O universitário Julio César Alves Espinoza, 24 anos, morreu na última terça-feira, dia 28, baleado na cabeça após ser seu carro ser alvejado por 16 tiros em uma perseguição policial que começou em São Caetano do Sul e terminou em Vila Prudente, na madrugada da segunda-feira, dia 27. Guardas civis do município vizinho e policiais militares do 21º e 46º Batalhões, que participaram da ocorrência, alegam que revidaram os disparos efetuados pelo jovem. O caso gerou muita polêmica e a Corregedoria da Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana do ABC investigam a ação. Os policiais envolvidos foram afastados de suas atividades e as armas usadas na ação foram apreendidas.
De acordo com o boletim de ocorrência de sete páginas registrado no 56º Distrito Policial – Vila Alpina, policiais militares do 46º Batalhão, da região do Ipiranga, suspeitaram do veículo dirigido pelo jovem, um Gol Prata, e passaram a acompanhá-lo à distância. Após consultar os dados do automóvel via Copom, os policiais constataram que o carro estava regular. Mesmo assim, resolveram acionar as sirenes e dar sinal de parada, que não foi respeitado pelo condutor. Foi quando iniciou-se a perseguição pela avenida Presidente Wilson, por volta das 3h da madrugada, prosseguindo posteriormente pelas avenidas Guido Aliberti, em São Caetano do Sul, e dos Estados, já na Vila Prudente.
Consta ainda no boletim de ocorrência que os policiais pediram reforço de outras viaturas e da Guarda Civil de São Caetano. Segundo a versão da PM, quando os guardas civis emparedaram com o veículo na avenida Guido Aliberti aconteceram os primeiros disparos e, na fuga, ao chegar na avenida do Estado, o jovem colidiu contra um muro e atirou algumas vezes contra os policiais, que reagiram. Ainda segundo a versão apresentada no boletim, mesmo após a batida e sendo alvejado por tiros, o motorista conseguiu dar ré e se evadiu pela contramão da avenida do Estado. Neste instante, uma viatura da 4ª Companhia do 21º Batalhão, ao tentar fazer o retorno para prosseguir o acompanhamento, chocou-se de frente com outra viatura. Outros policiais continuaram a perseguição até a rua Forte de São Bartolomeu esquina com a rua Guamiranga, onde Espinoza bateu o carro na cancela de uma empresa.
De acordo com o relato dos policiais, após a segunda colisão, foi visto um clarão dentro do carro e barulhos de tiros, o que motivou o revide. Com o cessar dos tiros, segundo consta no boletim, os policiais se aproximaram do veículo e encontraram Spinoza baleado na cabeça. Foi acionado o resgate do Corpo de Bombeiros, que realizou os primeiros socorros no local e encaminhou a vítima ao hospital estadual de Vila Alpina, onde faleceu no dia seguinte sem conseguir apresentar sua versão dos fatos.
Os policiais que registraram o caso na delegacia apresentaram um revólver calibre 38 que, segundo eles, estava com o jovem. A arma tinha três munições intactas e três deflagradas, o que contraria as afirmações de que Spinoza atirou várias vezes contra os policiais. Os envolvidos também disseram ter encontrado dois papelotes com cocaína sob o banco do motorista.
Segundo pessoas ligadas à família do universitário, na noite de sua morte, Spinoza voltava de um bufê em São Caetano do Sul, onde trabalhava como garçom esporadicamente. Confirmaram ainda que ele tinha medo de ser abordado pela polícia, pois devia R$ 459 em multas por circular em horário de rodízio, e já havia comentado que tentaria fugir.
Para familiares e amigos, a versão apresentada pelos policiais e guardas civis é mentirosa. “O que fizeram foi uma execução. Essa história de arma e drogas é invenção. Foi plantado”, relatou à imprensa o pai do jovem, Julio Ugarte Spinoza, que é boliviano, tem 63 anos e está no Brasil desde 1979.
Julio César Alves Espinoza estava no segundo ano de tecnologia logística na unidade Vila Prudente da Uninove e morava com a família na Vila Califórnia. Ele não tinha antecedentes criminais.