Na manhã do sábado, dia 14, cerca de 500 pessoas deram um abraço simbólico em parte do terreno da antiga fábrica das Linhas Correntes, na avenida do Oratório, no Jardim Independência. O ato foi realizado no trecho que ainda está repleto de árvores e o desejo da comunidade é que o local seja transformado em parque público.
O terreno foi decretado de utilidade pública em 2009, primeiro pelo Governo do Estado que ficou com pouco mais de 90 mil m² da área de 180 mil m² para a construção do pátio Oratório do monotrilho. Já a Prefeitura fez o decreto para implantação de um parque no restante do terreno em dezembro daquele ano. Quatro anos se passaram e o Pátio Oratório deve ser inaugurado no início de 2014, mas, a Prefeitura não se posicionou oficialmente sobre a desapropriação do restante do espaço. O Decreto de Utilidade Pública (DUP) tem prazo de 5 anos. Se a Prefeitura não comprar o terreno até o vencimento, a área volta a ficar à disposição do grupo gaúcho Zaffari, que no passado, tinha projeto de implantar um shopping no local.
Em maio desse ano, em entrevista exclusiva à Folha, o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Ricardo Teixeira (PV), afirmou que não existe projeto certo para o terreno. “Essa área tinha 180 mil m², o Metrô levou metade. Agora tem 89 mil m² sobrando, o que a princípio será parque. Eu digo a princípio porque ainda há controvérsias sobre um parque neste terreno. Vai ter o da Vila Ema, já estamos brigando pelo da Mooca, realmente precisa deste terceiro espaço? Esta Secretaria ainda não chegou a conclusão se continuaremos com o DUP (Decreto de Utilidade Pública) ou não. Podemos levantar ainda se há interesse de outra secretaria, como Habitação, por cauda da proximidade ao monotrilho. Então esse terreno ainda é uma interrogação”, afirmou Teixeira na ocasião.
Justamente por conta da demora e a possibilidade do espaço ser destinado para outra finalidade, a população resolveu se unir e mostrar a sua vontade através do abraço simbólico. “Como tenho comércio na avenida há 22 anos, para mim seria melhor um condomínio no local, significaria mais clientes, mas não podemos pensar em dinheiro nessa hora. Temos que pensar na qualidade de vida e no futuro de nossos filhos e netos. E um parque é garantia de um ar melhor para respirar”, comentou Dirce Nishitani, dona de um mercado de laticínios.
Representantes da terceira idade também participaram do evento, como foi o caso do aposentado Pedro Del Sarto, de 89 anos, que esteve presente em sua cadeira de rodas. “Seria muito bom um parque nesse local. Não podemos perder esse terreno. A comunidade quer uma área verde”, destacou Sarto.
Quem também é a favor do parque é a moradora do Jardim Independência, Toshiko Nagase, de 74 anos. “Tinha tanta árvore bonita nesse terreno e boa parte delas já foram embora com a obra do monotrilho. Temos que lutar para manter as que ficaram. Além disso, um parque é essencial para a qualidade de vida da população”, ressaltou Toshiko.
Durante o ato, que contou com a vereadora Edir Sales (PSD), os presentes fizeram uma oração sob o comando do padre Fabiano Micali, um dos responsáveis pelo evento. “Quem começou essa luta foi o bispo Dom Pedro Luis. Como ele foi encaminhado para o interior de São Paulo, me deixou no comando dessa batalha. A população tem que se mobilizar para não perder uma área verde tão importante”, destacou Micali, que é padre da igreja São Felipe Néri, no Parque São Lucas. O psiquiatra Alceu Giraldi também fez um discurso sobre a importância do verde para a saúde da população.
Na Câmara Municipal corre o Projeto de Lei 566/2013, da vereadora Juliana Cardoso (PT), que reserva a área de quase 90 mil m² para a criação do Parque Municipal Linhas Corrente. Em sua justificativa, a vereadora lembra que, conforme dados oficiais da própria Prefeitura, o distrito do São Lucas possui apenas 2,87 m² de área verde por habitante, enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda como mínimo 12m²/habitante.
A Folha voltou a questionar a Secretaria do Verde sobre o terreno das Linhas Corrente nesta semana e aguarda um posicionamento do órgão.
O local onde se localiza a área verde não pertence ao Parque São Lucas, esta área pertence ao Jardim Independência.