindo o projeto do corredor de ônibus do Fura-fila pelo monotrilho. A primeira justificativa falhou. Com os sucessivos adiamentos de inauguração da Linha 15-Prata do monotrilho, a construção das duas estações da Linha 2-Verde do metrô convencional, inclusive com túneis subterrâneos entre a Tamanduateí e a Vila Prudente, ocorreu em tempo menor do que está durando as obras do transporte por vias elevadas. A outra promessa do Governo do Estado, de que o monotrilho será uma solução para o problema de mobilidade da região, ainda vai levar tempo para ser constatada. Se realmente o trecho de 2,9 km entre as estações Vila Prudente e Oratório começar a funcionar em maio, conforme a previsão do Metrô, será apenas em horários reduzidos, na chamada operação assistida.
O grande atraso cria expectativas na população, não só em relação ao funcionamento e efetividade do transporte, mas, principalmente, pela possibilidade da inauguração amenizar o caótico trânsito da avenida, que teve sua capacidade diminuída com as interdições para as obras. “Ninguém aguenta mais tanto congestionamento na Anhaia Mello. As interdições do monotrilho fizeram com que o trânsito parasse de vez. Será que a escolha do transporte para a região valeu tanto a pena assim? Quase cinco anos de obras e caos na avenida. Vale destacar também que este primeiro trecho a ser inaugurado não servirá para nada. E quando o transporte chegar até o Sapopemba, ele já virá lotado para o São Lucas e Vila Prudente, então não vai diminuir de forma significativa o número de carros. Resta apenas esperar pela liberação das faixas interditadas para ver melhorará a situação de quem precisa passar pela avenida diariamente”, explica o motorista de transporte escolar, Matheus Carvalho.
Outro ponto crítico levantado pela população é o estado de abandono do canteiro central da Anhaia Mello, principalmente entre o trecho da futura estação Oratório até a região do Sapopemba. “Desapropriaram os imóveis para a construção da estação Camilo Haddad e da subestação de energia, mas, até agora, não começaram a construir nada. Aliás, ninguém da obra aparece neste ponto, que está abandonado, com mato alto e cheio de lixo”, comenta a dona de casa Maria Célia.
Quem também reclama do trecho é o dono de um comércio na Anhaia Mello, Alessandro Pappalardo. “Já faz um ano que não mexem no local onde ficará a estação Camilo Haddad. Enquanto isso, o asfalto piora cada vez mais e a sinalização é inexistente, aumentando o risco de acidentes na via”.
Além da parada Camilo Haddad, a avenida contará com mais três estações que não começaram a ser construídas: São Lucas, Vila Tolstoi e Vila União. A falta de funcionários nestes trechos cria um cenário propício para atos de vandalismo. A maioria dos pilares do transporte na região do São Lucas está pichada e é constante o descarte ilegal de lixo e entulho sobre o mato, que está alto. Ao longo da Anhaia Mello também são frequentes os flagrantes de empresas particulares utilizando o canteiro central como estacionamento de caminhões.
Mas não são somente os motoristas e moradores que sofrem com o atraso nas obras. Muitos comércios ao longo da avenida fecharam por conta da diminuição de clientes e o aumento do valor do aluguel. Até mesmo empresas de sucesso, como a churrascaria Boi Brasil, tiveram prejuízos com os trabalhos na Anhaia Mello. “A nossa clientela reduziu consideravelmente. Com a obra e o trânsito, ninguém de outra região se arrisca a vir até a Vila Prudente para almoçar. De noite, a escuridão da avenida também assusta quem pretende jantar na churrascaria. O prejuízo que tivemos foi grande. Para se ter uma ideia, antes do início da construção do transporte, tínhamos 80 funcionários, hoje são apenas com 42”, destaca o gerente da Boi Brasil, Valmor Perondi.
Os constantes congestionamentos também afastaram os clientes das agências de automóveis, comércio dominante na avenida. “Cerca de 50% dos estabelecimentos do ramo fecharam ou foram para outro ponto. O trânsito da Anhaia Mello ficou muito carregado, inclusive aos finais de semana. Além disso, os tapumes da obra acabaram com a visibilidade das lojas. O motorista não consegue enxergar o que tem do outro lado da via. Além disso, o asfalto está destruído”, comenta Josmar Oliveira, que trabalha na loja em frente à estação Oratório.
Questionado sobre a demora no início da construção da estação Camilo Haddad, o Metrô apenas voltou a confirmar que a inauguração da estação, assim como a da Jardim Planalto, ocorrerá até o final deste ano. De acordo com o Governo do Estado, as estações Camilo Haddad e Jardim Planalto serão inauguradas antes da São Lucas, Vila Tolstoi e Vila União, pois, contam com subestações de energia, que são essenciais para o funcionamento do transporte até a avenida Sapopemba.
Descaso
Em março vândalos picharam parte do alto da obra do monotrilho, próximo à futura estação Vila Prudente. Questionado pela Folha, o Metrô informou, há cerca de 15 dias, que a limpeza seria providenciada. Entretanto, na tarde de ontem a pichação continuava no local…