A Vila Prudente parou no final da tarde da última segunda-feira, dia 27. O protesto da comunidade da rua Dianópolis interditou longo trecho da via e parte do viaduto Grande São Paulo, principais acessos de entrada ao bairro, provocando longos congestionamentos. O ato começou por volta das 16h30, quando manifestantes colocaram fogo em caçambas lotadas de lixo. A situação só foi controlada depois das 20h com a Polícia Militar intercedendo com bombas de efeito moral. Os motivos para a manifestação são controversos. Moradores da favela mais antiga da região alegam que policiais vem agindo com muita truculência nas operações ocorridas no local nos últimos dias, inclusive arrombando portas e invadindo casas. Policiais rebatem dizendo que o protesto foi orquestrado por traficantes por causa da grande apreensão de drogas ocorrida três dias antes, na sexta-feira, 24, quando um homem de 23 anos também acabou detido.
A Folha ouviu moradores da comunidade que estão bastante assustados com a situação. Uma senhora, que passou por cirurgia cardíaca recentemente, conta que acordou na madrugada do dia 24, com um policial arrombando a porta da sua moradia. “Fiquei apavorada, meu netinho estava comigo. Ninguém mostrou autorização para invadir a minha casa. A porta continua quebrada, não tenho dinheiro para comprar outra”, conta a mulher que pediu sigilo do nome. “Na segunda-feira foi outro susto, ficamos trancados em casa, quase sufocando por causa das bombas que a polícia jogou no interior da favela. Meu marido teve que me acalmar, pensei que fosse morrer sem ar”, completa.
Outra família conta que também foi acordada de madrugada e os policiais começaram a remexer em armários e até na geladeira, exigindo que apresentassem a nota fiscal de vários produtos.
Há relatos ainda de que, após ouvirem batidas nas portas de suas casas, muitos se depararam com policiais apontando armas. De acordo com as denúncias, essas ações se prolongaram ao longo de toda a semana passada. “A polícia deve fazer o seu trabalho, mas também tem que respeitar a comunidade que vive no local. Duvido que trabalhem da mesma forma num condomínio luxuoso, invadindo a casa de todo mundo”, ressalta um dos ouvidos pela reportagem.
O presidente da Associação dos Amigos da Favela de Vila Prudente, Aparecido Augusta de Souza, afirmou que entende a dificuldade dos policiais de encontrarem o local que procuram pela falta de numeração nas moradias, mas acredita que esse problema não justifica a truculência ocorrida nos últimos dias. “Não tinham mandado judicial para invadirem as casas de trabalhadores, tenho reclamações de várias portas quebradas por arrombamento. A lei existe para ricos e pobres, não é porque vivemos em uma comunidade carente que podem nos tratar com violência e desrespeito”, diz. Ele alega que o protesto de segunda foi organizado para chamar a atenção para a violência policial.
Questionado pela Folha, o 21º Batalhão de Polícia Militar, que responde pelas ações na área da favela, alegou que o protesto na segunda foi motivado pela apreensão de drogas na sexta-feira, dia 24, ocasião em que foram mobilizadas equipes da Força Tática de três batalhões e policiais da 4ª Companhia. A resposta ressalta ainda que na manifestação desta semana, uma pessoa foi detida portando dois coquetéis molotofes.
Sobre as abordagens que vêm ocorrendo na comunidade, o Batalhão respondeu apenas que “nas imediações da comunidade estão sendo realizadas operações com abordagem a veículos e vistoria em pessoas e que as diligências realizadas no interior da Comunidade foram em decorrência a ocorrência de tráfico de drogas”. Não foi mencionado se será aberta sindicância para apurar as denúncias de excessos de poder nas ações.
Apreensão de drogas
No boletim de ocorrência registrado no 56º Distrito Policial – Vila Alpina consta que policiais militares da Força Tática do 21º Batalhão apreenderam grande volume de drogas no interior de um barraco na Favela de Vila Prudente no dia 24.
Conforme consta no documento, ao realizarem patrulhamento pela comunidade, os policiais suspeitaram da atitude de um jovem que, ao ver a viatura policial, correu para uma viela que dá acesso ao interior da favela, arremessando no chão uma mochila que carregava. Segundo os depoimentos da equipe envolvida, o rapaz foi perseguido, sendo detido em seguida. Ao averiguarem a mochila, os policiais encontraram 200 pinos de cocaína, 207 papelotes de maconha e 211 de crack.
Os policiais contam ainda no boletim que, ao indagarem o homem, o mesmo confessou ser “olheiro” do tráfico e indicou o barraco onde eram armazenadas as drogas. No local, encontraram 1357 papelotes de cocaína, 3377 de craque, 1306 troxinhas de maconha, além de balanças de precisão, liquidificadores, peneiras, entre outros acessórios utilizados para a produção das drogas. Foram localizados ainda um celular e R$ 60 em espécie. As substâncias foram encaminhadas à perícia técnica, que constatou a veracidade das drogas. O homem, de 23 anos, também foi levado à delegacia e ficou detido.