Nesta semana, bairros do São Lucas e de Sapopemba viveram momentos de muita tensão. A guerra não declarada oficialmente entre a polícia e o crime organizado resultou em mortes e ônibus incendiados, além de comércios fechados mais cedo, escolas sem aulas e moradores trancados em casa por causa de supostos toques de recolher.
A onda de violência e medo começou no último final de semana, quando dois homens a pé atiraram em seis pessoas na rua Bernardo de Lima, no Jardim Colorado, na madrugada do domingo, dia 28. A ação deixou duas vítimas fatais. Supostamente em retaliação ao crime, um ônibus foi incendiado no bairro logo pela manhã na rua Caetano do Amaral e outros dois à noite na rua Manuel Ferreira Pires. As vias ficam próximas ao local das mortes. Sobre a ocorrência na Manuel Ferreira Pires, testemunhas afirmaram que os criminosos, todos encapuzados, mandaram os motoristas descerem e atearam fogo aos veículos que ficaram completamente destruídos.
Ainda nas proximidades, na rua Jorge Ogushi, no Jardim Vila Formosa, outro homem foi morto a tiros na madrugada de domingo. Ele foi encontrado já sem vida na via. Quase que simultaneamente ocorreu outro assassinato na rua Espinhel, no Parque Santa Madalena. A vítima foi levada em estado grave ao hospital estadual de Sapopemba, com um tiro na cabeça, e não resistiu. Ainda na mesma madrugada outros dois homens foram baleados na avenida Custódio de Sá e Faria, no Sapopemba. Eles também receberam atendimento no hospital estadual de Sapopemba e um deles faleceu.
Toque de recolher
Os sucessivos casos de violência assustaram moradores e comerciantes da região. Supostos boatos de toques de recolher, já que ninguém soube explicar como começaram, se espalharam rapidamente pelos bairros. Na manhã da segunda-feira, dia 29, escolas públicas do Jardim Colorado dispensaram alunos e professores às pressas. Em uma delas, houve até relato de que os educadores saíram em grupo e com os aventais utilizados em sala de aulas por causa do medo. No final da tarde foi a vez dos comerciantes ficarem amedrontados e vários estabelecimentos da avenida Sapopemba, entre os bairros da Vila Guarani e Jardim Colorado, fecharam as portas mais cedo. A Polícia Militar foi acionada pelos comerciantes e várias viaturas se posicionaram ao longo da via.
Ainda na noite da segunda-feira, uma escola estadual no Parque São Lucas e universidades da região também acabaram dispensando os alunos e professores.
Terça-feira
Na madrugada de terça-feira, dia 30, outro ônibus foi incendiado na região. Criminosos pararam o coletivo, mandaram o motorista, o cobrador e os passageiros descerem e atearam fogo no ônibus. O caso ocorreu na esquina das ruas Palmeiras de Vinho e Curupireira, no Parque Santa Madalena.
Durante o dia, os rumores de supostos toques de recolher se proliferaram novamente pelo Sapopemba e São Lucas. Uma escola municipal no Sapopemba começou a liberar os alunos do período da tarde às 15h e professores também deixaram a unidade assustados. Por voltas das 16h alguns comércios do Parque São Lucas começaram a baixar as portas, assim como escolas de música e idiomas que cancelaram as aulas.
A Folha conversou com comerciantes que mantiveram as portas abertas. “Estou apreensivo, mas não posso fechar minha loja. Dependo disso para viver. Escutei falar de toque de recolher, mas a polícia está por aqui e nos garantiu que são boatos. Alguns vizinhos não arriscaram, preferiram fechar e foram embora”, comentou um comerciante.
“Aparentemente foram comentários que surgiram e causaram tensão entre os comerciantes. Mas está tudo tranquilo. Não tem porque criar pânico. Estamos aqui para garantir a segurança”, informou o capitão Edimar da 4ª Companhia do 21º Batalhão, que estava dando apoio às equipes na região do Sapopemba e do São Lucas.
O 21º Batalhão de Polícia Militar/Metropolitano informou que, diante dos boatos, o comandante intensificou o policiamento nas ruas do bairro para garantir a continuidade dos serviços, do comércio, das escolas, entre outros serviços. A Corporação orienta que, na ocorrência de tais boatos, as pessoas devem coletar o maior número de informações possíveis sobre sua origem e contatar imediatamente a PM pelo telefone 190, podendo solicitar sigilo do nome. Foi ressaltado que não foram registradas ocorrências de mortes e ônibus incendiados na área de atribuição do 21º Batalhão.
A Folha também questionou o 19º Batalhão, responsável pelo patrulhamento nas áreas das mortes e ônibus incendiados, e aguarda um pronunciamento para a próxima edição.