A Revolução Constitucionalista deflagrada no dia 9 de julho de 1932 em São Paulo é considerada como o maior conflito bélico na história brasileira do século 20. Foram mais de 85 mil homens combatendo. De um lado soldados do governo Vargas bem armados e treinados. Do outro, cerca de 35 mil homens defendendo a revolução, sendo que destes, 25 mil voluntários que dispunham tão somente de fuzis ultrapassados e pouquíssima munição. A gênese do conflito está na Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder da República, após a derrubada do presidente em exercício, Washington Luiz e o impedimento da posse de Júlio Prestes, recém eleito, ambos de São Paulo.
Inicialmente Vargas contou com apoio dos paulistas, mas duas ou três nomeações indispuseram-no com a oligarquia cafeeira. Como interventor foi colocado o pernambucano João Alberto Lins de Barros, que teve desastrado mandato a frente do estado de São Paulo. O comando da 2ª Região Militar, foi entregue ao general Izidoro Dias Lopes e para o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo, então denominada Força Pública, foi nomeado o major Miguel Costa. Ambos tinham tentado derrubar o governo paulista na Revolução de 1924. Miguel Costa havia sido expulso da Força Pública. Todo este conjunto de medidas acintosas fez com que as forças políticas paulista (Partido Republicano Paulista e Partido Democrático de São Paulo) se unissem na FUP – Frente Única Paulista, partindo daí o movimento revolucionário. Os paulistas consideravam que seu Estado estava sendo tratado pelo Governo Federal, que se dizia “Provisório”, como terra conquistada.
O estopim da revolta aconteceu no dia 23 de maio de 1932, quando uma multidão enfurecida, clamando contra as injustiças do governo Vargas ique Cardoso. anos de carreira pefeitura precisa ser desburocratizada, tentou empastelar os jornais A Razão e Correio da Tarde, ambos favoráveis às forças federais. No entrevero, acontecido na esquina da Praça da República e Rua Barão de Itapetininga, cinco jovens perderam a vida, quatro deles na hora e um após dois meses hospitalizado.
No dia seguinte em um restaurante do centro foi criado o movimento de oposição denominado MMDC, acrônimo formado pelas iniciais dos nomes dos falecidos: Mário Martins de Almeida (Martins), Euclídes Bueno Miragaia (Miragaia), Dráusio Marcondes de Souza (Dráusio) e Antônio Américo Camargo de Andrade (Camargo). Com a posterior morte de Orlando de Oliveira Alvarenga (Alvarenga) o nome passou a história como MMDCA. O dia 23 de maio é o Dia do Soldado Constitucionalista.
Para contemporizar a situação, Getúlio Vargas marcou eleições para 1933, mas a medida não foi suficiente para acalmar os revoltosos. No dia 9 de julho eclodiu o movimento revolucionário, com os paulistas acreditando que teriam apoio de outros Estados, notadamente Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, o que acabou não acontecendo. O governador do Estado na ocasião era Pedro de Toledo, indicado por Vargas, mas ele tomou posição ao lado dos paulistas. Foi lançada uma proclamação da “Junta revolucionária” conclamando os paulistas a lutarem contra a ditadura. Formavam a Junta Francisco Morato, Antonio Pádua Sales, generais Bertoldo Klingere Isidoro Dias Lopes. O general Euclides Figueiredo assumiu a 2ª Região Militar.
Um clima de ufanismo paulista tomou conta do estado. Alistaram-se mais de 200 mil voluntários, estimando que destes, 60 mil incorporaram-se nas fileiras do exército constitucionalista. Em Vila Prudente quatro jovens inscreveram-se para lutar: César Cerósimo (Che), Carmelo Barbagallo, Marcelo Muller e João Sartorello, que partiu para a cidade de Itapetininga.
O movimento estendeu-se até 2 de outubro de 1932, quando foi derrotado militarmente, deixando um saldo de 634 mortos no lado paulista e cerca de 1000 mortos nas Forças Armadas Brasileiras. Mesmo derrotado, o Movimento de São Paulo teve o mérito de forçar o presidente Getúlio Vargas a marcar a realização de nova constituinte.
No prefácio do livro “1932- Imagens de uma revolução” (Marco Antonio Villa – Imprensa Oficial), o historiador
Boris Fausto se pergunta: “A ‘Guerra Paulista’ seria então, a página vidrada de um velho folhetim?”. Ele mesmo responde: “Nem de longe. Basta lembrar que a democracia como valor básico, continua sendo um requisito essencial da vida na nossa sociedade – um valor que resiste às ameaças veladas ou abertas e que ganha, ao mesmo tempo, conteúdo cada vez mais pluralista, nos dias atuais”.
Parabéns pelo artigo !