Hoje em alta entre os jovens, a função de selecionar e tocar as músicas nas rádios, pistas de danças, festas e danceterias, conhecida como DJ, tornou-se há cerca de cinco anos o ganha pão de Luiz Carlos Esquilante, 55 anos. Mas, diferente de todos os outros profissionais da área, que trabalham para a animação e o agito do público, Luizinho, como é chamado, exerce seu trabalho em um dos momentos mais delicados e de dor na vida das pessoas. Ele é o responsável pelas canções das cerimônias do Crematório Dr. Jayme Augusto Lopes, na Vila Alpina.
“Nunca pensei em ganhar a vida desta maneira. Mas já estou acostumado a realizar o meu serviço”, afirmou Luizinho em entrevista à Folha nesta semana. Funcionário do serviço funerário desde 1979, ele já passou por diversos setores. Chegou a trabalhar como sepultador no cemitério da Penha e no ano de 2000 foi transferido para o Crematório, onde trabalhou como operador de forno. Com o surgimento de uma vaga no setor de áudio do equipamento, Luizinho assumiu a função e afirma ter muito orgulho em exercê-la. “Ao mesmo tempo que é deprimente conviver com a tristeza das pessoas, a minha função está ligada à emoção do último adeus. Momento muito importante”, declara em meio ao seu pequeno ambiente de trabalho: uma sala com cerca de dois metros quadrados, equipada com um computador antigo, alguns aparelhos eletrônicos e um armário com muitos CDs de variados gêneros musicais. É desta sala que Luizinho anuncia o nome do falecido, coloca as músicas a serem tocadas e aciona o botão que faz subir automaticamente o caixão para o centro da sala ecumênica.
Ele explica que as canções entoadas no auditório são escolhidas pelos familiares e, em casos de indecisões, apresenta suas sugestões.
A música “Ave Maria”, na versão do compositor Franz Schubert, está entre as mais pedidas. Depois, em escala de execução, vem “Nossa Senhora”, de Roberto Carlos; “Pai”, de Fábio Júnior; e “Como é Grande o Meu Amor Por Você”, também de Roberto Carlos, entre outras. Um fato curioso é o hino do Corinthians, que está na 8ª colocação entre as músicas mais tocadas. “Somente entre ontem e hoje (terça-feira) já toquei três vezes o hino do Timão”, declarou. O ‘DJ do Crematório’ também não esquece a ocasião em que a família de um falecido pediu para ele tocar a canção “Festa no Apê”, do cantor Latino. “Eles disseram que o homem era bastante alegre e festeiro e merecia esta música, mas como eles e nem nós tínhamos a canção, não pode ser executada”, relembra.
O ritual de Luizinho se repete quase 30 vezes por dia e são entoadas de duas a três canções por cerimônia. Sua jornada de trabalho começa às 7h e costuma terminar quase às 20h. Faltando apenas um ano e meio para a sua aposentadoria, o DJ já pensa no futuro. “Quero descansar a cabeça e mais adiante abrir um chaveiro, mas não sei se a administradora do Crematório irá me deixar sair”, brinca. Com mais de 30 anos dedicados ao serviço funerário, Luizinho casou-se e criou um casal de filhos.
Embora com boa saúde, o DJ já pensa em sua cerimônia fúnebre. “Quando eu morrer quero ser cremado, pois acho mais higiênico”, afirma. Questionado sobre a trilha sonora, Luizinho confirma a razão da boa colocação do hino do Corinthians no ranking da trilha sonora do crematório: “Quero que toquem o hino do Timão”.